playlist Music

terça-feira, 2 de novembro de 2010

JAN GARBAREK/ THE HILLIARD ENSEMBLE – OFFICIUM NOVUM (ECM) [2010]


Com o inesperado sucesso massivo de “Officium (ECM, 1994)”, a primeira colaboração de Jan Garbarek com o The Hilliard Ensemble, seria fácil também para o saxofonista norueguês e o grupo vocal britânico descansar sobre suas glórias, e simplesmente repetir a fórmula. Porém, enquanto “Officium” apresentava um repertório estruturado em antigas músicas, indo do canto Gregoriano para as polifonias , sobre os vôos altos das improvisações de Garbarek, o disco duplo que se seguiu, “Menemosyne (ECM, 1999”, expandiu o seu campo de ação introduzindo uma natureza mais contemporânea, incluindo fragmentos de notações místicas que encorajou o “The Hilliard Ensemble” a improvisar ao lado do saxofonista. Uma década mais tarde, “Officium Novum” continua a estender sua relação notável com expansivas perspectivas, colocando na música um distinto sabor oriental com considerável foco na música composta ou adaptada pelo compositor armênio Komitas Vardapet (1869-1935).

Como em “Mnemosyne”, as linhas entre a forma e a liberdade são completamente e totalmente embaraçadas por Garbarek e The Hilliards. Mesmo quando se voltando para uma ou duas composições de Garbarek , a primeira vez que este grupo adaptou uma peça do repertório do saxofonista, no caso a tranquila "We are the Stars", ouvida pela primeira vez no seu disco “Rites (ECM, 1998)” , onde Garbarek a apresentou com um grande coral de jovens rapazes, é difícil conhecer onde termina a citação e começa a improvisação. Mais provável, é o caso de um tangenciamento com melodias preconcebidas e linhas impulsionadas para o éter ocupando o mesmo espaço multidimensional.

Como sempre, a atenção de Garbarek para a pureza e precisão de cada nota é emparelhada pelo contratenor David James, pelos tenores Roger Covey-Crump e Steven Harrold, e pelo barítono Gordon Jones. Utilizando os saxofones tenor e soprano, Garbarek acrescenta o grupo vocal no fim do espectro, movendo-se abaixo e elevando-se acima, frequentemente dentro da mesma frase. Os instrumentos e as vozes mesclam-se sem esforço, engendrando uma combinação curiosa e paradoxal entre paz e paixão.O vigor deste particular conjunto, mesmo em breves momentos de dissonâncias, como na abordagem de The Hillards para composições originais de Garbarek, "Allting finns", só serve para criar um momentâneo senso de tensão que suavemente resolve voltar para uma beleza translúcida.

Uma vez mais gravada na acusticamente profunda Propstei St. Gerold na Áustria, uma locação favorita quando a gravadora busca colocar o som da sala em igualdade de condições para os músicos que estão atuando. A pureza tímbrica une-se à transparência sonora. Mesmo quando as cinco vozes fundem-se sem emenda, cada parte pode ser discernida com imaculada clareza.

O repertório de “Officium Novum” é mais intrigante ainda, encontrando um nexo onde Garbarek e Vardapet podem coexistir com o compositor estoniano Arvo Pärt, cuja música "Most Holy Mother of God" representa o seu ponto alto espiritual , e o compositor do século XIII , Pérotin, cuja composição "Alleluia, Nativitas" representa a mais alegre interpretação de Garbarek e The Hilliard Ensemble. Se a música significa uma experiência de sentimentos , então “Officium Novum” é transcendentemente o melhor de Jan Garbarek and The Hilliard Ensemble.

Faixas : Ov zarmanali; Svjete tihij; Allting finns; Litany: Litany, Otche nash tradition, Dosoino est; Surp; Most Holy Mother of God; Tres morillas m'enamoran; Sirt im sasani; Hays hark; Alleluia Nativitas; We are the stars.

Músicos: Jan Garbarek: saxofones soprano e tenor; David James: contratenor; Rogers Covey-Crump: tenor; Steven Harrold: tenor; Gordon Jones: baritono.

Fonte : All About Jazz / John Kelman

Nenhum comentário: