playlist Music

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Morre o prestigiado pianista Joe Zawinul.

Uma pausa no jazz

Morreu o prestigiado pianista Joe Zawinul, que gravou com Miles Davis o clássico álbum 'In a silent way'

Doris Miranda

Um dos maiores nomes do jazz fusion e fundador do grupo Wheater Report (o mais duradouro do estilo), o pianista austríaco Joe Zawinul morreu na madrugada de ontem, aos 75 anos, num hospital de Viena, sua cidade natal, após várias semanas de luta contra o câncer. Seu filho Erich, que fez o anúncio oficial, disse: "Joe Zawinul nasceu a 7 de Julho de 1932 em tempo terrestre e a 11 de setembro de 2007 para a eternidade. Ele continua a viver".

Para os que acompanham a história do jazz, Zawinul permanece imortal mesmo. Afinal, foi ele que, de certa forma, apresentou o piano elétrico ao gênio Miles Davis. Uma façanha que podia contar sem a menor modéstia, como era de seu feitio. Joe sabia que era bom e não tinha o menor receio de admitir isso pu-blicamente. As 28 vezes em que foi eleito pela revista Downbeat como melhor tecladista do mundo confirmava a imagem que fazia de si próprio. "Miles nunca tinha ouvido nada semelhante. Posso mesmo dizer que eu inventei o fusion", garganteava a quem quisesse ouvir. Pois bem, não só introduziu o teclado na banda do trompetista, como também gravou com ele o clássico álbum In a silent way (1969), disco que aponta a mudança definitiva de estilo de Davis (saindo do bebop para seguir na direção do jazz fusion) e do qual participam também outras feras, como Herbie Hancock, Chick Corea e Dave Holland.

Foi nesse clima de abandono da sofisticação limpinha dos anos 60 e incursão pelo experimentalismo desmedido dos anos 70 que Joe Zawinul resolveu criar seu próprio grupo, o Weather Report, que durou oficialmente de 1970 a 1986, período em que gravou 16 discos. Com a banda formada ao lado do saxofonista Wayne Shorter, do baterista Peter Erskine e do baixista Jaco Pastorius – e a mais representativa do fusion –, Zawinul gravou álbuns que o consagraram definitivamente como astro dos teclados, como I sing the body eletric, Heavy weather e Black market. Foi autor dos sucessos Mercy, mercy, mercy e Birdland, música da qual tinha orgulho imenso. Não foi à toa. Em três décadas e em três versões diferentes, gravadas por Weather Report, Manhattan Transfer e Quincy Jones, Birdland recebeu estatuetas do Grammy

Com a dissolução do Weather Report, em 1986, Zawinul fundou o Zawinul Syndicate, que reuniu diversos músicos conhecidos. Entre eles, os guitarristas Scott Henderson e Gary Poulson, os baixistas Abraham Laboriel e Victor Bailey, o baterista Alex Acuña e o percussionista Manolo Badrena. O grupo lançou os álbuns The immigrants (1988), The black water (1989), Lost tribes (1992) e World tour (1988). Em 2006, sem abandonar o Syndicate, resolveu reinventar o Weather Report para gravar mais um registro: o CD ao vivo Brown Street, com dez dos melhores temas da banda repartidos em dois discos.

Joe Zawinul ainda estava em plena atividade, rodando o mundo em turnê e apresentando sua incansável capacidade para improvisação. Por causa da doença, só teve que cancelar dois shows, um no festival Jazz a la Villette, em Paris, e outro em Viena, onde era proprietário do Zawinul's Birdland, clube de jazz do Hotel Hilton.

Trajetória – A música para Zawinul começou cedo, aos 6 anos, no Conservatório de Viena. Primeiro estudou acordeom, depois piano. O interesse pelo jazz veio através das influências de George Shearing e Erroll Garner. Instigado, criou um trio e começou a se apresentar na França e Alemanha. Mas, em 1959, aos 27 anos, largou o Velho Mundo e foi para os EUA arriscar suas fichas no jazz moderno, indo estudar na Berklee College of Music, em Boston.

No início, acompanhou estrelas como Ella Fitzgerald, Dinah Washington, Ben Webster e Cannonball Aderley. Até então, jazz convencional. A doideira só começou a partir de meados dos anos 60, quando descobriu que o bebop podia render mais, andar por terrenos nunca explorados da improvisação.

Depois de uma semana de aula, partiu para se unir à banda de Maynard Ferguson por oito meses, onde Miles Davis obteve informações sobre seu trabalho. Seguindo uma curta temporada com Slide Hampton, Zawinul se tornou o pianista de Dinah Washington, de 1959 a 1961, e passou um mês com Harry "Sweets" Edison antes de Cannonball Adderley o escalasse para ser pianista de seu quinteto, no qual ficou por nove anos, compondo, inclusive. Nessa época, seu espírito já estava marcado e inquieto, doido para brincar com as nuances do rock que esquentava os EUA ou as diversas sonoridades que vinham do Oriente Médio e da África. O jorro de criatividade acabou influenciando Miles Davis, no seminal In a silent way. Se quisesse parar por aí, Joe Zawinul já poderia se dar por satisfeito. Mas, não. Ele quis ser eterno, como bem frisou seu filho.

Discografia
(Joe Zawinul e Zawinul Syndicate)The rise & fall of the third stream (1965)
Money in the pocket (1966)
Zawinul (1970)
Dialects (1986)
The immigrants (1988)
Black water (1989)
The beginning (1990)
My people (1992)
Lost tribes (1992)
Stories of the Danube (1995)
World tour (live) (1998)
Faces & places (2002)

Lourenço Carvalho.

Nenhum comentário: