playlist Music

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Noite Jazz US teve shows de alto nível, mas acabou com meia sala vazia

CARLOS CALADO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Depois da irregular noite de jazz europeu (no sábado), a satisfação da platéia que saía do Auditório Ibirapuera, já na madrugada de ontem, era evidente.
Marcada por releituras de clássicos, a noite Jazz US reuniu quatro shows de alto nível.
Liderando seu noneto formado por talentosos veteranos de big bands, o saxofonista Joe Lovano abriu bem a programação.
Uma suíte de temas de "Birth of the Cool" (o cultuado álbum de Miles Davis), incluindo a suave "Moon Dreams" e a nervosa "Boplicity", foi o destaque de seu repertório.
Lovano chegou a ser ofuscado pelos improvisos inventivos de alguns parceiros, como o sax alto Steve Slagle e o baixista Dennis Irwin, que provocaram sorrisos ao citar fragmentos de "Garota de Ipanema" (Tom Jobim) e "Fita Amarela" (Noel Rosa).
Brilhante também foi a apresentação do trio do organista Joey DeFrancesco com o veterano vibrafonista Bobby Hutcherson, que exibiram sofisticadas releituras de temas de John Coltrane ("Pursuance") e Thelonious Monk ("Little Rootie Tootie").
Até mesmo o vanguardista Cecil Taylor, decano do free jazz, conquistou parte da platéia.
Muitos voltavam do intervalo, quando o pianista entrou de meias declamando um poema: "O som! O som! O som!".
Performático, Taylor gemia ao percutir o piano preparado com guizos nas cordas. Parava, subitamente, e resmungava palavras incompreensíveis, num passeio pelo universo incerto do atonalismo e das arritmias.
Já com parte da platéia vazia, o septeto do trombonista Conrad Herwig fechou a noite com outra seleção de clássicos.
A novidade está na coloração latina que seus saborosos arranjos emprestam a pérolas de John Coltrane ("Lonnie's Lament") e Miles Davis ("So What").
Sem falar na canja-surpresa do mestre do trombone Raul de Souza.
Apesar do saldo bem positivo da noite Jazz US, fica a questão: vale a pena programar quatro shows numa noite e terminá-la com meia sala vazia?

Nenhum comentário: