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domingo, 1 de dezembro de 2024

MARC COPLAND QUARTET – SOMEDAY (InnerVoiceJazz)

Marc Copland é um saxofonista que encontrou seu instrumento, artisticamente confinante, com o propósito de expressar sua visão. Assim, ele invocou seu treinamento de piano na infância (as memórias sinápticas intactas) para fazer a passagem para o teclado. Os resultados têm sido mágicos. Sua arte com os anos 88 perde apenas para o final de Bill Evans, e um argumento para sua superação de Evans poderia ser feito. Sua discografia ostenta mais que quarenta álbuns como líder, iniciando em 1988 com “My Foolish Heart (JazzCity)”, mas seu perfil cresceu acentuadamente, quando ele se conectou com a Pirouet Records, no lançamento em trio, “Some Love Songs (2005)” e seu tríptico de álbuns do New York Trio para o selo: “Vol.1 Modinha (2006)”, “Vol. 2 Voices (2007)” e “Vol. 3 Night Whispers (2009)”, com as cadeiras embaralhadas de estelares companheiros de trio.

O resultado final: Marc Copland é provavelmente melhor conhecido por seus trabalhos em trio. Com a possível exceção de Bill Evans, ninguém tem consistentemente trabalhado com tal requinte e sucesso, com um hábil toque sutil e profunda harmonia, e criou uma beleza estonteante.

Porém, o trabalho de Copland como instrumentista de sopro não deve ser esquecido. Os trompetistas Ralph Alessi, Randy Brecker e Tim Hagan, tão bem quanto os saxofonistas Greg Osby e Dave Liebman, contribuíram com sua capacidade artística para as gravações de Copland. Agora, com “Someday”, Copland recruta o saxofonista Robin Verheyen, em uma excursão do quarteto, que inclui o veterano baixista Drew Gress e o baterista Mark Ferber. Considerando os lançamentos previamente mencionados pela Pirouet, isto é menos identificável como um caso de todas as estrelas. O baterista Ferber e o saxofonista Verheyan não têm os perfis sofisticados de companheiros de gravações anteriores de Copland como o baixista Gary Peacock ou o guitarrista John Abercrombie ou o baterista Paul Motian. Mas todos os três estão presos na visão de Copland de como as coisas devem soar—a elasticidade da melodia, fluida espontaneidade, o gosto pelas surpresas e o abraço da beleza. O resultado: um dos mais finos trabalhos de Copland e certamente seu melhor lançamento em quarteto até esta data.

O disco inicia com a familiar "Someday My Prince Will Come". Copland entra na melodia como se fosse algo sagrado. Verhetyan o segue lá, abrindo as portas da igreja para Gress e Ferber, que se junta na criação de oração de quatro vias, sussurrada e reverente. A inédita de Copland "Spinning Things" segue apresentando interação nervosa de quatro vias. O trabalho de bateria de Ferber inclina-se para o pouco ortodoxo, com uma abordagem que traz Paul Motian e Jon Christensen à mente. O solo de Copland flutua como uma nuvem. Seu toque aqui não é afetado pela gravidade, é delicado e fluente, mais leve que o ar, como sempre em seus projetos solos —o maravilhoso “Nightfall (InnerVoiceJazz, 2017)” e o deslumbrante “John (Illusions Mirage, 2020)”.

"Dukish" foi composta por Verheyen. É um tributo a Duke Ellington, com o autor soprando em altos registros no saxofone tenor sax com um toque suave, assumindo a cadeira do saxofonista alto Johnny Hodges em um arranjo solto.

Incluiu também mais dois standards—"Let's Cool One" de Thelonious Monk, que soa como se  fosse muito divertido tocar, e o encerramento, "Nardis" de Miles Davis, com Verheyen trazendo Ben Webster à mente.

O teclado que abre a porta para este álbum bem-vindo ao status de melhor trabalho do quarteto de Copland: a flexibilidade e compatibilidade de Gress, Verheyan e Ferber com conceito há muito estabelecido de beleza refinada com melodias memoráveis de Copland incorporadas em ondas de profundidade harmônica com suas imersões secundárias na magia do líder.

