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sexta-feira, 18 de julho de 2025

CHLOË SOBEK, TIM BERNE - BURNING UP (Relative Pitch Records)

A compositora exploradora e artista sonora australiana Chloë Sobek é um talento prodigioso. Para seu segundo lançamento, “Burning Up”, Sobek arrisca duas chances ousadas, ambas rendendo bem. Ela junta-se ao mestre da improvisação, o saxofonista Tim Berne, para um trabalho inteiramente espontâneo. Sobek atua no violone (NT: instrumento musical de cordas friccionadas, da família da viola de gamba, considerado o antecessor do atual contrabaixo), que foi o antecessor do contrabaixo na Renascença. Ela não apenas acompanha Berne, mais experiente, mas também comanda seu instrumento incomum com habilidade.

Sobek inicia "Scorpius" com refrões furiosos. Berne a espelha com interjeições afiadas e amargas que ricocheteiam em suas cordas percutidas. A música transforma-se naturalmente a uma reflexão lânguida e poética com Sobek e Berne entrelaçando frases ondulantes. A conversa melancólica passa de desamparada a apaixonada sem sequer uma nota supérflua. Há um certo lirismo oriental nestas trocas, uma melancolia misturada com serenidade, simultaneamente meditativa e angustiante.

A poeticamente intitulada "Icarus and the Phoenix", entretanto, inicia com dois músicos sobrepondo seus solos contemplativos para um efeito dramático. Berne então toca uma música feérica, enquanto Sobek responde com fragmentos melódicos habilmente elaborados, alternando entre dedilhado e uso do arco. Esta seção angular é semelhante a uma pintura abstrata com pinceladas ousadas e sutis sobrepostas.

Em outro lugar, "Disquiet Souls" tem uma aura mística. O expressivo saxofone de Berne e o emotivo violone de Sobek constroem juntos uma melodia cativante. As duas reflexões do fluxo de consciência às vezes são divergentes, enquanto outras ecoam uma à outra. Em ambos os casos, Sobek e Berne demonstram sublime parceria enquanto eles improvisam as ideias um do outro com inteligência e sutileza. O resultado é uma peça assustadora e comovente que hipnotiza.

Igualmente tenso é "Signe" com seu ambiente expectante. As profundas reverberações de Sobek rebatem as frases melancólicas de Berne com poesia elegíaca. O clima aqui é definitivamente sombrio, mas de uma forma cativante.

O sublime "Burnishing" é uma conclusão adequada para este álbum provocativo. As linhas do arco de Sobek e o sax alto macio de Berne começa com uma atmosfera cinematográfica. Um diálogo e dinâmico que se segue é definitivamente moderno na sua espontaneidade, mas, por vezes, no seu melodicismo e temas repetidos exibe elementos do barroco. O resultado é uma uma improvisação fascinante e memorável.

“Burning Up” é um trabalho experimental sem ser autoindulgente. Demanda atenção, ainda assim, recompensa audição atenta. Faz bem para a mente e para a alma.

Faixas: Scorpius; Disquiet souls; Icarus and the Phoenix; Signe; Burnishing.

Músicos: Chloë Sobek (violone); Tim Berne (saxofone alto).

Fonte: Hrayr Attarian (AllAboutJazz)

 

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