
Este artigo do Ruy Castro publicado na Folha de hoje tem nosso amigo Cravinho como protagonista e está interessantíssimo.
Boa leitura
Sérgio Franco
Gardênia no cabelo
RUY CASTRO
RIO DE JANEIRO - Em 1948, o baiano Jorge Cravo, Cravinho, 21 anos, relapso estudante de administração em Nova York, não saía do cinema. Não pelos filmes, de que não queria nem saber, mas pelos minishows de palco que os cinemas apresentavam entre as sessões -cinco ou seis por dia, estrelando um grande cantor ou orquestra.
Com um único ingresso, Cravinho assistia ao primeiro show, via o filme uma vez, assistia ao segundo show, dormia na sessão seguinte, assistia ao terceiro show, ia namorar a garota da bombonière durante mais uma sessão e assim por diante. E quem se apresentava nos cinemas? Frank Sinatra, Duke Ellington, Billy Eckstine, Tommy Dorsey, Nat King Cole etc. Certo dia, foi a vez de Billie Holiday.
Ao fim do último show de Billie, o emocionado Cravinho postou-se nos fundos do cinema e a viu sair, linda, de vestido justo e gardênia no cabelo. Seguiu-a até um botequim, entrou também e sentou-se ao balcão, a um ou dois banquinhos da deusa. Mas respeitou sua solidão e não a importunou.
Dois anos depois, de volta ao Brasil, Cravinho escreveu-lhe uma carta, aos cuidados da Decca, sua gravadora, convidando-a a cantar na Bahia. Para sua surpresa, Billie respondeu, autorizando-o a falar com um brasileiro amigo dela, chamado Guinle (Jorginho, claro), a respeito disso. Mas nada resultou, e a própria carta se perdeu.
Passaram-se séculos e, nos anos 80, Cravinho vendeu sua fabulosa coleção de LPs de cantores de jazz para um americano. E pode-se imaginar a surpresa deste ao abrir um LP de Billie Holiday e ver cair uma carta da cantora, dirigida a seu fã brasileiro, o qual só depois se lembrou de que a guardara dentro de um disco.
Nesta sexta-feira, são 50 anos da morte de Billie. Foi uma morte anunciada, mas Cravinho e o mundo até hoje não se refizeram.
Aproveito para transcrever a seguir postagem feita pelo Edson em 27 de setembro de 2.008 quando Cravinho participou pela primeira vez de uma de nossas reuniões na SOJAZZ:
"DIA DE ORGULHO PARA A SOJAZZ !
Hoje em nossa reunião "sabática" tivemos a honra de receber uma figura histórica da cena jazzística baiana : Jorge Cravo (Cravinho) .
Autor do belo livro " O Caçador das Bolachas Perdidas", com seu conhecimento e simpatia , abrilhantou nosso encontro. Esperamos que as visitas sejam constantes . Vejam a foto em que , com orgulho, registramos a visita.
Da esquerda para a direita : Oscar (provavelmente em busca da bolacha perdida de Chet Baker), Yaci, Murilo ( o mascote do grupo), Pinho, Edson, Lantyer, Mecenas (que nos proporcionou esta visita), Sergio Franco (Presidente da Sojazz) e nosso ilustre visitante.
A foto foi feita pelo nosso querido dublê de fotógrafo e trompetista : Sérgio Benutti "
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