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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

SPOKFREVO “FREVE” O TCA


A Origem da palavra frevo vem de ferver, por corruptela, “frever”, que, de acordo com o Vocabulário Pernambucano, de Pereira da Costa, passou a designar: efervescência, agitação, confusão, rebuliço; apertão nas reuniões de grande massa popular no seu vai-e-vem em direções opostas, como ocorre no Carnaval.

Aquilo que o povo alimentava no boca a boca e no pula-pula, teve sua primeira referência em um periódico do Recife, o Jornal Pequeno, que mantinha uma seção carnavalesca da época, sob a responsabilidade do jornalista "Oswaldo Oliveira", em 12 de fevereiro de 1907, referindo-se a um tipo de música apresentada pelo clube dos Empalhadores do Feitosa, do bairro do Hipódromo. Como reconhecimento da importância deste fato, a Prefeitura da Cidade do Recife registrou como a data de origem do frevo 09 de fevereiro, tendo em 2007, comemorado o seu centenário durante o carnaval pernambucano.

Mas aquilo que parecia um devaneio de Nelson Ferreira, maestro e compositor, ao declarar, na década de 40, que o “frevo ainda vai fazer sucesso nos Estados Unidos” ou que esta música é uma mera diversão, sem maiores comprometimentos, passa a ganhar outros contornos com as frequentes turnês de sucesso da SpokFrevo,(na foto), na Europa, onde teve que prolongar sua temporada para atender ao pedido do presidente francês Nicolas Sarkozy, culminando com a apresentação final, no “Palais de l´Elysée”, no Dia Internacional da Música, ou ter de aproveitar uma folga para ir à cidade de Nazaten, Holanda, para ensinar uma orquestra local a tocar frevo ou apresentando-se no Festival de Montreux, onde provocou disputas por lugares e pedidos de cópias de partituras por músicos e maestros .

Vale a pena dar a palavra a Zé Flauta, um dos diretores, produtores e idealizadores da SpokFrevo Orquestra, criada em 2003, ao chegar em Recife após a quinta temporada internacional em um ano :

“Sou testemunha ocular e auricular, embora muito suspeito, por pertencer à diretoria da SpokFrevo Orquestra, de um fato que está mexendo com o conceito da música moderna hoje na Europa. Quando em 2003 resolvemos fazer um frevo rebuscado, dirigido a uma platéia sentada e calada, diferente dos dias de Momo – onde o frevo é executado de qualquer jeito, sem grandes ensaios para um público instigado pela folia, pelo passo e pela alegria – tínhamos plena consciência do que estávamos fazendo e nos metendo. Houve e há quem nos critique até hoje, e eu não tiro a razão deles, pois nunca prestaram a devida atenção ao ritmo como arte e linguagem musical, apenas como trilha sonora do encanto carnavalesco pernambucano, o que é uma magia, linda e maravilhosa, embora não seja tudo! Sempre nos questionamos por que o frevo não era executado durante todo o ano e eu sempre achei isso fácil de responder: Porque é uma música exclusivamente carnavalesca, sem chances para outras ocasiões, talvez para um réveillon ou um final de festa apoteótico. Depois do surgimento da SpokFrevo Orquestra, esse conceito mudou completamente, o frevo passou a ser tratado como ator principal e não mais como coadjuvante. Mostrar o frevo com a dignidade dessa orquestra é inédito em nossa história. Tocá-lo de paletó e gravata, numa manifestação de respeito e carinho, com uma orquestra completa e arranjos modernos, dando aos músicos a liberdade de expressão, assim como no jazz, ninguém fez antes da SpokFrevo. Não mesmo! Uma tentativa aqui, outra ali, e nada mais. Um trabalho com uma consistência estética e musical desse grupo é inédita e bastante louvável.” .

