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segunda-feira, 18 de março de 2024

BRÖTZMANN / NILSSEN-LOVE - CHICKEN SHIT BINGO (Trost Records)

Nós perdemos Peter Brötzmann no verão de 2023. O saxofonista e campeão do free jazz faleceu aos 82 anos. Pode não haver mais aparições ao vivo do grande homem, mas haverá lançamentos póstumos. Esperançosamente, tudo será tão animado e atraente quanto Chicken Shit Bingo, uma dupla com o baterista norueguês Paal Nilssen-Love. A dupla trabalhou juntos em grupos como no amplo Chicago Tentet de Brötzmann, em trio e quarteto. Entretanto, é excursões em duo e gravações, “Sweet Sweat (Smalltown Superjazzz, 2008)”, “Woodcuts (Smalltown Superjazzz, 2010)” e os lançamentos difíceis de encontrar no selo BRÖ de Brötzmann, “A Fish Stinks From The Head (2013)” e “Levontin 7 (2017)”, que estabelecem esta dupla como uma voz dominante no free jazz.

Enquanto os outros lançamentos de Brötzmann e Nilssen-Love são de concertos ao vivo, “Chicken Shit Bingo” foi capturado em um estúdio na Antuérpia em 2015. Os músicos tiveram tempo e oportunidade para gravar no ritmo escolhido. Junte isso à inclusão do clarinete contra-alto por Brötzmann, um novo instrumento em seu arsenal. Ele opta, aqui, pela ressonância profunda dos seus instrumentos, como o acima citado mais o saxofone baixo, tarogato e clarinete baixo. Nilssen-Love também trouxe novos sons para a sessão com a inclusão de gongos coreanos.

A diferença é sentida da faixa de abertura com notas sem pressa sopradas sobre o toque de gongos e metal. Na maior parte, o esperado ataque de jazz energético não é encontrado aqui. Nilssen-Love trabalha com uma pulsação deliberada ao longo do trabalho. Seu chocalho e barulho são substituídos por estrondos ecoantes e pequenos gestos. A dupla parece ter concordado em criar uma sessão reflexiva e solene. Poderia ser pela escolha dos instrumentos? Ou talvez tenha sido o cenário de um estúdio que criou o clima. O blues de Brötzmann, "Smuddy Water", trafega através de um som denso, como faz "Five Of Them Survived The Dream", onde uma buzina a todo vapor é combatida pelo ping e clang do metal. A dupla amplifica a intensidade com as duas faixas mais curtas, "Dancing Octopus" e "Move On Over", interpretada como uma espécie de gestos de balançar a cabeça. As notas que acompanham nos dizem que haverá um lançamento futuro desta sessão de estúdio e também uma gravação ao vivo.

Faixas: Butterfly Mushroom; Ant Eater Hornback Lizard; Smuddy Water; South of No Return; Dancing Octopus; Move on over; Five of them Survived the Dream; Found the Cabin but no People.

Músicos: Peter Brötzmann (saxofone,clarinete); Paal Nilssen-Love (bateria, gongos).

Fonte: Mark Corroto (All About Jazz)

 

ANIVERSARIANTES - 18/03

Al Hall (1915-1988) - saxofonista,

Andy Narell (1954) – percussionista,

Bill Averbach (1953) – trompetista,

Bill Frisell (1951) – guitarrista (na foto e vídeo) http://www.youtube.com/watch?v=Svzv-YkUzdk,

Canhoto da Paraíba(1929-2008) – violonista,

Courtney Pine (1964) – saxofonista,

Diane Hubka (1957) - vocalista,

Jean Goldkette (1899-1962) - pianista,

Joe Locke (1959) – vibrafonista,

Jon Weber (1961) - pianista,

Jose Mangual Sr. (1924-1998) – percussionista,

Mark Colby (1943-2020) – saxofonista,

Per “Texas” Johansson (1969) – saxofonista,

Sofia Ribeiro (1978) - vocalista 

 

domingo, 17 de março de 2024

BEN WOLFE – UNJUST (Resident Arts)

A história do moderno jazz contém apenas um punhado de baixistas que lideraram seus próprios grupos e foram visionários em suas composições e abordagens. Charles Mingus, Charlie Haden, Dave Holland, Jaco Pastorius e Christian McBride vêm à mente. Com o lançamento do seu 10º álbum, “Unjust”, Ben Wolfe mostra que ele pertence a este grupo.

Wolfe iniciou sua carreira musical como um baixista clássico e estudou no Peabody Conservatory of Music em Baltimore. No meado dos anos 80, ele migrou para Nova York e rapidamente veio a ser um músico de jazz bem demandado. Ele aprendeu com diversos músicos proeminentes, incluindo Wynton Marsalis, Harry Connick, Jr. e Diana Krall. Ele foi também um membro da Jazz at Lincoln Center Orchestra por diversos anos.

