Há poucos artistas que podem sintonizar o fervor espiritual de John Coltrane melhor do que Dave Liebman. Liebman foi profundamente inspirado por Trane, e levou duas décadas para renovar a confiança para revisitar o trabalho do legendário saxofonista. Liebman esteve completamente sob o fascínio de Trane, conforme admite, e foi como ter uma epifania musical. Liebman desenvolveu uma voz singular e única que sua ampla entonação no saxofone tenor e seu melancólico, quase esmagador lamento no soprano, marca-o como um dos mais característicos estilos neste instrumento em toda música moderna. Liebman é, claro, enraizado na música modal, mas seu enfoque não é totalmente tão inflamado quanto o de Coltrane. Seu grasnar e lamúrias são mais curtos. Suas linhas mais elásticas (especialmente no soprano), e ele respira o modo Lydian mais agradavelmente no fluxo e refluxo do seu toque.
Em “Lieb Plays the Blues á la Trane”, põe fogo com perceptível fervor para o blues, criando as profundas emoções em toda sua majestosa narração de estórias.Há lamentação, bem como o mercurial grito de prazer. Poucos podem invocar o espírito do blues como Liebman, porque poucos artistas têm pago suas dívidas e triunfado sobre as adversidades como o saxofonista tem. Deste modo, há uma evidente honestidade e uma sinceridade profunda na sua forma de tocar. O toque de Liebman—como Trane—é o choro de uma alma torcendo e atravessando a labuta da vida . Sua lamentação estridente em "Village Blues" é o mais empolgante movimento de emoções que será ouvido no saxofone soprano por muito tempo.
É uma tentativa clara de Liebman exibir o blues com o sentimento e fervor de Coltrane, e através disto mantendo a música viva. Isto ele realiza ao trabalhar com uma espécie de devoção matafísica (mais que musical) aos aspectos do blues. Ele faz , entretanto, uma interpretação metafísica dentro da música, do mesmo jeito que poetas como John Donne e Andrew Marvell fizeram séculos atrás. Liebman é atualmente um espírito venerável que dispende sua vida em busca da pureza do conhecimento através da música. É este aspecto de seu trabalho artístico que faz dele um espírito congênere ao de Coltrane, antes que as mundanas similaridades de execução nos saxofones soprano e tenor.
Em boa medida, Liebman também adiciona algum esquema clássico do blues para este lançamento. Por exemplo, há "All Blues" de Miles Davis e a vigorosa e comovente obra dramática de Coltrane, "Up Against the Wall", que está repleta de tensão dinâmica , que é quase cristalina na entonação e estilo. Para alívio, há "Mr. P.C,", um tributo de Trane ao baixista Paul Chambers e "Take the Coltrane" um maravilhoso arranjo que Duke Ellington escreveu para seu clássico trabalho com Coltrane. Todos são exemplos que apresentam engenhosas guinadas e ações nas mãos de Liebman neste álbum de vigoroso blues.
Faixas: All Blues; Up Against the Wall; Mr. P.C.; Village Blues; Take the Coltrane.
Músicos: David Liebman: saxofones soprano e tenor ; Marius Beets: baixo; Eric Ineke: bateria.
Fonte : All About Jazz / Raul d'Gama Rose
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