Foi esta Orquestra que participou do XVI Festival de Música Instrumental da Bahia de forma apoteótica. Não pela alegria da música em si, mas pela capacidade de aliar esta verve carnavalesca a arranjos muito bem elaborados e a performances competentes dos músicos, demonstrando o senso jazzístico e perfeita interação. Spok disse no show, que o que mais o encantava era o silêncio, ou seja, ver a plateia ouvindo o frevo , sentadas , caladas e no final aplaudir calorosamente! .Isto não os impede de continuar tocando no carnaval, no meio do povo, nos palcos e pólos de animação, afinal se assim não fosse, não seriam pernambucanos.

A SpokFrevo Orquestra já esteve em vários países da Europa e também na China, na Índia, na Tunísia, na África do Sul, sempre completa e apresentando um frevo de alta qualidade, aplaudidíssima a cada show que faz. A forma de tocar frevo impressiona principalmente ao público apreciador do jazz, da música instrumental, da World Music. Seu CD e DVD são encontrados ao lado de grandes nomes como Sony Rollins, Quincy Jones, Chick Corea, para citar alguns, e ainda obtém o selo “novidade”.

A Orquestra tem se apresentado em requintados clubes e festivais de Jazz da Europa, sendo assistidos por mais de 300 mil pessoas em mais de 40 apresentações. Em Paris, gravaram para a RTL, uma das mais importantes rádios francesas, que atinge, segundo estimativas, um público de 300 mil ouvintes.

Lembro que a primeira vez que tive acesso ao trabalho da SpokFrevo,o CD Passo de Anjo, foi através de um amigo, Pinho, companheiro da SOJAZZ, que em uma de suas viagens de trabalho, ganhou o disco, que posteriormente foi “reembalado” pela Biscoito Fino. Como sou pernambucano, a primeira coisa que fez foi me emprestar. Paixão à primeira audição.

No ano passado estiveram no Festival de Jazz da Praia do Forte, onde junto com outros companheiros da SOJAZZ, tivemos o prazer de conversar com Spok sobre o seu trabalho e a repercussão dele na Europa, e ele modestamente nos disse algo, que demonstra o seu espírito: “Gente eu não quero parecer boçal, ou metido, mas o show que faremos no próximo ano na França já está com a lotação esgotada”. Este espetáculo ocorreu na Normandia. O resultado foi a necessidade de fazer dois shows para possibilitar aos que estavam do lado de fora ter a oportunidade de vê-los

Em Londres , apresentaram-se no “Barbican” e no final desceram do palco e foram para fora do Centro Cultural arrastando a platéia, mostrando como se faz o nosso carnaval. Pelo menos os londrinos, participaram de um arrastão sob outro prisma.....

No show de ontem , como sempre fazem , convidaram carinhosamente músicos locais para participar, e lá estavam Joatan Nascimento, Letieres Leite, Júnior Maceió, Firmo do Acordeon, que é pernambucano, mas fixado em Salvador

Ao final, olhou para a escadaria do Teatro Castro Alves e disse : "Isto está parecendo a ladeira da Sé em Olinda", e não se fez de rogado. Saiu tocando com a Orquestra, levando a platéia para o hall do Teatro, com um rei Momo à frente , que o pessoal da SOJAZZ imagina quem seja, e grande participação da colônia pernambucana, que compareceu em grande número, eu inclusive, que entoava os hinos de Pitombeiras ou Elefante de Olinda , quando instigados pela orquestra, e outros clássicos do frevo pernambucano, que me remeteram a lembranças maravilhosas da infância.

Realmente, a SpokFrevo faz jus a tudo de bom que se diz dela. E quem ouviu com atenção a performance solo de Spok para clássicos de Luiz Gonzaga, eleito o pernambucano do século, com a inclusão de Lamento Sertanejo de Dominguinhos e Gilberto Gil, tem que dar razão ao que está escrito em seu primeiro disco, o outro já está no forno: “O Frevo está para o Capibaribe assim como o Jazz está para o Mississipi”.

Um comentário:

Gustavo Cunha disse...

salve Edson
é gratificante a dimensão que toma a nossa música trazendo a influência das big bands ao som regional

valeu !

abs,