playlist Music

domingo, 28 de dezembro de 2025

NIGEL PRICE ORGAN TRIO - LIVE ’23 (Nervy Nigel Records)

A definição de jazz, como uma forma musical específica, foi contestada quase desde o seu início, mas quando a audiência não especialista pensa no jazz, eles geralmente imaginam uma interação que evoluiu na década de 1950 sob um conjunto muito específico de circunstâncias - residências prolongadas em clubes, que permitiram às bandas desenvolver uma sensibilidade coletiva, enquanto improvisavam sobre os padrões modernos da época. Esta cena agora desapareceu em grande parte, mas nós somos afortunados por ainda restar instrumentistas como Nigel Price, que ainda estão hasteando a bandeira das verdades do bop e têm a energia e entusiasmo (e o seguinte) para criar a turnê épica de 43 espetáculos dos quais essas gravações ao vivo são derivadas. É uma raridade hoje em dia ouvir uma banda tão bem tocada, explorando os cantos do repertório padrão com um brio e petulância que vem do comprometimento total necessário para sustentar um nível de execução tão alto durante tantas noites.

Em algumas mãos o formato de trio de órgão pode virar-se para o bombasticamente bidimensional, mas este álbum é uma lição prática sobre como explorar a profundidade de suas possibilidades.

Aqueles que estão familiarizados com a personalidade on-line robusta do Sr. Price e o domínio completo da guitarra pós-Benson pode se surpreender com a contenção e delicadeza com as quais ele traz ‘Morning Star’ para o ritmo arejado e a magistral ‘Spring Can Really Hang You Up The Most’, adicionando uma profundidade harmônica sutil à velocidade e precisão de seu fluxo, enquanto ‘Ain’t Necessarily So’ é autenticamente pegajosa sem cair no clichê. Menção especial deveria ir para Joel Barford por seus intercâmbios infinitamente inventivos, e a forma como ele incorpora sua técnica extensivamente contemporânea tão simpaticamente no formato, e os organistas se destacam no suporte textural, virtuosismo no solo e o importante balanço dos graves. Mas é a banda que é a real estrela: isto é jazz como um desafio coletivo, como foi na era clássica. Há muita música aqui e tudo é bom - melhor relaxar, encher o copo com alguma coisa, e deixe tudo pairar sobre você.

Faixas

1.Morning Star 08:30

2.Falling In Love With Love 10:53

3.You Don’t Know Me 10:55

4.It Ain’t Necessarily So 09:14

5.Sweet 08:59

6.Spring Can Really Hang You Up The Most 09:29

7.Kid Gloves 06:20

8.(Price) - Wet & Dry 12:16

9.Hey, Shirley 08:42

10.Stealing Time 10:25

11.Night Flight 10:05

12.So Do It 08:52

13.Booze Blooze 10:19

Músicos: Nigel Price (guitarrista); Peter Johnstone (órgão); Ross Stanley (órgão); Joel Barford (bateria).

Fonte: Eddie Myer (JazzWise)

 

ANIVERSARIANTES - 28/12

Ben Williams (1984) – baixista,

Bob Cunningham (1934-2017) – baixista,

Caleb Curtis (1985) – saxofonista,

Dan Chmielinski (1993) – baixista,

David Berkman (1958) – pianista,

Daniel Carter (1945) – saxofonista,flautista,clarinetista,

David Berkman (1958) – pianista,

Dick Sudhalter (1938-2008) - cornetista,

Donna Hightower (1926-2013) –vocalista,

Earl Hines (1903-1983) - pianista,

Ed Thigpen (1930) - baterista,

Lonnie Liston Smith (1940) - pianista,

Terrace Martin (1978) – vocalista,multi-instrumentista,

Michel Petrucciani (1962-1999) – pianista,

Moe Koffman (1928-2001) - flautista, saxofonista,

Rebecca Parris (1951-2018) – vocalista,

Rob Reddy (1966) – saxofonista,

Ted Nash (1959) – saxofonista (na foto e vídeo) http://www.youtube.com/watch?v=BvsbUo5xSVs   

 

sábado, 27 de dezembro de 2025

RACHEL THERRIEN - MI HOGAR II

Rachel Therrien é uma compositora e trompetista canadense com uma longa trajetória, embora seu nome possa ser desconhecido para muitos. A jornada musical de Therrien a levou de Rimouski, Quebec, a Havana, Cuba, passando por Nova York e Colômbia. Seu projeto de jazz latino é, no mínimo, fascinante, e provavelmente merece um nome como jazz latino de vanguarda, embora rótulos inevitavelmente só confundam as coisas. Escute com muita atenção, porque se Jerry Gonzalez, Freddie Hubbard e Chicago parecem passear por esta gravação, bem, eles passeiam mesmo. Se um ouvinte é viciado em contagem e sutilezas rítmicas, existe, sim, uma clave, pelo menos às vezes, mesmo que Therrien e seus companheiros de banda não estejam ensaiando o óbvio. Therrien é uma instrumentista e intérprete extraordinária, independentemente de rótulos e convenções. “Mi Hogar II” é uma produção excepcionalmente interessante, que recompensa a escuta atenta que exige.

Therrien não é exatamente uma novata e certamente não é um sucesso da noite para o dia. Ela grava pelo menos desde 2011, tendo trilhado o caminho das big bands com a The DIVA Jazz Orchestra e se aventurado pelas margens mais selvagens da Cuba pós-Fidel (Therrien chegou a compor uma música em homenagem à revolucionária cubana de 1959, Haydée Santamaría). “Mi Hogar II” começa, de forma um tanto enganosa, com uma peça chamada "Fiestas Campesinas", aparentemente uma sonata romântica de 32 compassos para piano, apenas para mergulhar abruptamente em um território de hard bop, com Therrien executando casualmente um solo áspero, que deixa o ouvinte momentaneamente atônito tanto com sua técnica quanto com sua inventividade. Devia ser alguma festa lá no campo, o que às vezes acontece. Therrien pinta um quadro digno de Pedro Páramo ou de algum outro romance do boom da literatura de realismo mágico na América Latina, o que leva o leitor a se perguntar: "O que acabou de acontecer?". "Orun" prossegue em um ritmo mais lento, construído em torno de uma figura repetida, que se abre em uma suntuosa excursão de trompete de tom amplo, fechando-se em torno da mesma figura. "Back Home" é uma composição de Therrien que, segundo ela, "captura a essência dessa música [o jazz latino de Nova Orleans], ao mesmo tempo que celebra sua evolução contínua" desde Nova Orleans e além. "Sueños de Cambios" é uma balada com flügelhorn e Elizabeth Rodriguez no violino. "Mambo Chucho Influenciado" é uma peça polirrítmica com Therrien executando linhas de violino no trompete sobre um montuno (NT: padrão rítmico repetitivo e sincopado, tipicamente de dois compassos, usado em música cubana e caribenha, como na salsa), "misturando ritmos latinos tradicionais com elementos de jazz contemporâneo". É uma verdadeira demonstração de virtuosismo, assim como a parte vocal em "Beauty Free" que, em seu refrão, proclama "busco la libertad" (busco a liberdade).

E isto resume admiravelmente a gravação: ela se liberta das amarras e clichês usuais de estilo, gênero ou tradição, mantendo-se inconfundivelmente jazz latino. A produção é um deleite em todos os níveis, dos arranjos às composições.

Faixas: Fiestas Campesinas; Orun; Back Home; Sueños de Cambio; Soucy; Mambo 'Chucho' Influenciado; Beauty Free.

Músicos: Rachel Therrien (trompete); Michel Medrano Brindis (bateria); Manuel Valera (piano); Danae Olano (piano); John Benitez (baixo); Roberto Riveron (baixo); Alex Bellegarde (baixo acústico); Keisel Jimenez (congas); Magdelys Savigne (percussão); Diomer González (congas); Elizabeth Rodriguez (violino); Ivan Renta (saxofone); Rafi Malkiel (trombone); Nestor Rodriguez (saxofone); Willy Soto Barreto (piano); Andy Rubal (piano); Luis Izquierdo (baixo); Carlos Maldonado (percussão); Lazaro Martinez (congas).

