A compositora exploradora e artista sonora australiana Chloë
Sobek é um talento prodigioso. Para seu segundo lançamento, “Burning Up”, Sobek
arrisca duas chances ousadas, ambas rendendo bem. Ela junta-se ao mestre da
improvisação, o saxofonista Tim Berne, para um trabalho inteiramente espontâneo.
Sobek atua no violone (NT: instrumento musical
de cordas friccionadas, da família da viola de gamba, considerado o antecessor
do atual contrabaixo), que foi o antecessor do contrabaixo na Renascença.
Ela não apenas acompanha Berne, mais experiente, mas também comanda seu
instrumento incomum com habilidade.
Sobek inicia "Scorpius" com refrões furiosos.
Berne a espelha com interjeições afiadas e amargas que ricocheteiam em suas
cordas percutidas. A música transforma-se naturalmente a uma reflexão lânguida
e poética com Sobek e Berne entrelaçando frases ondulantes. A conversa
melancólica passa de desamparada a apaixonada sem sequer uma nota supérflua. Há
um certo lirismo oriental nestas trocas, uma melancolia misturada com
serenidade, simultaneamente meditativa e angustiante.
A poeticamente intitulada "Icarus and the Phoenix",
entretanto, inicia com dois músicos sobrepondo seus solos contemplativos para
um efeito dramático. Berne então toca uma música feérica, enquanto Sobek
responde com fragmentos melódicos habilmente elaborados, alternando entre
dedilhado e uso do arco. Esta seção angular é semelhante a uma pintura abstrata
com pinceladas ousadas e sutis sobrepostas.
Em outro lugar, "Disquiet Souls" tem uma aura
mística. O expressivo saxofone de Berne e o emotivo violone de Sobek
constroem juntos uma melodia cativante. As duas reflexões do fluxo de
consciência às vezes são divergentes, enquanto outras ecoam uma à outra. Em
ambos os casos, Sobek e Berne demonstram sublime parceria enquanto eles
improvisam as ideias um do outro com inteligência e sutileza. O resultado é uma
peça assustadora e comovente que hipnotiza.
Igualmente tenso é "Signe" com seu ambiente
expectante. As profundas reverberações de Sobek rebatem as frases melancólicas
de Berne com poesia elegíaca. O clima aqui é definitivamente sombrio, mas de
uma forma cativante.
O sublime "Burnishing" é uma conclusão adequada
para este álbum provocativo. As linhas do arco de Sobek e o sax alto macio de
Berne começa com uma atmosfera cinematográfica. Um diálogo e dinâmico que se
segue é definitivamente moderno na sua espontaneidade, mas, por vezes, no seu
melodicismo e temas repetidos exibe elementos do barroco. O resultado é uma uma
improvisação fascinante e memorável.
“Burning Up” é um trabalho experimental sem ser
autoindulgente. Demanda atenção, ainda assim, recompensa audição atenta. Faz
bem para a mente e para a alma.
Faixas: Scorpius; Disquiet souls; Icarus and the Phoenix;
Signe; Burnishing.
Músicos: Chloë Sobek (violone); Tim Berne (saxofone alto).
Fonte: Hrayr
Attarian (AllAboutJazz)