A música é mágica nas mãos deste grupo, e Marc Copland é o mestre mágico.

Faixas: Someday My Prince Will Come; Spinning Things; Dukish; Let's Cool One; Round She Goes; Encore; Day And Night; Nardis.

Músicos: Marc Copland: piano; Robin Verheyen: saxofone; Drew Gress: baixo; Mark Ferber: bateria.

Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=fKTONzc4EWQ

Fonte: Dan McClenaghan (AllAboutJazz) 

 

ANIVERSARIANTES - 01/12

Armen Donelian (1950) – pianista,

Bia Mestrinér (1956) – vocalista,

Carlos Garnett (1938) - saxofonista,

Chantal Chamberland (1965) - vocalista,

Greg Murphy (1959) – pianista,

Hadley Caliman (1932-2010) – saxofonista,

Jaco Pastorius (1951-1987) – baixista (na foto e vídeo) http://www.youtube.com/watch?v=JXOnhzoC-i8,

Jimmy Lyons (1933-1986) - saxofonista,

John Bunch (1921-2010) - pianista,

Lou Rawls (1935-2006) – vocalista,

Lurlean Hunter (1928-1983) – vocalista,

Mika Pohjola (1971) - pianista,

Sérgio Dias (1951) – guitarrista,vocalista,

Ted Brown (1927) saxofonista,

Woody Allen (1935) - clarinetista 
 

sábado, 30 de novembro de 2024

KiMiKus - MODUS NOVOS (Edição de autor)

Kiko Pereira e Miguel Ângelo são há muito figuras centrais do jazz nacional, sobretudo focados na fervilhante cena do Porto. Depois de múltiplos projetos individuais, decidiriam formar o duo KiMiKus, em que assumem alter egos: Miguel Ângelo – ele próprio licenciado em Informática e Matemática Aplicada – é o Prof. Mikelius e Kiko Pereira o Dr. K. Acabam de lançar o seu álbum de estreia, “Modus Novos”. Neste álbum, começa por explicar Miguel Ângelo à jazz.pt, «convivem harmoniosamente canções, improvisação, experimentação e uma variedade de géneros musicais. Representa mais um passo no meu processo de busca, criação e desenvolvimento pessoal e musical.» Também para Kiko Pereira, «este álbum oferece uma perspectiva diferente da “voz” em comparação com os demais, é uma experiência musical que nos leva para além do comum.» Este projeto surgiu de um desafio que se transformou num encontro e depois numa natural convergência de vontades. «A nossa ligação remonta ao século passado, com uma história de encontros e desencontros ao longo do tempo. Este é o nosso primeiro projeto junto, algo que parece incrível, considerando a nossa amizade de longa data», conta o contrabaixista. O cantor também faz um balanço de um trajeto com muitos pontos de contato: «Apesar de sermos amigos há muitos anos, este é o nosso primeiro projeto conjunto, o que parece um tanto contraditório, dado que partilhamos um percurso paralelo no mundo da arte, nos estudos e nas nossas carreiras.» O destino quis que se encontrassem no espaço Maus Hábitos, no Porto, onde a «KiMiKa entre nós se iniciou e as faíscas criativas nunca mais cessaram».

