Cantora baiana foge de clichês e obviedades em show em Nova York
por Hélio Sales de Nova York - EUA [06/11/2007]
A multidão de brasileiros que entupiu o Blue Note no ano passado durante os shows de Gal Costa [o que originou o DVD Live at Blue Note] não estava presente durante a temporada de Rosa Passos nesse primeiro fim de semana de novembro. Nem fizeram falta: os americanos é que lotaram a casa todos os dias, esgotando os ingressos antes mesmo da estréia.
Talvez os gringos também conheçam melhor o trabalho de Gal que o de Rosa. Mas a música de Rosa Passos, a “versão feminina de João Gilberto”, como apresentava o programa da casa, inegavelmente se encaixa melhor numa casa de shows como o Blue Note. O local, bastante intimista, já recebeu praticamente todos os standards do jazz contemporâneo, em 25 anos de existência. Para suas apresentações, a baiana trouxe vestígios de bossa nova, samba e inventividades tipicamente brasileiras, mas a essência jazzística foi a base de suas performances nos três dias de show em Nova York.
Simpaticíssima e distribuindo rosas no melhor estilo Roberto Carlos, a cantora concentrou o espetáculo no repertório de seus quatro últimos discos: Rosa [2006], Amorosa [2004], Entre Amigos [2003] e Azul [2002]. Com escolhas pouco óbvias de composições pouco conhecidas de Gil e Dorival Caymmi, passando por clássicos como Pra que Discutir com Madame e Só Danço Samba [que ganhou uma versão minimalista e irreconhecível, com Rosa batucando o violão e o baixista Paolo Paurelli fazendo percussão vocal], Rosa Passos mostrou que não está interessada no caminho mais fácil. Mesmo grandes clássicos como Eu sei que vou te amar e Só tinha de ser com você, ganharam versões bastante divertidas e inventivas, diferentes do original.
Declarando seu amor ao público e aos integrantes da banda [em especial ao pianista Hélio Alves] – em português mesmo, com o saxofonista Rodrigo Ursaia como tradutor, Rosa Passos demarcou território no Blue Note. Serena como quem já rodou o mundo fazendo música, Rosa parece não se deslumbrar. Ciente de sua afinação e talento, em vez de apostar num show pra agradar diretamente o público americano com uma bossa nova surrada que ainda encanta e desperta curiosidade, Rosa cantou o que quis: um jazz com um pé na Bahia e outro no mundo. E talvez por isso mesmo, universal.
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