Fonte: Richard J Salvucci (AllAboutJazz) 

 

ANIVERSARIANTES - 27/12

Bill Crow (1927) - baixista,

Bunk Johnson (1889-1949) - trompetista,

David Hughes (1971) - baixista,

Demian Cabaud  (1977) – baixista,

Johnny Frigo (1916-2007) - violinista,

Ken Filiano (1952) – baixista,

Maurício Tapajós (1943-1995) – vocalista,

Pablo Held (1986) – pianista,

Tivon Pennicott (1985) – saxofonista,

T.S. Monk (1949) – baterista(na foto e vídeo) http://www.dailymotion.com/video/xdxx8b_t-s-monk-at-museum-of-the-city-of-n_music,

Tony Deangelis (1969) – baterista,

Walter Norris (1931-2011) - pianista 

 

sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

IVO PERELMAN, GABBY FLUKE-MOGUL - DUOLOGUES 2: JOY (Ibeji)

O saxofonista tenor Ivo Perelman é um dos improvisadores contemporâneos mais talentosos. O tamanho de sua produção só é rivalizado pela extensão de sua imaginação. O violinista Gabby Fluke-Mogul é um inovador intrépido que, em apenas alguns anos, estabeleceu-se como uma força a ser enfrentada. Ambos os artistas prosperam em duetos, então seu conjunto espontâneo Joy, o segundo volume da série Duologues de Perelman, é perfeitamente coeso e bastante estimulante.

Esta suíte de nove partes começa com trocas curtas que oscilam entre si. Os músicos permanecem nos registros mais agudos de seus instrumentos. O diálogo torna-se cada vez mais dissonante, mas o ambiente permanece pastoral. Fluke-Mogul contrapõe o tenor lamentoso de Perelman com seus toques em pizzicato, resultando em um contraste sonoro intrigante. "One" conclui com uma nota tumultuada.

Na segunda faixa, o violino de Fluke-Mogul tem melancolia folclórica, enquanto o tenor de Perelman é contemplativo e sombrio. As reflexões paralelas terminam em um clímax emocionante, composto por uma mistura de gritos agudos de tenor e cordas percutidas. Em contraste, "Three" inicia com o zumbido melancólico de Fluke-Mogul, sobre o qual Perelman tece uma serenata sinuosa e insinuante. Em resposta à improvisação lânguida, mas apaixonada, do saxofonista, o violinista toca frases ondulantes com toques de lirismo oriental.

Esse tipo de sinergia emocionante, onde um artista antecipa o outro e desenvolve suas ideias, abunda em todo o álbum. De fato, esse tipo de dinamismo dá à música sua urgência e organicidade. Isto o torna uma entidade viva e respirante. Por instante, em "Seven", Perelman baseia-se nos tons queixosos de Fluke-Mogul com versos breves e tristes. O violinista, por sua vez, apoia o tenor reflexivo de Perelman com seu violino vibrante. Em seguida, o par se envolve brevemente em uma réplica angular semelhante a uma marcha que é simultaneamente exuberante e introspectiva. Lentamente, a conversação assume toques de blues, com fragmentos melódicos que lembram o jazz antigo.

Como o título sugere, este é, em geral, um encontro comemorativo e edificante de mentes. Perelman, uniformemente, cria improvisações brilhantes conforme ele é um vigoroso incansável em ação. Fluke-Mogul, mais jovem, pleno de talento e sofisticação, acompanha habilmente o saxofonista experiente. O resultado é uma joia criativa, que exige e recompensa uma escuta atenta.

Faixas: One; Two; Three; Four; Five; Six; Seven; Eight; Nine.

Músicos: Ivo Perelman (saxofone tenor); Gabby Fluke-Mogul (violino).

Fonte: Hrayr Attarian (AllAboutJazz)

 

ANIVERSARIANTES - 26/12

Billy Bean (1933) - guitarrista,

Belden Bullock (1957) – baixista,

Butch Ballard (1917) - baterista,

Chihiro Yamanaka (1974) – pianista,

Chris Weigers (1957) - baixista,

George Porter Jr. (1947) – baixista,

George Winston (1949-2023) – pianista,

Guy Barker (1957) - trompetista,

John Scofield (1951) – guitarrista(na foto e vídeo) http://www.youtube.com/watch?v=ler4KKEcHDY,

Monty Budwig (1929-1992) - baixista 

 

quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

MAHAKALA MUSIC – MURMURATION (Mahakala Music)

