O pianista Fred Hersch quase morre em 2008, quando sentiu as complicações da AIDs e passou sete semanas em coma. A recuperação foi dura , a retomada do seu extenso e alto nível da sua capacidade artística, incerta—uma incerteza apagada sem um rastro por “ Whirl (Palmetto Records, 2010)”, um trio seguro, vibrante bonito que seria certamente exibido em qualquer lista bem informada sobre os dez melhores trabalhos de trio de piano da primeira década deste novo milênio.
Há uma sutil alteração na sonoridade de Hersch após a doença. É o que sua colega pianista, Jessica Williams, que sofreu seus próprios problemas de saúde, chama de "doença como professora" : uma visão clara e definida e uma abordagem vinda da limpeza do periférico e desimportante.
“Alone at the Vanguard” é um trabalho de piano solo de Hersch, gravado na última noite das seis ocorridas no consagrado clube de Nova York, onde inumeráveis grandes jazzistas estabeleceram sua corte e gravaram grandes performances, resultando em álbuns clássicos. Hersch abre seu trabalho com uma introdução vislumbrante para "In the Wee Small Hours of the Morning", uma antiga jóia do grande repertório norte-americano que é polida frequentemente. Hersch tem como ignorar a regra “nunca inicie com uma balada" : um maleável e belissimo toque ; um aguçado foco na melodia ; um profundo senso de harmonia clássica e uma capacidade mágica para se inserir na música e fazê-la como se fosse sua. O som de Hersch , aqui, tem uma incomum dinâmica frágil/forte, que é sincera e cerebral com uma simplicidade em contraponto bem sucedida por uma rica complexidade , nascida da sua imersão na música durante toda sua vida.
Nesta apresentação com nove canções, Hersch oferece quatro maravilhosas composições próprias: "Down Home", dedicada ao guitarrista Bill Frisell, que tem um vistoso e alegre sentimento de brilho; "Echos"´que é uma jornada interior, plena de esperança e suntuosidade harmônica; "Lee's Dream", que é para a legenda do sax alto,Lee Konitz, e apresenta uma vibração solar, cintilante e galhofeira e "Pastorale", dedicada a Robert Schumann, que evoca o conhecimento clássico de Hersch.
Hersch dá a "Doce de Côco" de Jacob de Bandolim um senso de alegria endiabrada, e ele desacelera o standard "Memories of You" e a leva para uma pregação meditativa.
Quase todos os pianistas de jazz gostam de mergulhar nas idiossincráticas composições de Thelonious Monk, e Fred Hersch não é uma exceção,porém poucos os fazem bem. Seu estudo de "Work" de Monk soa com um toque jovial , pleno de cada movimento erudito “ herschniano” , alegre e ao mesmo tempo majestoso. A faixa que encerra a seção foi demandada por um bis : “Doxy” de Sonny Rollins. Hersch apresenta esta música na medida regulada, esboçando o som dentro de um ânimo intempestivo e blueseiro , uma grandiosa devoção de uma excepcional noite de música no Village Vanguard.
Faixas: In the Wee Small Hours of the Morning; Down Home; Echoes; Lee's Dream; Pastorale; Doce de Coco; Memories of You; Work; Encore: Doxy.
Fonte : All About Jazz / Dan McClenaghan
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