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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

MORRE O BATERISTA PAUL MOTIAN






Paul Motian, o reverenciado baterista cujo toque etéreo e abnegado , que possuia um dos mais singulares e identificáveis estilos do jazz, faleceu às 4h52min do último dia 22 em Nova York , conforme informação de um representante da ECM Records. Ele tinha 80 anos . A causa da morte foi myelodysplastic syndrome, uma enfermidade na medula, de acordo com o New York Times.


O saxofonista Joe Lovano, que trabalhou frequentemente com Motian ao longo de três décadas, declarou : “Paul era forte, carismático, com muita energia e paixão. Ele tinha um campo de trabalho completo de energia que você pode ouvir em seu toque, que poderia alterar o ânimo em um nanosegundo. Ele era muito sério e alegre ao mesmo tempo. Ele possuia uma alma bela e criativa, com muito mais amor do que paixão”.


Nascido em 25 de Março de 1931 na Filadélfia, Stephen Paul Motian, de origem armênia, inicialmente tinha seu nome prounciado como MOH-tee-uhn, porém mais tarde simplificou para Motion. Migrou com sua família para Providence, R.I., aos 2 anos e viveu lá até seus anos de ensino médio. Ele começou a tocar bateria aos 12 anos , tomando lições e atuando com instrumentos dos clubes de jazz locais, antes de ingressar na Escola de Música da Marinha em 1950. Enquanto servia, atuava naquela escola de música e, após dar baixa, ele mudou para Nova York, onde passou a trabalhar com vários grupos de jazz .


Os primeiros grandes artistas com quem Motian trabalhou foram Thelonious Monk, Coleman Hawkins, Lennie Tristano, Tony Scott e George Russell, mas sua legenda começou a se formar em 1955, quando ele se uniu ao pianista Bill Evans. Ele permaneceu com Evans por aproximadamente uma década, trabalhando com o grande baixista Scott LaFaro, Chuck Israels e Gary Peacock e atuando na maioria das gravações seminais de Evans, incluindo “New Jazz Conceptions”, de 1956, que foi a estreia de Evans como líder. O grupo Evans-LaFaro-Motian , em álbuns especiais como “Sunday at the Village Vanguard” e “Waltz for Debby”, tem o crédito de ter redefinido o encanto e a interatividade do trio de piano no jazz.


Após deixar a banda de Evans em 1963, Motian veio a ser altamente prolífico, atuando com o pianista Paul Bley (1963-64) e por aproximadamente uma década com Keith Jarrett (iniciando com o disco “Life Between the Exit Signs” em 1967). Motian fez parte do trio de Jarrett com o baixista Charlie Haden e, então, ocorreu o ingresso do saxofonista Dewey Redman, formando o mais famoso quarteto norte-americano dos anos 70.


Jarrett lembra via e-mail : “Paul foi o único em seu gênero: um baterista que pensou sobre a música, não apenas sobre o ritmo, e lançou seu próprio som em tudo onde atuava. Porém ele podia tocar qualquer coisa e com qualquer pessoa. Ele tinha confiança em seu trabalho, e não parava de aprender enquanto envelhecia. Quando ele quis começar a compor, ele aprendeu como fazê-lo. Uma vez, enquanto tocava no Vanguard, eu ouvi um barulho, olhei e Paul não estava na bateria. Mas vindo de trás da bateria estava seu braço,alcançando os pratos , assim ele não perderia a batida. Houve um problema com seu banquinho, mas ele nunca poderia parar de tocar”.



Ele era um ativo colaborador, tocando várias vezes com Don Cherry, Charles Lloyd, Mose Allison, Carla Bley, Warne Marsh e a Liberation Music Orchestra de Charlie Haden. Motian também atuou com Arlo Guthrie, que utilizava elementos do folk misturado com rock nos final dos anos 60, e atuou com a cantora “Alice’s Restaurant” em 1969 no festival de Woodstock.


Motian estreiou como líder em 1972 com um álbum de composições originais para a ECM Records, o mesmo selo em que Jarrett gravava. Jarrett e Haden estavam entre os músicos que acompanharam Motian em sua primeira gravação,”Conception Vessel”. Motian continuou a lançar álbuns pela ECM nos doze anos seguintes, e durante sua carreira também gravou pela Soul Note, JMT e Winter & Winter. Ele retornou à ECM em 2005. Como compositor seu trabalho manteve um brilho e destreza equiparado ao seu toque na bateria. Sua obra incluiu melodias com toques folk, baladas ternas e exercícios dentro de uma atmosfera de delicada linha harmônica.


Em 1981, a gravação pela ECM do quinteto Psalm, Motian estava reunido ao jovem Lovano e ao guitarrista Bill Frisell, seus futuros parceiros em um duradouro e influente trio. Lovano lembra : “Eu tinha 28 anos e Paul chegava aos 50, quando começamos. Era um trampolim para diversas coisas, estando ao redor de uma multidão de mestres como Miles, Philly Joe Jones, Coltrane, Mingus, Max Roach. A audição de suas gravações ajudou na germinação de um rumo como músico jovem , e tocava com ele há 30 anos sempre de forma divertida.....… Desde o tempo que começamos a tocar juntos em 1981, ele, eu e Bill Frisell formamos uma família”.


O trio, às vezes, era acrescido de músicos como Haden, o saxofonista Joshua Redman ou a pianista Geri Allen, gravando tributos para Evans, Monk e canções de shows da Broadway junto a standards e composições de Motian . Nas últimas duas décadas , Motian também gravou com os baixistas Ron Carter, Steve Swallow e Gary Peacock, o saxofonista alto Lee Konitz,o pianista Gonzalo Rubalcaba e Enrico Pieranunzi, dentre muitos outros.


Além de Lovano e Frisell, Motian estimulou outros grandes jazzistas durante seus anos de formação. No início dos anos 90, ele formou a Electric Bebop Band, sem piano, que incluía dois saxofones e duas guitarras. Em 2006 uma terceira guitarra foi adicionada. Entre aqueles que que atuaram na banda estavam os saxofonistas Redman e Chris Potter e os guitarristas Kurt Rosenwinkel, Ben Monder e Steve Cardenas. Escreveu Potter, que lançou o aclamado “ Lost in a Dream” com Motian e o pianista Jason Moran o ano passado : “Eu aprendi muito com Paul. Eu não sei por onde começar. Seu instinto estético era de alto nível, e possuía um vigor interior de completa confiança. Ele foi bastante generoso comigo e com todos os outros jovens músicos que ele inspirou. Eu lhe sou muito grato . Apenas desejaria tocar com ele um pouco mais de tempo !” .


A despeito do fato de Motian ter parado de excursionar a partir de 2004 e ter atuado quase exclusivamente em Manhattan ( seus grupos foram os elementos principais da programação do Village Vanguard ), ele atuou e gravou prolifica e emocionantemente na meia década passada. O mais recente lançamento de Motian como líder foi neste ano , “The Windmills of Your Mind”, pela Winter & Winter, apresentando Frisell, o baixista Thomas Morgan e Petra Haden, a vocalista e filha do baixista Charlie Haden. Uma atuação documental do trio apresentando Motian, o pianista Chick Corea e o baixista Eddie Gomez, “Further Explorations”, está previsto para ser lançada pela Concord Jazz em Janeiro de 2012.


Como homenagem, segue vídeo de Paul Motian atuando com a sua Electric Bebop Band no Chivas Jazz Festival de 2003, interpretando "Brilliant Corners".


http://www.youtube.com/watch?v=p4i3jhyIbho


Fonte : JazzTimes / Jeff Tamarkin


Foto: Robert Lewis




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