Em 2001, Norma Winstone entrevistou um vocalista britânico que se referiu a Kenny Wheeler como "o Duke Ellington de nosso tempo". Wheeler, cuja reputação cresceu apesar da sua tranquila humildade , não deve possuir a distinta marca popular de Ellington, o que não significa que sua música seja menos distinta ou pujante, e com amplo alcance: sua música é estudada com detalhe em universidades ao redor do mundo. Seu trabalho com grandes grupos assemelha-se a uma big band. Não sendo um nome familiar , não significa deficiência de significância, com o lugar de Wheeler assegurado na história do jazz como um dos mais importantes compositores em meio século passado.
Igualmente influente em seu instrumento — com impecável controle facilitando o ardor do seu inconfundível lirismo melancólico com súbitos saltos para a estratosfera— não há danos advindos da dureza dos rigores da idade. Wheeler, 81 anos, deve estar predisposto para o alcance médio do seu flugelhorn em “One of Many”, mas pode surpreender , executando emocionantes intervalos súbitos durante "Anticipation", o segundo dos nove trabalhos que aparece, pela primeira vez ,nesta quinta gravação de Wheeler para o selo italiano Cam Jazz desde a sublime estreia com o duo com seu pianista preferido , John Taylor, “Where Do We Go From Here? (2004)”.
Taylor está de volta em “One of Many”, trazendo a confortável química que os dois partilham desde a gravação de Wheeler com grupos grandes como em “Song for Someone (Psi, 1973)”. Mas o destaque neste trio é seguramente o baixista Steve Swallow, cuja última colaboração com Taylor foi em “New Old Age (Egea, 2005)”. Swallow trabalhou com Wheeler antes, mas é a primeira vez que ele aparece em uma gravação do trompetista—e a primeira vez que Wheeler utilizou um baixo elétrico em suas gravações pelo selos Cam ou ECM . Mais que as óbvias mudanças na aparência—especialmente com o instrumento de Swallow, cuja acalorada e encorpada entonação possui uma clareza única nos registros mais altos—é o seu confortável e melódico papel duplo como âncora rítmica e harmônica que faz “One of Many” um destaque na discografia de Wheeler.
Isto está mais evidente em "Now and Now Again ", reprisado de “The Widow in the Window (ECM, 1990)”. Naquela sessão em quinteto, o robusto baixo de Dave Holland manteve as coisas firmemente no terreno da balada. Aqui, Swallow as mantêm igualmente despretensiosas, mas ocasionalmente se move sem emenda para um sentimento em tempo duplo, emprestando à faixa uma espécie diferente de suingue. Wheeler utiliza unicamente o flugelhorn neste elegante trabalho, basicamente em tempos baixo e médio, entretanto o trio retorna para a agitação em "Anticipation", onde a execução dos registros altos de Swallow entrelaça-se com Wheeler para tortuosas melodias , deixando Taylor a responsabilidade maior de manter para a gente o movimento.
Retornando ao mais direto sopro após o mais direcionado para cordas, “Other People (CAM Jazz, 2008)” , não significando menos peso composicional , só que há maior ênfase na interação interpretativa do trio. Outro soberbo ingresso na discografia de um artista, cuja carreira tem sido marcada pela consistência e o som da surpresa. “One of Many” é mais uma razão para que a comparação de Wheeler com Ellington seja perspicaz.
Faixas: Phrase 3; Anticipation; Aneba; Any How; Cater #5; Ever After (duo version); Now and Now Again; Old Ballad; Fortune's Child; Even After.
Músicos: Kenny Wheeler: flugelhorn; John Taylor: piano; Steve Swallow: baixo elétrico.
Fonte : All About Jazz /John Kelman
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