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sábado, 18 de outubro de 2008

STEFANO BOLLANI – CARIOCA (Emarcy [2008])


Desde que o saxofonista Stan Getz e o guitarrista Charlie Byrd abraçaram a música brasileira no início dos anos 60, o mundo veio conhecer e amar o balanço suave da bossa nova. Os grandes expoentes, João Gilberto e Antonio Carlos Jobim, inspiraram e continuam a inspirar uma miríade de artistas a utilizar seus repertórios. A questão está , nós podemos observar, no passado de Gilberto e Jobim. Canta Brazil (Polygram Records, 1990) e a série iniciada com “Blue Brazil (Blue Note, 1999)” fez um excelente trabalho de apresentar uma pletora de outros artistas brasileiros e estilos de música, mas estes esforços ocorrem raras vezes. Stefano Bollani, por sua vez, está fazendo sua parte com o lançamento de “Carioca”. Ele mergulha no vasto repertório brasileiro que precede a bossa nova, extraindo e polindo pérola após pérola dentro de seu estilo, dando um novo brilho.

Bollani não é um estranho para a música brasileira, tendo , previamente, gravado um álbum inteiro com músicas de Jobim, “Falando do Amor (Venus Jazz, 2003)”, e o entusiasmo do seu toque aqui revela um óbvio amor e afinidade com este tipo de música. O choro e o samba que geraram a bossa nova estão representados em todas as suas diversidades, bem como os ritmos afro-cubanos, tango e estilos europeus , que têm moldado o desenvolvimento da música no Brasil, colorem o material de “Carioca”.

Algumas das canções são familiares, tais como "Tico Tico no Fuba" de Zequinha de Abreu, que após uma provocante introdução de Bollani, galopa junto com belos “licks”, com singulares notas dissonantes a la Jobim. O violão refinado de Marco Pereira faz a introdução do clássico de Ary Barroso "Na Baixa do Sapateiro," talvez melhor conhecido como "Baia." Outra vez , o ritmo é rápido e vigoroso, antes de adentrar em um lento e delicado interlúdio, onde Bollani cuida da melodia. Esta retorna para uma pegada bluseira com Pereira enriquecendo os acordes dentro de um estilo a la Django, trazendo a canção para uma vívida conclusão. É altamente desfrutável o breque , mas falta a real profundidade que o pianista Ahmad Jamal trouxe para esta música.

As demais faixas são menos conhecidas fora do Brasil , tais como "Ao Romper da Aurora" de Ismael Silva, com um toque de tango na introdução que deriva para um samba, com o saxofone e o clarinete combinando belamente e imprimindo calor aos vívidos acordes. "Valsa Brasileira" do grande Edu Lobo é uma vitrine para a doce melancolia do piano de Bollani, que talvez só a alma brasileira possa fazer soar tão bela. Algumas faixas apresentam vocais, sendo a melhor a interpretação aveludada de Zé Renato para a "A Hora da Razão" de Batatinha. Bollani apresenta um número vocal , que é uma rendição ao vivo de "Trem das Onze" de Adoniram Barbosa, interpretada com muito gosto em português e italiano.

A música em “Carioca” é variada e bonita como o próprio Brasil , que suponho tenha sido a intenção de Bollani. Sua performance e arranjos são imaginativos e honra os autores e as tradições das raízes musicais com um toque autêntico e sedutor. E não há um número de Jobim .

Faixas: Luz Negra; Ao Romper da Aurora; Choro Sim; Valsa Brasileira; A Voz do Morro; A Hora da Razão; Segura Ele; Doce de Coco; Folhas Secas; Il Domatore di Pulci; Samba e Amor; Tico Tico no Fubá; Caprichos do Destino; Na Baixa do Sapateiro; Apanhei-te Cavaquinho; Trem das Onze/ Figlio Unico.

Músicos: Stefano Bollani: piano, arranjos, vocal (16); Marco Pereira: violão; Jorge Helder: baixo; Jurim Moreira: bateria; Armando Marçal “Marçalzinho”:percussão; Zé Nogueira: sax soprano ; Nico Gori: clarinete, clarinete baixo; Mirko Guerrini: sax tenor; Zé Renato: vocal (6); Mônica Salmaso: vocal (9).

Fonte : All About Jazz / Ian Patterson

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