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domingo, 29 de março de 2009

THE BAD PLUS - FOR ALL I CARE (Heads Up)


Era inevitável, talvez, que o “The Bad Plus” fizesse um álbum com canções já conhecidas. Cada membro do celebrado trio do Meio-Oeste, o pianista Ethan Iverson, o baixista Reid Anderson e o baterista David King, é um compositor completo, apresentando peças estranhas com novas ideias sobre as fronteiras da harmonia e ritmo do jazz. Entretanto, desde seu surgimento, em 2003, na cena internacional, com uma pesada canção do Nirvana , “Smells Like Teen Spirit”, passaram a obter atenção com suas exploratórias versões de canções pop e do rock, desde “Iron Man” do Black Sabbath ao tema de Carruagens de Fogo.

A manutenção desta faceta em seu trabalho não é uma novidade. Eles tocam músicas da era do rock com humor e irreverência, porém apresentam alguns originais e composições jazzísticas. Esta música é simplesmente a trilha sonora do seu tempo e lugar, tal como o jazz de New Orleans foi para Louis Armstrong e o blues de Kansas City foi para Charlie Parker. Como estes titãs, a música de “The Bad Plus” tem origem na experiência musical que eles conhecem. Assim, o repertório merece um estudo sério.

“For All I Care” é realmente o primeiro álbum deles sem composições originais, ainda que inclua um sucesso “country” de pouca importância como “Lock, Stock and Teardrops” de Roger Miller e limitadas peças clássicas do vocabulário do rock no século XX. É , também, sua primeira gravação com a vocalista e roqueira Wendy Lewis. Este desenvolvimento não é surpreendente, desde que a banda está gravando muitas letras mais relevantes do rock do que aquelas dos “standards” do jazz , que não tiveram, ainda, a devida análise em seu trabalho.

Mas mesmo que um disco de músicas alheias e com uma vocalista aconteça, “The Bad Plus” busca o senso de inovação. “Comfortably Numb” é um exemplo claro. Anderson, o músico mais expressivo, soa ao lado de Lewis, de forma murmurante, em uma seção favorita do Pink Floyd em Lá, para criar uma impressiva malemolência; Iverson, em Si, embeleza-a com elevados e delicados arpejos. Mas na segunda seção em Si, como Lewis canta sobre um entorpecido e perdido sonho, Iverson mergulha em abstrações espiraladas que não são nem entorpecedoras nem melancólicas, apenas enlouquecidas. Lewis, Anderson e King sustentam perfeitamente suas partes contra o que sugere a politonia de Iverson. Isto possibilita explicar porque os músicos parecem soar como se estivessem tocando em diferentes planetas.

O restante é música do tipo ou faz sucesso ou desaparece. “How Deep Is Your Love” sobrepuja a ternura dos “Bee Gees”, graça ao trabalho de Anderson e ao uso das escovinhas por parte de King. “Barracuda” é uma perfeita reelaboração do original “Heart”, sob um eco vocal, em uma hábil reprodução, com Lewis estando bem confortável. Todos os quatro músicos partilham os créditos para a charmosa e singular interpretação de “Feeling Yourself Disintegrate” do “Flaming Lips”. Porém em “Lithium”, King e Anderson estende o final de cada linha do 4/4 para 5/8, um truque habilidoso que faz a canção mais repulsiva. Talvez esta fosse a intenção do “Nirvana”, mas inaudível de qualquer modo. A canção ao estilo “algum dia eu deixarei você”, “Lock, Stock and Teardrops”, dá um clima de ojeriza, que sugere ao destinatário que ele deveria desaparecer rápido. Nos trabalhos dos clássicos, a banda, especialmente, soa prazeirosa em Ligeti’s “Fém” e genuinamente taciturna em “Variation d’Apollon” de Stravinsky, mas fria e mecânica em duas versões de “Semi-Simple Variations” de Babbitt.

A imperfeição do projeto do disco está na manutenção da técnica do “The Bad Plus” em estender as harmonias e ritmos de canções familiares, incorporando Lewis na pegada que é melhor para ela. As letras reduzem a flexibilidade das canções e os instrumentistas não se adaptam. Isto poderia ser evitado ou ao menos aperfeiçoado.

Fonte: JazzTimes / Michael J. West

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