"Pássaros da costa leste encontram pássaros do meio-oeste", diz a descrição da Mahakala Music para o lançamento mais recente do saxofonista Dave Sewelson. O próprio Sewelson é um fenômeno das duas costas: nascido em Oakland, e depois migrando para a cena de Nova York por volta de 1977. Assim como seu frequente colaborador e líder de banda, William Parker, ele atua como um centro magnético que atrai uma variedade de artistas locais e internacionais. A formação do “Murmuration” é composta por outra nova-iorquina, a violinista Gabby Fluke-Mogul, e três músicos de Minneapolis: o baixista Anthony Cox, o baterista Steve Hirsh e o saxofonista alto George Cartwright. O álbum reflete essa diversidade geográfica, mas não da maneira que um ouvinte poderia esperar. A técnica de Sewelson não busca a unidade de muitas partes voando como uma só, mas sim uma saraivada abrasiva e excitada, como um bando de pássaros disputando uma presa fresca.

Existem diversas abordagens ao free jazz que acentuam uma espécie de desordem geométrica, não apenas arrítmica, mas ativamente desorientadora para a percepção espacial do ouvinte. Muito poucos, pelo menos em 2025, são tão livres no sentido individual quanto Sewelson. A primeira faixa, "Thieving Magpies", começa com um solo de Cox, que consiste principalmente em dedilhados esporádicos, gritos agudos e grasnidos, presumivelmente deixando para os outros músicos a tarefa de preencher gradualmente o som. Em vez disso, a maioria parece se ater às margens, mas Fluke-Mogul talvez aprofunde a reflexão de Cox com um trabalho de arco magistral, mas de forma quase enganosa, à medida que curvas acentuadas a conduzem a uma trajetória única. Hirsh também desestabiliza sua execução com interrupções, enquanto o canto arrebatador de Sewelson desestabiliza o que já é uma formação entrópica.

As seis primeiras faixas sustentam e complexificam a estranha dança sinuosa do disco, principalmente em rajadas de dois a cinco minutos. Os grasnidos e gorjeios de Cartwright e Sewelson dramatizam e suavizam a cena. Mais do que a liberdade indescritível do céu, os ouvintes são lançados em uma caverna noturna, completamente escura, onde sussurros laboriosos e rugidos graves assombram cada movimento, e a ecolocalização continua a falhar. É difícil justificar tamanha ferocidade indescritível para o público, ainda mais quando ela compõe dois terços do álbum. Mas aqueles que perseverarem, que se permitirem a sua insatisfação, descobrirão que seus ouvidos estão notavelmente sintonizados com as experiências sonoras, especialmente as de Cox e Fluke-Mogul, preparando-se, de certa forma, para as três peças finais. A faixa-título não só entrega a energia instrumental prometida ao longo da obra, como também nos permite prestar muita atenção aos detalhes, mesmo nas margens mais sutis. Sewelson e Cartwright estão prontos para se soltar e fazer vibrar os rangidos leves da seção de cordas. Hirsh balança e salta ao ritmo dos arrulhos de Cartwright e, pela primeira vez, começamos a ouvir uma "imagem" coerente se formando. A faixa de encerramento, "Peripheral Wonder", tem o efeito de levantar a cortina, finalmente lançando luz nos recessos escuros da caverna, com os dedilhados de Cox como as cristas de estalagmites afiadas pairando acima. Sewelson, tanto como líder quanto como intérprete, sempre se esforça para reconfigurar a liberdade na improvisação livre. No caso de “Murmuration”, trata-se da liberdade de ocultar, frustrar e desorientar, e, finalmente, revelar. Embora o disco seja uma das experiências mais exigentes do free jazz moderno, ele se torna ainda mais gratificante para o ouvinte paciente. “Murmuration” proporciona um prazer raro na era moderna: uma paisagem sonora genuinamente misteriosa, sem categoria, em constante transformação como o vento.

Faixas: Thieving Magpies; Blackout; Mississippi Flyway; Out Of Here; Oceanic Blues; Dream State; Murmuration; Warbling Universes; Peripheral Wonder.

Músicos: Dave Sewelson (saxofone barítono); George Cartwright (saxofone,guitarra); Gabby Fluke-Mogul (violino); Steve Hirsh (bateria); Anthony Cox (baixo acústico);

Fonte: Fran Kursztejn (AllAboutJazz)