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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Jazz tradicional e outros sons em Guaramiranga
















Eileina Williams: cantora inglesa fez um belo show de jazz tradicional e ganhou o público ao tentar cantar “Wave” em português. Sexta-feira tem bis no Iate Clube (Foto: Thiago Gaspar )

Pelo oitavo ano consecutivo, o som do jazz, do blues, da música instrumental brasileira tomou Guaramiranga no carnaval. Desta quinta até domingo, a maratona se reedita em Fortaleza. A mistura de instrumentos, linguagens e influências fez dos quatro dias de tempo bonito pra chover uma ocasião para celebrar a música e recordar Sivuca, um de seus maiores mestres. Sons e sensibilidade. A maratona musical de apresentações em Guaramiranga reuniu, mais uma vez neste carnaval, grandes instrumentistas e intérpretes das cenas local e nacional, além de convidados de outras searas. A oitava edição do Festival Jazz & Blues foi marcada pela diversidade sonora já característica do evento, da música instrumental brasileira ao universo mais tradicional do jazz, que contou com grandes shows este ano. Entre uma apresentação e outra, novidades na programação, como o acertado retorno dos shows ao fim de tarde na escadaria da Igreja Matriz, o cineclube com filmes remissivos ao jazz e uma homenagem coletiva ao paraibano Sivuca, enriquecida por uma exposição no Memorial Juarez Barroso e pela presença da viúva do músico paraibano, a compositora Glorinha Gadelha. Sob a bênção de Sivuca. O cardápio musical do festival se desvelou desta vez em meio a uma temperatura amena e um tempo chuvoso, como há pelo menos dois carnavais não se via na bela e acolhedora cidade do Maciço de Baturité. As mesmas chuvas que complicaram a vida de quem se vale do acampamento como opção de hospedagem durante os concorridos quatro dias de carnaval na serra tornaram ainda mais evidentes as belezas naturais da região, marcada pelo verde resistente da mata atlântica alencarina. E nem a chuva, que caiu no ritmo devagar e sempre, cadenciada e fechando o céu de cinza como a garoa paulistana, impediu que os shows ao ar livre atraíssem ótimo público, que os cortejos de sanfoneiros em tributo a Sivuca ganhassem as ruas, que as figuras mais desenvoltas e descontraídas, contrastando com a suposta elegância da “estética do frio”, fizessem seu próprio festival, a seu modo. No sebo de discos, nas banquinhas de comidas e bebidas, nas rodas de percussão e violão, nos refúgios da chuva e a céu aberto, nos bares e nas madrugadas de Guaramiranga.“Points” e refúgios. As jam-sessions este ano saíram dos espaços próximos ao campo de futebol para a Escola Municipal Júlio Holanda. Ali, depois da meia-noite, um grande público pôde acompanhar verdadeiros shows à parte, gratuitos, de instrumentistas consagrados, estrelas do festival e novos talentos recrutados nos municípios de Sobral, Guaiúba e Maranguape. No mesmo local aconteceram oficinas de gaita, canto e percussão, entre novidades como uma feira de artesanato mais bem estruturada e uma nova utilização da tenda perto do campo de futebol, para expositores e apresentações de artistas do repente ao hip-hop. Já o restaurante Lautrec ofereceu apresentações do cantor e guitarrista brasiliense Tico de Morais, além de dar um bis dos shows de Derico e Sindicato do Jazz e da cantora Eileina Williams, presentes na programação principal. Já no palco principal, o Teatro Rachel de Queiroz, a cena cearense de blues e música instrumental encontrou espaço para mostrar parte de sua vasta produção, tantas vezes eclipsada em meio às conhecidas dificuldades de consolidação de nosso circuito musical. Jovens como o guitarrista de blues Arthur Menezes estiveram ao lado de veteranos como o clarinetista, saxofonista e arranjador Carlinhos Ferreira. O baterista e cantor Ricardo Pontes mostrou seu som e recebeu convidados, enquanto o Projeto Timbral registrou sua produção autoral em uma ousada iniciativa de gravação de um DVD, o primeiro na história do festival. Vale ainda destacar a presença dos músicos cearenses nas jam-sessions e os shows na Matriz, além de outros espaços. Quem sentia falta de mais shows dedicados ao jazz tradicional, em meio à diversidade do festival, desta vez pôde conferir atrações como a cantora inglesa Eileina Williams e, para além do bom-humor, do saxofonista Derico Sciotti. A guitarra esteve bem representada, com o norte-americano Scott Henderson e o argentino, há muito radicado no Brasil, Torcuato Mariano. A cantora e violonista Badi Assad trouxe sua música universal brasileira, enquanto Robson Fernandes incendiou com sua gaita os doze compassos do blues, também percorridos pela banda Blue Jeans e pela cantora norte-americana Big Time Sarah. Fechando a festa, a musicalidade plural de Egberto Gismonti. Agora, o festival retorna a Fortaleza, onde este ano começou mais cedo, desde janeiro. Quem preferiu não pôde comparecer ao Maciço pode conferir reedições de alguns shows e a presença de outros artistas. A partir de amanhã, quando o duo de pianistas e acordeonistas Ítalo Almeida e Renno Saraiva sobe ao palco do Theatro José de Alencar, às 21h, antecedendo o show de Egberto Gismonti. No mesmo horário, na Praça Mauá, no Pan-americano, a música fica com Scott Henderson e da banda Blue Jeans. O festival continua.
DALWTON MOURA Enviado a Guaramiranga

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