Wolfe é conhecido por seu toque virtuoso, um forte senso de suingue e sensibilidade melódica. Ele tem sido elogiado por sua capacidade de integrar as tradições do jazz com estilos e sons contemporâneos e por suas contribuições ao desenvolvimento ao jazz moderno. Este álbum exibe todas estas facetas tão bem quanto um intenso senso composicional (ele compôs todas as doze faixas) e um firme senso de textura em seus arranjos. O trabalho inicia com "The Heckler", onde Wolfe estabelece um tórrido ritmo, enquanto Joel Ross toca inquietantes vibrações temáticas, que permitem aos solistas decolarem. O efeito é quase um filme noir. "Hats Off To Rebay" tem algo como um sentimento de Ornette Coleman/Charlie Haden com Wolfe andando com baixo de forma subterrânea.

A variedade desta gravação é tremenda. Do bop direto de "Bob French" (um tributo ao famoso baterista de New Orleans e apresentador da rádio WWOZ) a uma balada terna, "Lullabye in D", apresentando a maravilhosa Nicole Glover no tenor com seu som grandioso e ofegante. "The Corridor" é apresentada com vibrafone, baixo e bateria que invoca o Modern Jazz Quartet. "Mask Man" é uma composição neo-bop forte apresentando o virtuosismo de Wolfe. A faixa título é uma música que evolui e gira em torno da canção de Charlie Parker, "Confirmation". O álbum encerra com "Reprise (Credits)" apresentando piano, vibrafone, baixo e bateria. É uma bela balada e uma adorável maneira de encerrar um lançamento magistral.

A banda de Wolfe que foi reunida para esta gravação está excelente. Às vezes, a interação entre o trompetista Nicholas Payton e Immanuel Wilkins no sax alto é reminiscente daquela entre Booker Little e Eric Dolphy tanto quanto a de Don Cherry e Dewey Redman. Aaron Kimmel na bateria toca com sutileza e empatia.

Faixas: The Heckler; Hats Off to Rebay; Lullaby in D; Bob French; The Corridor; Mask Man; Eventually; Unjust; Sparkling Red; Sideways; Hats Off to Rebay (Interlude); Reprise (Credits).

Músicos: Ben Wolfe: baixo; Nicholas Payton: trompete; Immanuel Wilkins: saxofone alto; Nicole Glover: saxofone tenor; Joel Ross: vibrafone; Addison Frei: piano; Orrin Evans: piano; Aaron Kimmel: bateria.

Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=JOuZTtDnZ6I

Fonte: Dave Linn (AllAboutJazz)

 


ANIVERSARIANTES - 17/03

Abraham Burton (1971) – saxofonista,

Antônio Maria ( 1921-1964) – compositor,

Elis Regina (1945-1982) – vocalista (na foto e vídeo) http://www.youtube.com/watch?v=biqZ3ImZlZI,

Grover Mitchell (1930-2003) – trombonista,

Jessica Williams (1948) – pianista,

Lovie Lee (1917-1997) – pianista,

Nat King Cole (1917-1965) – pianista,vocalista,

Rodney Green (1979) – baterista,

Paul Horn (1930) – saxofonista,flautista 

 

sábado, 16 de março de 2024

JOÃO PAULO ESTEVES DA SILVA TRIO - THE RIVER (Arjunamusic)

Há uma famosa frase atribuída a Heráclito de Éfeso: «Ninguém entra num mesmo rio uma segunda vez, pois quando isso acontece já não se é o mesmo, assim como as águas que já serão outras.» Mas acabariam por ser as águas internas que ditaram a sorte do “pai da dialética”; no final da vida foi acometido por uma hidropisia, acumulação anormal de líquido nas cavidades do organismo. Assistido por médicos (cujos conhecimentos ridicularizava), perguntou-lhes se seriam capazes de transformar uma inundação em seca. Serve este proêmio para sintetizar muito do que se passa em “The River”, o segundo álbum que junta o pianista João Paulo Esteves da Silva, o contrabaixista Mário Franco e o baterista e percussionista Samuel Rohrer, com chancela da Arjunamusic, editora fundada em 2012 por Rohrer.

