O mais importante a respeito de Irresistível Miudinho talvez seja o fato de que tenha transformado uma esquecida música de época em vivência do presente. Incitado pelo escritor Ariano Suassuna, e com ajuda estatal, o pianista e arranjador Deneil Laranjeira se fez acompanhar de violoncelos e percussão para recriar a obra do pernambucano Alfredo Gama(1867-1932), conhecido como “o Ernesto Nazaré do Norte”.
A música desse autor surge alegremente ritmada no disco, como a repetir a ambientação dos bailes e saraus de outro século.
Desse trabalho gravado, nasceram apresentações ao vivo em Pernambuco entre agosto e novembro do ano passado. As 13 faixas, entre 250 composições deixadas pelo compositor, sugerem que é preciso dançar, namorar e esquecer-se da lida do trabalho para viver.
Aprovadas pelo Conselho Municipal de Cultura por meio do Sistema de Incentivo à Cultura do Recife, as gravações reiteram a leve amorosidade e, por vezes, a excitação que a vida sugeria a esse juiz de comarca do interior de Pernambuco. Ele era um sentimental. E inspiraria cantores como Vicente Celestino e Francisco Alves a navegar por sensações nativas de saudade e caboclice. Suas composições são intituladas com inocência, a julgar por Miudinho, Noites de Estio, De Mansinho, Faceira, Batucando e Ave do Paraíso.
Seu Brasil é anterior àquele que faria do samba a música da modernidade. Tudo parece propositalmente intenso e sonhador nessas melodias que amarram o ouvinte desde a primeira escuta.
Fonte: CartaCapital / Rosane Pavam
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