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sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Dendê e pimenta na obra de Tom Jobim.

Compositor ganha tributo de Paulo Moura e Armandinho, amanhã, no Phoenix Jazz Festival

Atração principal da segunda rodada do Phoenix Jazz Festival, amanhã, na Praia do Forte, a dupla Paulo Moura e Armandinho lança um olhar diferenciado à obra do cantor e compositor Tom Jobim. O tributo, com o título Afro bossa nova, apresentará uma seleção de clássicos do maestro, com uma leitura que pretende valorizar o ritmo das canções. Em outras palavras, vão se afastar das costumeiras interpretações cool para músicas como Samba de uma nota só, Garota de Ipanema, Samba do avião e Chovendo na roseira, entre outras.

Ensaiando desde o início da semana na Praia do Forte, Paulo Moura e Armandinho – que se conhecem de longa data – estão apostando nas possibilidades da proposta, que pode até resultar num DVD. "A idéia é dar um ritmo mais pulsante à bossa nova, que, na verdade, é um samba mais leve", explica Armandinho. Para garantir o suingue e a pegada afro, os percussionistas baianos Giba Conceição, Ney Campello e Daniela juntam-se a Paulo Moura (clarineta) e Armandinho (guitarra baiana e bandolim). O grupo se completa com o violonista Gabriel Improta.

A idéia desse show começou a ser formatada há cerca de dois anos, nos bastidores de uma série de apresentações em homenagem a Tom Jombim, mostrada em oito capitais brasileiras – pelo projeto Natura Musical – nos Estados Unidos e alguns países europeus. Na formação original, o grupo contava com Paulo Moura, Armandinho, o violonista Yamandú Costa e o pandeirista Marcos Suzano. Os músicos foram mudando, mas persistiu o desejo de colocar mais dendê e pimenta na obra jobiniana.

Contemporâneo de Tom Jobim e testemunha do nascimento da Bossa Nova, Paulo Moura chama atenção para a opção estética do movimento. "A bossa acabou caracterizada pela ausência de instrumentos como pandeiro, cavaquinho, cuíca e violão de sete cordas, entre outros, seguindo uma tradição eurobrasileira", afirmou o músico, em conversa telefônica. O que, reflete, tem a ver com a origem de seus principais integrantes. "O movimento foi representado por artistas brancos. Certa vez, até comentei com o Tom que, na banda dele, que era grande, não tinha um único negro", pontua Paulo Moura.

Sem querer polemizar, o veterano e internacionalmente respeitado clarinetista diz que foi apenas uma observação que fez no auge da Bossa Nova. O diferencial, no caso, é que Paulo Moura é sempre atento às questões decorrentes das desigualdades raciais brasileiras. Sempre defende este recorte em seus projetos. "O Tom, que tem músicas lindas, não tem culpa de nada. Ele não gostou muito do meu comentário, mas não ficou aborrecido comigo, não", recorda.

A parceria com Armandinho, acostumado à afrobaianidade, veio a calhar. Partindo do repertório de Tom ao qual já está habituada, a dupla incluiu canções que têm mais "potencial" percussivo, como Águas de março e O morro não tem vez. Também vão interpretar a originalmente instrumental Surf board. "O resultado a gente vai ver na hora, mas estou muito entusiasmado", disse Armandinho, que também se apresentou na estréia do Phoenix Jazz Festival, sábado passado. "Achei a escolha do lugar muito boa. A praça ficou lotada e nós tocamos com o visual do mar ao fundo", elogiou.

Antes do Afro bossa nova, o público poderá acompanhar as apresentações do grupo de chorinho Raízes do Forte – formado por músicos com mais de 60 anos de Mata de São João – e do tecladista Luizinho Assis, à 19h, que mostra o show Já tá cedo, ainda..., acompanhado dos músicos Guilhermo Migoya (bateria), Eric Firmino (baixo), Jorge Solovera (guitarra) e Ivanzinho (percussão). A programação do festival começa, na verdade, no início da tarde, com workshop musical, também gratuito, comandado por Luizinho Assis no Instituto Baleia Jubarte. Por volta das 16h, tem início uma série de performances musicais itinerantes pela vila da Praia do Forte.

Música instrumental - O Phoenix Jazz Festival prossegue nos próximos dois sábados com nomes como Wagner Tiso, Matita Perê, Grupo Jacarandá e Nivaldo Ornelas, entre outros. Como nas duas primeiras rodadas, contará com eventos ao longo do dia, na intenção de aquecer o destino turístico baiano. "Atualmente, há uma tendência crescente de realização de eventos artísticos em balneários. Na Bahia, temos os exemplos bem sucedidos do Festival de Inverno de Vitória da Conquista e o de Lençóis", afirma o produtor Paulo Argolo, um dos responsáveis pela iniciativa.

Patrocinado pela Petrobras, Bahiatursa e prefeitura de Mata de São João, o evento optou pela música instrumental, que conta com poucas iniciativas semelhantes no estado. A idéia é que o festival aconteça anualmente, sempre neste "período de vacas magras" que antecede o Verão. "Tivemos muitas dificuldades para conseguir apoios e estamos dependendo de uma verba, já assegurada pelo Fundo de Cultura, para não ficarmos no prejuízo. No entanto, nossa avaliação é muito positiva", afirma o produtor.

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FICHA
Evento: Phoenix Jazz Festiva
Quando: amanhã, às 19h
Onde: Praia do Forte (Praça da Igrejinha)
Entrada franca
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PROGRAMAÇÃO:
20/10/07
14h - Workshop musical
16h - Performances
19h - Grupo Raízes do Forte
20h - Luizinho Assis e Banda21h - Tom Jobim afro bossa nova - Armandinho e Paulo Moura
21h - Tom Jobim afro bossa nova - Armandinho e Paulo Moura

27/10/07
14h - Workshop musical
16h - Performances
19h - Filarmônica de Mata de São João.
20h - Show Grupo Matita Perê.
21h - Wagner Tiso convida Victor Biglione e Hugo Pilger.

03/11/07
14h - Workshop musical
17h - Apresentação da Fanfarra Nova Geração de Mata de São João
19h - Apresentação musical do programa criança cidadã.
20h - Grupo Jacaranda.
21h - Show de Nilvado Ornelas e banda.

Por Lourenço Carvalho.

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