As oito peças do álbum são completamente improvisadas, ou «compostas instantaneamente», tal como é referido na ficha técnica, e mostram um trio num contínuo caudal de ideias fluido de forma natural, mudando em cada momento sem que aparentemente haja uma verdadeira transformação. O pianista recorre a estratégias da improvisação livre para a partir delas aprofundar, em tempo real, motivos que monta, desmonta e remonta. E fá-lo com o imenso lastro de saber que acumulou (também, diria, na condição de poeta), e em apertada partilha com os dois superlativos músicos que tem a seu lado, também eles mestres na difícil arte de fazer com que a matéria improvisada soe, amiúde, a composta. «Toda a música é totalmente criada no momento, não há pré-pensamentos ou ideias discutidas. Ambos os álbuns surgiram assim. Com a única diferença que para “The River”, fizemos alguns concertos antes de ir para estúdio», começa por dizer Samuel Rohrer à jazz.pt. Este é um aspeto que o baterista sublinha: «Também os concertos funcionam da mesma forma, tudo é totalmente improvisado.» «É uma forma de confiar verdadeiramente no momento e de nos ligarmos a um nível profundo uns com os outros, mas também com o desconhecido. Nos melhores momentos, é uma experiência verdadeiramente espiritual», acrescenta o suíço.

“The River” é demonstração do amadurecimento da parceria, que se funda nas características essenciais que reconhecemos nas personalidades musicais de cada um. «Os concertos ajudaram-nos a aprofundar as ligações, a construir confiança e uma linguagem comum. Afinal, é uma maneira muito intuitiva de tocar música juntos», reforça Rohrer. “O segundo álbum do trio não se afasta muito dos traços fundamentais que havíamos apreendido em “Brightbird”, o álbum inaugural da formação, de 2017. A música que nele escutamos caracteriza-se por abrir espaço ao silêncio que emerge entre as notas, tanto parecendo importar o que escutamos como o que não escutamos. No cômputo, resulta triunfal esse diálogo entre o perceptível e o imperceptível, numa lógica de partilha de abordagens e vocabulários, algo central para o que fazem em conjunto. Esse aspecto afigura-se-nos fundamental para compreender a música do trio, por vezes perpassada por uma ideia de canção, algo que o baterista corrobora: «Há momentos que criam uma base mais tipo canção, para construirmos sobre. Algumas são mais abstratas, mas sempre com uma ideia melódica em mente.»

De alguma forma reencarnando as premissas da “third stream”, encontramos em “The River” abundantes referências a vários quadrantes musicais, da tradição sefardita tão cara a Esteves da Silva, ao jazz e à livre improvisação. Mas em vez de nos concentrarmos em mapear tais marcos referenciais, ganhamos se, ao invés, nos focarmos nos jogos intrincadamente telepáticos que se estabelecem entre os arsenais técnicos e emocionais de cada um. O baterista reforça precisamente esta dimensão: «relacionamo-nos principalmente com a ligação que temos entre nós.»

A função inicia-se com “The House Behind”: notas etéreas do piano de Esteves da Silva a fluírem sem pressas, contrabaixo elegante e sempre atento, percussão detalhada, fazendo Rohrer um uso completo dos materiais à disposição. O baterista introduz o mais agitado “Loosing Memory”, com uma melodia que traz um longínquo eco blueseiro. Na sua cadência feita de notas judiciosamente convocadas, “City People” pouco tem de trepidante ou caótico, com Rohrer a propor um padrão rítmico que envolve o fraseado sereno de Esteves da Silva. A atmosfera mais enigmática de “Concerning the Ice” é-nos apresentada pelo baterista, a que se vem juntar um Franco que recorre ao arco para acrescentar uma solenidade pungente; as notas esparsas de piano deixam tudo em suspenso. Mesmo no final eleva-se uma melodia que parece anunciar uma insondável transformação química. De grande beleza, jamais óbvia, “Passing Wind” coloca em confronto a imaginação de quem escuta e aquilo que realmente acontece.

Com um título que parece aludir ao equilíbrio – pivotal na música do trio – entre razão e emoção, “Head/Heart” é uma peça mais nervosa, exponenciando os índices de interação entre os três músicos. “From Below” é um monumento melódico, esculpido com apurada sensibilidade pelo trio, a começar com o piano sublime de Esteves da Silva, ecoando algumas das suas referências mediterrânicas, impressionando a leveza da secção rítmica. “Lost Small Things”, de uma doçura nostálgica, revela também momentos onde o piano adquire uma notoriedade como que inescapável, imenso ímã que tudo atrai. “Smoke Signals” encerra o disco numa atmosfera positiva, parecendo querer alertar-nos para um dos grandes problemas do nosso tempo que é, paradoxalmente, a comunicação, ou a falta dela. Estamos permanentemente ligados, mas temos de voltar à brevidade essencial dos sinais de fumo.

Faixas

1.The House Behind 06:25

2.Loosing Memory 04:04

3.City People 06:07

4.Concerning The Ice 04:15

5.Passing Wind 03:34

6.Head, Heart 04:45

7.From Below 04:20

8.Lost Small Things 01:58

9.Smoke Signals 04:26

Músicos: João Paulo Esteves da Silva— piano; Mário Franco— contrabaixo; Samuel Rohrer— percussão.

