Como compositor, Laszlo Gardony postula—sem muita oposição—que a inspiração de toda música moderna tem um débito com “o lugar de nascimento de cultura e som : Africa”. Como compositor e pianista ele desenvolve sua hipótese com “Signature Time”, um álbum de considerável e relativa beleza sombria. Dirigido pela natureza percussiva da música africana, em quase contínuo ritmo binário, as composições de Gardony e suas performances são sustentadas pelo balanço ressonante do baixo de John Lockwood e da bateria, maravilhosamente dançante, de Yoron Israel. Gardony também manobra para capturar a inumerável e rica tonalidade sombria que , de outra forma, tem ficado escondida, já que esta é uma performance inusual do pianista.
Gardony não só faz uso completo da natureza rítmica – martelando os acordes para acompanhar os densos movimentos melódicos da sua mão direita – mas não vai muito longe da própria melodia. Preferencialmente, ele usa movimentos lineares para impor acordes descendentes e ascendentes, variando a força que ele manifesta em sua mão esquerda, como investe na progressão das notas , assim ele controla não só o timbre , mas também as mutáveis pinceladas dramáticas das sombras, que explode poderosamente cada vez que um acorde é apresentado ....e então é repetidamente exposto, outra vez, para efeito. Como ele continua provocando os ouvidos com a melodia, Gardony , também, faz uso controlado da surdina do pedal do piano, sustentando notas com efeitos hipnóticos e possibilitando-as ressoar com as raízes das notas de Lockwood.
Gardony reserva o o mais belo toque da natureza do seu tratamento em "On African Land", que soa como forte inspiração de Abdullah Ibrahim e em "Silent Words", apresentada soberbamente pelas pausas controladas de Israel. O pianista também recoloca dois bem conhecidos sucessos dos Beatles na paisagem sonora norte-americana dentro da paisagem africana. "Lady Madonna" é quase completamente remodelada ritmicamente, ecoando, ressoando e desfribilando com imaginativa harmonia e reverberando os acordes. O estonteante arranjo para "Eleanor Rigby" não é menos efetivo , ainda que completamente diferente do magnetismo de "Lady Madonna"—vigoroso e quase ilusório, pintando fantasmagoricamente o caráter que Lennon e McCartney criaram como emergente deste fictício cemitério.
Do início ao fim, o toque de Gardony é luminoso e animado por seriedade reservada a músicos que afiguram ter absorvido a maior parte do mundo secreto da música. No caso de Gardony, seu amor pela história da música. Como seu aliado óbvio, a força do músico sul-africano Ibrahim, Gardony é também profundamente espiritual em seu toque e parece invocar deuses antigos, cuja grandiosidade, mistério e magia inspira sua música com raro esplendor. Ainda que pareça pouco, Gardony está unido em duas faixas pelo igualmente espiritual toque do saxofonista e vocalista Stan Strickland. A bela "Johnny Come Lately" de Billy Strayhorn convenientemente embeleza a atuação de Strickland como "Spirit Dance" para o seu canto. “Signature Time”, também, será lembrado por estas ricas e duradouras cores.
Faixas: With You At The Bridge; On African Land; Lady Madonna; Lullaby of Birdland; Silent Words; Johnny Come Lately; Under the Sky; Eleanor Rigby; Spirit Dance; Bourbon Street Boogie.
Músicos: Laszlo Gardony: piano; John Lockwood: baixo; Yoron Israel: bateria, vibraharp; Stan Strickland: saxofone tenor , vocal (9).
Gravadora: Sunnyside Records
Fonte : All About Jazz / Raul d'Gama Rose
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