Há muito que conhecemos a abordagem de Miguel Ângelo. Notável improvisador, o seu contrabaixo é complexo e profundo, mas ao mesmo tempo dotado de capacidades que vão muito além de mero suporte rítmico, vertidas em álbuns do seu quarteto, como “Branco” (2013), “A Vida de X” (2016) e “A Dança dos Desastrados” (2021), do trio MAU (“Utopia”, de 2019) ou a solo no excelente “I think I´m going to eat dessert” editado pela Creative Sources em 2017. Nascido nos Estados Unidos, em Newark, Nova Jérsia, Kiko Pereira é dos mais reconhecidos cantores do panorama nacional do jazz e blues. O seu primeiro disco, “Raw”, data do já longínquo ano de 2003. Em 2012, lançou “L’USA” com o projeto Kiko & the Jazz Refugees. Com os Kite, formados em 2016, editou o álbum “Hamsa”, e em 2020 o seu disco mais recente, “Threadbare”. À voz, de largo espectro, junta um exímio domínio do palco. “Modus Novos” é uma proposta diferente, mas com bastantes pontos de contato com o trabalho prévio de ambos. Todos os sons são apenas de voz e contrabaixo, por vezes processados e ou manipulados.  Miguel Ângelo aborda o processo criativo empreendido em “Modus Novos”, também ele singular, porque «foi sendo construído, guiado pelas músicas.» «Algumas ideias eram minhas e que andava a amadurecer e o Kiko trouxe algumas soluções melódicas que as complementavam.» Para Kiko, «foram importantes os contributos do concerto improvisado no Maus Hábitos de onde retiramos muitas ideias e até letras que forma surgindo naturalmente. Não houve um processo de composição formal.» Tentaram manter esse formato nos concertos, onde existe uma linha orientadora, mas que por vezes é subvertida, modificada ou mesmo abolida. Para a música que agora propõem convergem influências diversas, de elementos clássicos do jazz, a texturas contemporâneas, indie experimental, pop e spoken word. «Não impusemos qualquer tipo de restrições; aliás, essa é uma das linhas mestras do nosso trabalho – sem complexos, sem barreiras ou restrições estéticas», diz Miguel Ângelo. Para o cantor, «o álbum é uma expressão do que fomos acumulando ao longo das nossas vidas, como ouvintes, intérpretes e exploradores musicais.» «Abandonar esse conhecimento adquirido seria rendermo-nos à banalidade, e isso é algo que queremos evitar a todo custo», acrescenta. Apesar desta diversidade estética e temática, existe um conceito aglutinador, um «fio condutor», que para Miguel Ângelo surge naturalmente, como resultado da «sinceridade e comprometimento» colocadas no processo. «Esse caminho estava lá, invisível inicialmente, mas foi revelado a cada passo. Primeiro veio o encontro, depois a música, em seguida a identidade que é KiMiKus, depois a imagem, a narrativa e finalmente a ilustração que materializa essa jornada», reforça Kiko. A música que apresentam é ilustrada com uma mini história em forma de banda desenhada, criada com as fotos de Anabela Trindade e os desenhos de Yasmin Machado sobre textos de Kiko Pereira.

“Para Nóias” traz uma atmosfera planante sobre base eletrônica, contrabaixo fluido, num arranjo onde a complexidade surge disfarçada de simplicidade com um refrão pop, mas com uma intenção transformadora que é revelada no final: «Cada dia é um a menos». Piscar de olhos a Frank Zappa e ao seu Central Scrutinizer, o blues assertivo de “Jazz Police”, com a sua potente linha de contrabaixo, é quase um tema de intervenção social e musical, muito a propósito dos 50 anos de Abril, abordando a necessidade de controle e de padronização, que serve tanto para o jazz como para tudo o resto (conhecemos alguns membros da força): «Hey I got the Jazz police on my back / They’ll never catch me that’s a fact / I’ll never change my act / ‘cause I don’t fit the mold.» Uma versão surpreendente de “Telepatia” (música de Nuno Rodrigues e letra de Ana Zanatti) transporta a canção popularizada por Lara Li no início dos anos oitenta para um outro plano. “Lazy (Not Your Song)”, um dos pináculos do álbum, é um blues em crescendo, introduzido por um motivo proposto pelo corpulento cordofone (que Kiko logo associou a um tema de Eric Mingus), a que se junta a voz sempre expressiva, num diálogo em evolução permanente que aborda a forma como algumas pessoas classificam outras ou justificam a falta de “sucesso” com base na falta de ambição, empenho e trabalho, o que nem sempre é verdade. Os contornos mais exploratórios de “Jazz is Dying (Slowly)", com texto de Kiko, cáustico e atento à realidade («Let it scream and holler and have a voice again! Make Jazz Great Again! / Make Jazz Good Again, / Make Jazz Jazz Again. / Jazz is dying slowly, do you feel alive? »). Ângelo recorre pontualmente ao arco, deambulando como que a ilustrar o texto, mas também como metáfora de uma busca de si próprio. A serenidade aconchegante de “Arinto” (repescado ao álbum “Utopia” do trio MAU), mostra Kiko próximo de um Kurt Elling e é o único tema sem letra, com bela a melodia a atapetar com graça o movimento do tema sem necessidade de outro elemento narrativo. Da babel sonora, com vozes e outros sons inquietantes, emerge uma lindíssima “Lullaby” (introduzida por sons de piano de iPhone), tema do álbum a solo de Miguel Ângelo, que reclamava palavras, e que aqui surge transformada num diálogo umbilical entre voz e contrabaixo. A espaços deveras surpreendente, “Modus Novos” é um álbum que acrescenta pontos significativos ao pecúlio já rico de Miguel Ângelo e Kiko Pereira.