Fonte: ANTÓNIO BRANCO (jazz.pt)

 

 

ANIVERSARIANTES - 16/03

Alex Buck (1980) – baterista (na foto e vídeo) http://www.youtube.com/watch?v=usgrd__Q2cs,

Biagio Coppa (1965) – saxofone,

Brian Kelly (1960) – pianista,

Erin McDougald (1977) – vocalista,

Gary Meek (1961) – saxofonista,

John Lindberg (1959) – baixista,

Kei Akagi (1953) – pianista,

Massimo Farao (1965) – pianista,

Rich Szabo (1956) – trompetista,

Ruby Braff (1927-2003) – trompetista,cornetista,

Tommy Flanagan (1930-2001) – pianista,

Woody Witt (1969) - saxofonista 

 

sexta-feira, 15 de março de 2024

BILLY CHILDS - THE WINDS OF CHANGE (Mack Avenue Records)

Billy Childs, um dos pianistas mais aclamados pela crítica no jazz moderno, está em alta demanda como um moderno compositor clássico. Ele tocou e compôs música orquestral e trabalho de câmara para pequenos grupos de jazz contemporâneos. Isto trouxe-lhe cinco prêmios Grammy.

Iniciando como um pianista em sua nativa Los Angeles, ele então passou seis anos com a banda de Freddie Hubbard antes de vir a ser um líder do seu próprio jeito. Ele atuou com uma variedade de artistas incluindo de artista como Sting, Wynton Marsalis, Jack DeJohnette e Chris Botti. Em “The Winds of Change”, ele está reunido ao trompetista Ambrose Akinmusire, ao baixista Scott Colley e ao baterista Brian Blade.

Este álbum oferece cinco novas composições ao lado de duas reinterpretações. Muitas das composições são provocadas pela experiência de Childs em Los Angeles misturada com sua paixão por trilhas sonoras de filmes, especialmente as paisagens urbanas evocadas por compositores como Jerry Goldsmith, John Williams e Bernard Hermann. O resultado é um refinado som post-bop, que impulsiona os limites criativos do grupo e homenageia seus trabalhos iniciais dos anos 1970 e 1980.

A faixa de abertura, "The Great Western Loop", evoca os espaços abertos de sete mil milhas de caminhada do Sul da Califórnia a Vancouver e ao Grande Canyon. Inicia com um intenso acompanhamento improvisado ao piano e o trompete sonante de Akinmusire. Colley e Blade oferecem a Akinmusire uma plataforma para seu trompete romper e providenciar a condução rítmica através das várias seções. O álbum é preenchido com dispositivos cinemáticos, claramente aparente na dinâmica faixa título com cascatas do tema ao piano. Composto como se fosse para orquestra para o falecido trompetista Roy Hargrove, surge e recua conforme Childs e Akinmusire conversam em diálogo imaginativo.

"The End of Innocence", originalmente gravado por Childs em “Portrait of a Player (Windham Hill, 1993)” espalha-se sobre um ritmo melancólico em tempo médio e apresenta o piano melódico e uma parada do baixo de Colley. "Master of the Game" é outra música inspirada em filme, Child cita a música de Henry Mancini para o filme de 1963, “Charade”, e a trilha sonora de Michel Legrand, de 1968, para “The Thomas Crown Affair”. Childs e Akinmusire trabalham juntos para comunicar o tema entre a complexidade de numerosas seções.

A primeira das reinterpretações é "Crystal Silence" do falecido Chick Corea. Todo o quarteto está no topo da forma: o ofegante trompete de Akinmusire, o solo de baixo de Colley, a sutil percussão de Blade e o piano pictórico de Childs faz deste um tributo fascinante. O humor é então trocado por uma exploração movimentada de "The Black Angel" de Kenny Barron (originalmente na gravação de Freddie Hubbard, em 1970, pela Atlantic com o mesmo nome). O álbum encerra com "I Thought I Knew" a música sendo gentilmente explorada e expandida por Childs, Colley e Blade.

As inéditas e reinterpretações são inspiradas pelas intrigantes trilhas sonoras de filmes noir junto com paisagens rurais e urbanas da Costa Oeste. O quarteto demonstra o devido respeito pelo passado, mas este é um jazz interativo contemporâneo pleno de excertos musicais objetivos, que tocam bem atualmente. Os resultados valem ser ouvidos.

Faixas: The Great Western Loop; The Winds of Change; The End of Innocence; Master of the Game; Crystal Silence; The Black Angel; I Thought I Knew.

Músicos: Billy Childs: piano; Ambrose Akinmusire: trompete; Scott Colley: baixo; Brian Blade: bateria.

Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=DjQdDMbQKcM

Fonte: Neil Duggan (AllAboutJazz)