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sábado, 30 de junho de 2007

ENTREVISTA - RUI CASTRO


O primeiro artigo, publicado no jornal ´Correio da Manhã´, lembrava os 30 anos da morte do cantor e compositor Noel Rosa. Desde então, são exatos 40 anos em que o jornalista e escritor Ruy Castro trata com carinho e conhecimento o jazz e a música popular no século XX. A prova está reunida no título ´Tempestade de Ritmos´ (Companhia das Letras). São 58 artigos publicados na imprensa (boa parte no ´Estado´) em que Castro, com estilo inconfundível, convida o leitor para um passeio pelo mundo da música, como comenta na entrevista a seguir.

Quem o senhor costuma reverenciar de modo mais alongado? Em ´Tempestade de Ritmos´, há capítulos longos sobre Stephen Sondheim, Cole Porter, Bobby Short, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Moacir Santos e vários outros. Mas a ´reverência´ não dispensa críticas - é só ler os capítulos sobre Miles Davis e Chet Baker. Embora escrevendo sobre artistas americanos e já muito estudados, quero crer que apliquei uma visão particular e até bem brasileira sobre eles. Quando trato de artistas brasileiros, procuro falar de alguns que há anos não têm sido estudados: Roberto Silva, Marlene, os compositores do samba-boogie, etc.

O senhor acredita, como Roberto Muggiati, que o jazz atravessou, em 100 anos, todo o percurso que a música erudita levou séculos, e foi dar no mesmo beco sem saída? Não sei bem o contexto em que meu velho amigo Muggiati disse isso, mas só me pergunto se os becos têm de ter, obrigatoriamente, uma saída. Depois de um período de impasse representado pelos experimentalismos de Ornette Coleman e do próprio Miles, acho que o jazz chegou a um estágio muito interessante: ele hoje dá tanto o prazer às pessoas ´comuns´ quanto o jazz que era feito nos anos 30, só que com um som dos anos 50. Ou seja, deixou de ser algo para especialistas e se tornou uma música quase popular, só que de luxo.

O senhor acha que o status do jazz na cultura norte-americana mudou radicalmente nos últimos 30 anos?Ah, sim, hoje ele é respeitado - respeitado até demais, eu diria. Perdeu aquela aura meio bandida, que sempre foi sua característica. Wynton Marsalis é quase um acadêmico, administra cursos em universidades. Mas, nos anos 50, também já havia coisas do gênero: Dizzy Gillespie, Louis Armstrong e Dave Brubeck iam à URSS pelo Departamento de Estado - quer mais establishment do que isso? - e o pessoal do Modern Jazz Quartet, com seus óculos e barbichas, mais pareciam embaixadores da ONU (Organização das Nações Unidas). O que acontece é que hoje o jazz, dentro dos seus limites, se tornou um produto comercial. As Fnacs do mundo inteiro estão abarrotadas de CDs de jazz. Acho isso bom.

Por que a MPB tem tanta importância, tornando-se um elemento essencial da cultura nacional?Porque, de 1800 para cá, sempre foi muito boa, excepcional, mesmo. Do Padre Mauricio a Chiquinha Gonzaga e Pixinguinha, passando por Ary Barroso, Carmen Miranda e Wilson Batista, até os Anjos do Inferno, Lúcio Alves e Tom Jobim, e chegando em Chico Buarque, Aldir Blanc e Marcos Sacramento, com mais alguns milhares de grandes nomes pelo meio, foram 200 anos de grande música. Ela é melhor do que a literatura brasileira, do que a poesia brasileira e, exceto por Nelson Rodrigues, do que o teatro brasileiro. Do que o cinema e a pintura, nem se fala.

A música é o reflexo da história? Existe uma coincidência entre a sociedade e a música?Sem dúvida. O próprio Tom Jobim me disse uma vez: ´A música serve para tudo, Ruy. Serve para ouvir, para dançar, para namorar, para repousar. Serve também para marchar, para fazer guerra e para odiar.´ O querido Tom não está aqui para escutar, mas, quando você ouve rap e música eletrônica saindo de um alto-falante no máximo volume, entende como a música pode ser feita pelo e para o ódio - uma característica de nossos tempos.
UBIRATAN BRASIL Editoria Estado -

2 comentários:

Anônimo disse...

eu não sei porque alguns setores da imprenssa ensistem em dizer que o jazz morreu ou está num beco sem saída .o jazz é um gênero de musica que tem profundas raízes na história da america . para se tocar jazz tem que ser "um musico muito bom ". e os melhores jazzistas do mundo eram negros . não se fabricam talentos eles nascem e deixam suas obras . daí vem a cobrança.equivocada da crítica mas eles não dizem : a musica classica morreu. o jazz é uma escola e permanecerá para sempre na história da musica .

Anônimo disse...

Avishai Cohen estará divolta ao Brasil no dia 01/06/2011 e irá se apresentar na Sala São Paulo. Toda a verba da bilheteria do espetáculo será revertida à TUCCA - Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer.
Mais Informações: ingressos@tucca.org.br ou (11) 2344-1051
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