Faixas

1.Para Nóias 04:44

2.Jazz Police 04:40

3.Telepatia 06:42

4.Lazy/Not your song 05:41

5.Jazz is dying (slowly) 06:27

6.Arinto 05:16

7.Lullaby 03:41

 Músicos: Miguel Ângelo— contrabaixo, loops e efeitos; Kiko Pereira— voz e efeitos

Fonte: António Branco (jazz.pt)

 

ANIVERSARIANTES - 30/11

Duane Andrews (1972) - guitarrista,

Jack Sheldon (1931) - trompetista,vocalista (na foto e vídeo) http://www.youtube.com/watch?v=A13HYqZuF5c,

Stan Sulzman (1948) – saxofonista,

Stefano Bedetti (1973) – flautista,

Sylvie Curvoisier (1968) - pianista

 

 

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

ADAM BALDYCH AND LESZEK MOZDZER - PASSACAGLIA

Dois dos músicos mais talentosos da Polônia, unidos pela arte da improvisação espontânea, criam aqui o seu próprio gênero musical para criar o seu próprio espaço.

Em vez de ficar limitado pelos termos jazz e música clássica, eles mergulham com espírito de investigação e não pouca aventura para ver onde eles vão parar. O resultado é um álbum em duo de música de câmara improvisada que, se fosse manuscrita, nunca alcançaria a facilidade de execução, a espontaneidade de expressão e a invenção envolvente aqui expostas. Monotonia da entonação é evitada pelo uso de três pianos de Możdżer – um grande afinado em 442 Hz, outro em 432 Hz e um vertical preparado, enquanto Bałdych usa violino e violino renascentista (uma tonalidade mais profunda, mais próxima de uma viola), e alterna entre arco e dedilhado – ou técnica em pizzicato.

Dos 15 duetos, todos, exceto três, são creditados a Bałdych ou a Możdżer, ou a ambos. ‘Gymnopdie’ inicia com ‘Gymnopdie No. 1’ de Erik Satie, cujos limites melódicos são artisticamente empurrados de um lado para o outro. Hildegard von Bingen, a polímata abadessa beneditina, que viveu na Idade Média, é hoje a compositora de monofonia sagrada mais gravada e está representada com uma interpretação perfeita de ‘O Ignee Spiritus’ e Josquin des Prez, o compositor renascentista de ‘La exploration sur la more d’Ockeghem’, que conclui este recital magistral. Se é jazz ou não, não parece importar, é música para amantes da música, que incluem os seguidores do jazz.

Faixas

1 Passacaglia (Adam Bałdych & Leszek Możdżer)

2 Jadzia (Adam Bałdych)

3 Moon (Adam Bałdych)

4 December (Adam Bałdych)

5 Gymnopedie (Erik Satie)

6 Polydilemma (Leszek Możdżer)

7 Le Pearl (Leszek Możdżer)

8 January (Adam Bałdych)

9 Beyond Horizon (Adam Bałdych & Leszek Możdżer)

10 Saltare (Adam Bałdych)

11 Circumscriptions (Adam Bałdych & Leszek Możdżer)

12 Resonance (Adam Bałdych & Leszek Możdżer)

13 Aurora (Adam Bałdych)

14 O ignee Spiritus (Hildegard von Bingen)

15 La deploration sur la mort d’Ockeghem (Josquin des Prez)

Músicos: Adam Bałdych (violino, violino da renascença); Leszek Możdżer (piano).

Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=v7bxfbaXQuY

Fonte: Stuart Nicholson (JazzWise)

 

ANIVERSARIANTES - 29/11

Adam Nussbaum (1955) – baterista,

Billy Hart (1940) - baterista,

Billy Strayhorn (1915-1967) – pianista (na foto e vídeo) http://www.youtube.com/watch?v=K7bGtR_ETJE,

Chuck Mangione (1940)  - trompetista, flugelhornista,

Darryl Alexander Sr. (1956) - baterista,

David Shaich (1954) – baixista,

Dr. Michael White  (1954) - clarinetista,

Ed Bickert (1932-2019) - guitarrista,

Eliete Negreiros (1951) – vocalista,

Jim Massoth (1957) – saxofonista,

Sérgio Souto(1950-2014) – saxofonista,flautista 

 

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

JULIE SASSOON - INSIDE COLOURS LIVE (Jazzwerkstatt)

Derramando iluminações calorosas em todos os nossos momentos frágeis, secretos e sensuais, este é o axioma subjacente por trás da música vulnerável e reveladora da pianista/compositora britânica Julie Sassoon. Uma classicista de coração que, esteja ela ciente disso ou não, aborda sua música da mesma maneira que Marilyn Crispell—visceral, pessoal, labiríntica, mas, em última análise, acessível — o senso do improvável e do possível de Sassoon não domina tanto as apresentações ao vivo que compõem “Inside Colours Live” já que eles dão luz verde para que ambos ocorram simultaneamente.

Um compositor engenhoso com um currículo que inclui Ingrid Laubrock, Andreas Willers e Willi Kellers Sassoon, instrui e constrói “Inside Colours Live” em um conjunto de 2 CDs totalmente realizado, exemplificando sua abordagem conceitual e conversacional. "Clouds" é mais bela passagem que inicia as coisas tranquilamente. Uma faixa expansiva de nuvens cirros se mistura ao movimento dos cúmulos iluminados pelo sol . . .  Há nuvens de tempestade, é claro, mas a fúria delas é breve. Acostumado ao minimalismo dramático do pianista e construções abertas —o duo ter a atenção extasiada do ouvinte antes, notavelmente o esforço do quarteto em “Voyages (Jazzwerkstatt)2022” e a gravação em trio de “Azilut! (Babel)” em 2000 com o baterista Bart van Helsdingen—o saxofonista Lothar Ohlmeier, seus tons ao mesmo tempo sonoros, cáusticos e reflexivos, refletem e convocam. Ele acena dentro da sonata "To Be". Ele vibra e dá vida aos contornos sísmicos da suíte estilo Bach "This One's A Boy". Os depoimentos fascinantes "Coming Home" e "Land of Shadows" inspiraram e construíram sobre o espaço de riffs (NT: sequência de notas, acordes ou intervalos musicais que se repetem na música, formando a base ou acompanhamento) e a lógica austera de Steve Reich e Phillip Glass acalmam e hipnotizam.

O Disco Dois de “Inside Colours Live” adiciona a filha, Mia Ohlmeier, na cadeira de baterista, e "Shifting" entra em foco. Baseado no lirismo inato de Sassoon, a forma da música muda e amplia. Revisitando diversas composições do Disco Um, o trio traz nova faísca, uma nova luz. Temas retornam ("Shifting", "To Be", a explosiva "Coming Home") mas nunca são mantidos por tempo suficiente para se tornarem sérios ou previsíveis ou muito parecidos com a versão dupla anterior. A jovem Ohlmeier se mantém firme, emprestando uma voz mais crua e roqueira. A cataclísmica "Expectations" (com toda a unidade familiar presa a algo maior que a música e o palco) encerra “Inside Colours Live”, fazendo o álbum, ao contrário de tantos passeios em família que resultam em rolagens de destruição ou brigas familiares, uma audição rica e fascinante.

Faixas: CD 1: Cloud; To Be; This One's A Boy; Shifting; Coming Home; Land Of Shadows; Baghdad Cafe; Somnia In B-Flat. CD2: Shifting; To Be; Coming Home; Land Of Shadows; Expectations.

Músicos: Julie Sassoon (piano); Lothar Ohlmeier (saxofone tenor); Mia Ohlmeier (bateria).

Fonte: Mike Jurkovic (AllAboutJazz)