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sexta-feira, 15 de agosto de 2008

JAZZ É UMA MÚSICA NEGRA ?


Em janeiro passado, eu estive em um painel no "Jazz at Lincoln Center” . O objeto " Jazz é Uma Música Negra ? " está ainda viva e apresenta regular combate ao longo do tempo . Quando eu fui convidado, o que veio pela primeira vez em minha mente foi Duke Ellington , na década de 20 do século passado, falando-me sobre o que disse para Fletcher Henderson : "Por que nós não retiramos a palavra Jazz e chamamos o que estamos fazendo de Negro Music ? Então não mais haverá qualquer confusão" . Henderson deixou passar. Anos mais tarde , quando Louie Bellson estava na banda de Duke Ellington, Duke disse que ele era o mais extraordinário baterista que já tinha escutado.

Nós não estaríamos no Lincoln Center para aquela discussão se não fosse pelas canções de trabalho dos negros , cantigas de roda , música de chamadas e respostas nas igrejas e o blues. Assim é inegável que o jazz começou como uma música negra . No painel, eu propus uma linha, obviamente discutível, entre a continuação dos “criadores” da música e aqueles que foram os músicos “originais”, mas que não foram profundamente modelados em direção ao jazz. Duke costumava-me dizer que as pessoas seguem sua individualidade , e citava Sidney Bechett como exemplo.

Minha lista parcial de criadores, e estou certo que você tem a sua, incluí Louis Armstrong ,Mr. Ellington, Count Basie , Charlie Christian, Charlie Parker , Miles Davis , Thelonius Monk , John Coltrane, Ornette Coleman e Lester Young. Todos negros , e alguns foram influenciados por "não-negros".

Lester Young contou-me que Frank Trumbauer, principalmente conhecido pelo seu trabalho com Bix Beiderbecke, " era meu ídolo. Quando eu começei a tocar, eu comprei todos os seus discos e imaginei que podia tocar todos aqueles solos. Eu tentava alcançar a melodia em dó no saxofone tenor. Aquilo porque eu não soava como outra pessoa.Trumbauer sempre me contou uma pequena estória." Mas Trumbauer , apesar de ser um criador, não influenciou , como Prez diz, a história de incontáveis jazzistas ao redor do mundo.

O moderador daquela noite no Lincoln Center foi o historiador e professor de jazz Lewis Porter. Ele salientou que apesar das origens negras dos criadores, eles possuíam grandes ouvidos e estavam abertos para uma infinita diversidade de influências. Como Charles Hersch nota em seu novo e importante livro “ Subversive Sounds: Race and the Birth of Jazz in New Orleans (University of Chicago Press)” , a cultura do jazz “inclui [transmutações de] quadrilhas , mazurkas e música escocesa”. No painel , mencionei que o viajante do mundo , Duke Ellington, absorveu em sua música as cores , dinâmicas e estórias regionais e nacionais dos sons que ouviu.

Porter enfatizou, “ é típico dos intérpretes da música afro-americana estarem abertos a influências”. Eric Dolphy contou-me que o canto dos pássaros passava a ser parte da sua música. Mas , outra vez, as raízes são negras. Ou, como Porter coloca, tendo aquela abertura “ não a faz não-negra”.

Isto é verdade para os “criadores” e “originais”. Uma lista parcial de “originais” que influenciaram, mas não fizeram mudanças profundas no curso do mundo do jazz abriga músicos “não-negros” como Bix Beiderbecke (que deixou Louis Armstrong maravilhado depois de quatro horas de sessão em Chicago), Pee Wee Russell, Jack Teagarden , Toshiko Akiyoshi , Bill Evans , Jim Hall, Phil Woods e o líder de orquestra Woody Herman.

As raízes negras do jazz nutrem-se destes essenciais “não-negros” e de muitos outros. E um inesperado “criador” como Ornette Coleman que surgiu em Nova York , poderia vir de qualquer parte do mundo . Entre “sets” em uma noite John Lewis e eu conversávamos sobre quem viria a ser o novo guia espiritual , que os outros seguiriam , conforme a frase de Duke Ellington. “Agora mesmo” John disse “em um clube na Rumênia , eu poderia ser um baixista ou um trompetista numa banda local”

Ele ou ela ainda não brotou no firmamento do jazz. E certamente seria ela. Aquela mulher não está na Jazz at Lincoln Center Orchestra porque Wynton Marsalis ainda não encontrou uma musicista, de qualquer nacionalidade , idade ou cor , que esteja dentro dos seus padrões para ser um membro regular . Desde que Wynton faz audições , esta omissão tem me intrigado. Como desafio (uma vez eu sugeri isto ao trompetista), por que não tentar pelo menos uma vez uma audição “cega”?.

O que eu esqueci de adicionar sobre jazz e negritude no painel da Jazz at Lincoln Center foi uma cena que testemunhei em um clube de Nova York onde Charles Mingus (na foto) estava trabalhando. Quando um “set” encerrou, Mingus deixou o palco e começamos a conversar . Um homem nos acercou, com uma tez bastante negra, e apontando para Mingus disse acusatóriamente; “ Você não é negro bastante para tocar o blues! “ . Nem Mingus nem eu tínhamos visto aquele homem antes. Mingus colocou seu braço para trás, cerrou o punho, pensou melhor, dirigiu-se para trás do palco, pegou seu contrabaixo, trouxe para o local onde o acusador ainda estava em pé, e tocou um blues que , como eu senti , estremeceu a casa. O homem sem uma palavra, envergonhadamente, deixou a casa.

Mingus foi um dos amigos mais próximos que já tive , e ele acreditava no que Charlie Parker dizia : “Qualquer um pode tocar esta música se eles podem senti-la” . Ou ouvi-la.

Eu suponho que estas investigações de como é negra esta música, agora ou no futuro, ou se qualquer um pode tocá-la, continuará. Eu prefiro o enfoque de Thelonius Monk para definir a essência do jazz . Como Leslie Gourse reportou em “ Straight No Chaser: The Life and Genius of Thelonius Monk (Schirmer Books) “. Monk falou ao colunista do New York Post em 1960, “ Eu nunca tentei pensar sobre uma definição [para o jazz] . Você imagina conhecer o jazz , quando você o escuta. O que você faz quando alguém lhe dá algo?. Você se sente satisfeito com aquilo” .

Fonte: JazzTimes / Nat Hentoff

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