playlist Music

quinta-feira, 12 de março de 2009

E ELE CONTINUA VOANDO .. ....


Em 12 de março de 1955 morria Charles Christopher Parker (1920-1955). Figura importantíssima para a história do jazz, cuja ausência, felizmente para nós jazzistas, foi preenchida por inúmeros seguidores. Nasceu em Kansas City, cidade que recebia diversas orquestras por ser um importante entroncamento ferroviário. As “Jam Sessions” se sucediam e ele sonhava em tocar com seus ídolos.

Originário de família pobre, cujo pai a abandonou quando ele era criança, ganhou da mãe um saxofone alto velho e de marca inferior. Quando atingiu a adolescência já estava casado e viciado em drogas.Ainda bem, se isto serve de consolo, que ele incluiu no rol dos seus vícios, o jazz.

Vivia rondando as casas noturnas na esperança de tocar. Segundo a lenda vem daí seu apelido. Inicialmente, chamado “Yardbird”, literalmente “galinho de quintal”, por viver ciscando em volta dos clubes de jazz, que depois seria encurtado para “Bird”. Há outra versão para seu apelido, que decorre do seu apetite voraz por galetos. Mas os vôos que este pássaro sonoro daria seriam muito altos.

Aos 17 anos passou por uma grande decepção, quando ao se apresentar em uma casa noturna, junto com outros músicos novatos, atravessou o ritmo. Jo Jones , baterista da orquestra de Count Basie, retirou o prato da bateria e arremessou contra ele. Ao cair em seus pés fez imenso barulho, provocando gargalhadas do público. Foi uma tremenda humilhação. Refugiou-se em uma cabana de montanha para curar sua dor moral e aperfeiçoar sua técnica no uso do instrumento. Era autodidata e aprendia ouvindo discos, principalmente os de Lester Young.

Começou a carreira passando a maior parte do tempo na estrada, como era comum em sua época. Tocava de cidade em cidade, em shows conhecidos como “one-nighters”. Durante uma turnê sofreu um acidente de carro, e obteve uma bela indenização de uma seguradora. Aproveitou e comprou um saxofone novo. Era um Selmer que deu vigor a sua entonação. No fim da carreira empunhava um saxofone velho, remendado com elástico, fita adesiva e goma de mascar.

Tinha fixação por Cherokee, tema composto por Ray Noble, líder de orquestra britânico. Era um tema complexo e longo, com 64 compassos, o dobro do padrão, com diversas modulações e intricadas sequências de acordes. Considera-se esta música a sua cobaia para o que viria posteriormente. O próprio Parker retrata este processo:

“Lembro de uma noite que estava “jameando” em uma espelunca da Sétima Avenida, entre as ruas 139 e 140. Era Dezembro de 1939. Eu achava um saco aqueles acordes estereotipados que a gente usava o tempo todo. Sentia que devia existir outra coisa, algo diferente. Às vezes podia ouví-la, mas era incapaz de tocá-la. Pois bem: naquela noite improvisando sobre “Cherokee”, descobri que usando os intervalos mais agudos de um acorde como linha melódica e escorando-os com acordes adequados eu podia tocar aquilo que vinha ouvindo há muito tempo. Foi com se tivesse nascido de novo (reproduzido de Improvisando Soluções de Roberto Muggiati)“

No começo de 1942, participando da orquestra de Jay McShann, gravou um pequeno solo de Cherokee, que antecipava o que seria a “revolução” do bebop. A obsessão por esta canção culminaria, em 26/11/1945, em uma composição chamada “KOKO”, gravada pela Savoy. Nesta seção Dizzy Gillespie se desdobrou no trompete, expondo e retomando o tema, e ao piano, pois o pianista havia desaparecido, acompanhando o solo de Parker. São dois minutos e quarenta e seis segundos, em que Parker ocupa cerca de dois minutos com sua improvisação. Este foi o momento em que ele assumiu a liderança de toda uma geração.

Charlie Parker morreu antes de completar 35 anos. O médico que o atendeu escreveu em seu relatório que ele aparentava ter mais de cinqüenta anos. Ele foi excessivo em tudo. E como todo gênio, há em torno de si uma aura de lenda, como bem relata Roberto Muggiati no seu livro Improvisando Soluções :

“Parker morreu em Nova York numa noite de sábado, 12 de março de 1955. No dia seguinte, com um céu azul sem nuvens, um trovão insano se fez ouvir em toda Manhattan. Àquela altura, vários muros da cidade e paredes do metrô apareciam rabiscados com a frase BIRD LIVES, algo como “BIRD está vivo”. E dias depois, num concerto de jazz em memória de Parker, uma pena branca de pássaro caiu do alto das coxias e pousou suavemente sobre o palco.”

Nenhum comentário: