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sábado, 19 de fevereiro de 2011

RESGATE FEMININO



Zé Pedro fez-se notório como DJ de música eletrônica de inflexões pop, às vezes populista. Por trás da figura divertida e espalhafatosa sempre esteve um apaixonado por música brasileira, notadamente pela gigantesca tradição de nossas grandes (e médias e pequenas) intérpretes femininas. É esse “Zé Pedro do B” que vem a público agora como proprietário e diretor artístico de uma gravadora Joia Moderna , ao que parece destinada a resgatar cantoras desvalorizadas pela agonizante indústria fonográfica de massa.


A inauguração do selo se dá com o lançamento simultâneo de quatro títulos, todos eles orientados(quando não idealizados) por Thiago Marques Luiz, produtor de amores e propósitos semelhantes aos de Zé Pedro. Estão aqui a volta de Cida Moreira, o primeiro disco de Zezé Mota em 11 anos e a retomada de uma intérprete, Silvia Maria, que havia deixado um solitário álbum emepebista de 30 anos atrás e se reintegra à música com Ave Rara, de imensa melancolia.


Sempre rascante e essencialmente teatral, Cida Moreira honra sua concisa discografia no econômico A Dama Indigna (na foto). O vínculo brechtiano faz a delícia de caprichos em vozeirão e piano como Soul Live, de David Bowie quando era Ziggy Stardust, Palavras (com tempo ruim/todo mundo também dá bom dia) do intenso e palavroso Gonzaguinha, a mítica Mãe ,de Caetano Veloso (cantada originalmente por Gal Costa) e , tudo a ver com a atmosfera geral, Back to Black, da rebelde sem causa Amy Winehouse.


Zezé, atriz, começou a trajetória musical em 1975, pautada por rebeldia artísitica, identidade negra e temáticas desafiadoras (Três Travestis, de Caetano Veloso saiu em compacto em 1982, e teve na voz de Zezé sua única tradução gravada). Amparada nas obras iconoclastas de Luiz Melodia e Jards Macalé, Negra Melodia é o retorno da intérprete a caminhos tortuosos e a dois autores que sempre tiveram muito a ver com ela. Não é audaz como já foram Macalé, Melodia e Zezé. Mas contém instantes de profunda beleza, como a rara Soluços, de Macalé.


A primeira leva da Joia Moderna se completa por A Voz da mulher na Obra de Taiguara, tributo feminino à obra do compositor nascido uruguaio, atado à canção brasileira de protesto e morto precocemente em 1996. Por entre arranjos morosos , brilham sutilezas de Fafá de Belém, Célia, Vânia Bastos e , sobretudo, Evinha, ex-Trio Esperança.


Fonte : CartaCapital / Pedro Alexandre Sanchez

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