O sexteto Escalandrum é o grupo de jazz argentino mais conhecido no mundo atualmente. Não só porque é liderado por Daniel 'Pipi' Piazzolla, neto de gênio Astor, mas pela qualidade de seus componentes que há doze anos executam música de alta criatividade. O Escalandrum se apresentou no BH Jazz Festival no último 29 de janeiro em Belo Horizonte.
Segue matéria de Ricardo Carossino, revista Living Jazz, ano 1 n° 2 (julho de 2011)
Escalandrum nasceu em março de 1999 pela inquietude de Daniel “Pipi” Piazzolla em formar um grupo capaz de dar ao jazz contemporâneo a cor da música de sua Argentina. O nome do grupo surge da combinação de “Escalandrún” (uma espécie argentina de tubarão que Piazzolla gostava de pescar com seu pai Daniel e seu avô Astor), e “drum” (‘tambor’ em inglês).
O sexteto é formado por: Daniel Pipi Piazzolla (bateria), Nicolas Gueschberg (piano), Damian Fogiel (sax-tenor), Martin Pantyrer (sax-barítono e clarinete-baixo), Mariano Sivori (contrabaixo) e Gustavo Musso (ax-alto e soprano). A entrevista, conduzida pelo jornalista Ricardo Carossino, foi concedida pelos músicos Pipi Piazzolla e Nicolas Gueschberg.
RC - Custa muito manter uma banda que não faz música comercial?
PP - Como não é comercial, segue em frente, avançando. Também acontece com os novos músicos do tango, pois nos lugares que tem se ouve os músicos tradicionais, eles tocam para turistas. Como na época de Duke Ellington, o jazz era como o tango aqui, as pessoas pagavam entradas para poder dançar. O nosso caso tem mérito, porque temos doze anos de estrada e o grande segredo é o bom humor entre nós.
RC - Vocês são artistas que fazem uma música elitista?
PP - O jazz é bastante elitista. Mas, desde que esse gênero passou a ter voz própria, uma voz argentina, deixou de ser americano e a gente começou a evoluir para um tipo de jazz.
RC - Então há um jazz argentino?
PP - Sim, para mim há um jazz argentino. Tem uma melodia no jazz argentino que provém do tango. Aqui tem muitos músicos excelentes e o nível compositivo é muito alto, ainda que a técnica e o virtuosismo dos americanos sejam superiores. Aqui se busca a melodia e um desenvolvimento temático, como um conceito de canção.
RC - Vocês se prepuseram a ter uma linha de identidade argentina ou foi por casualidade?
NG - No primeiro ano, ficamos um tempo ensaiando e logo começaram a surgir coisas mais distantes do jazz americano. Ensaiamos milongas em 5/4, com um rítmo de Dave Holland Quintet colocávamos um swing numa chacarera. Somos músicos de formações distintas aos quais interessam falar das coisas daqui. Nunca nos sentimos forçados a fazer determinadas coisas.
RC - Como as composições são trabalhadas?
NG - Eu trabalho com técnicas de composição de uma forma acadêmica, mas as ideias saem de todos os lados como em qualquer gênero. De todas as maneiras, o tema é armado no ensaio.
RC - Como transmite um baterista o que quer na composição de um tema?
PP - O bom baterista dirige para que lado vai a música pelo poder que tem o instrumento. Talvez um baterista possa mudar a cor de um mesmo tema.
NG - E muda o caráter de um tema. A base rítmica se maneja com mais liberdade e um tema pode começar com uma ideia e terminar com outra completamente diferente.
RC - Como conseguiram ter vontade para tocar depois de doze
anos?
PP - Escalandrum seguiu evoluindo porque, cada integrante do grupo cada vez toca melhor que o ano anterior e o grupo está cada vez mais azeitado, porisso temos mais gana de prosseguir.
RC - Como é que se monta uma lista de temas?
NG - Há um cuidado especial em se montar uma lista de temas. Não vamos colocar cinco temas com solos de sax um atrás do outro, pois como temos muitas cores no Escalandrum, não temos necessidade de repetirmos.
RC - O que é mais importante no piano do Escalandrum, a mão direita ou a mão esquerda?
NG - Creio que está dividido. Pessoalmente, tendo uma formação maior, toco jazz de uma forma predominante com a direita; e no tango, a mão esquerda se toca mais. Podemos dizer que a coisa é dividida.
RC - Como se toca Piazzolla sem cair em lugares comuns?
PP - Fomos cuidadosos. Traçamos uma estratégia e escolhemos os temas cuidadosamente. É difícil fazer a música de Piazzolla e também não é. É complicado sair dessas características, porque meu avô criou um estilo fechado em si mesmo; se você acelera um pouco um tema é como não o tocasse tanto, como se caminhasse por cima dele.
RC - Quem faz as linhas do bandoneón?
PP - O sax toca as linhas que tocava meu avô no bandoneón. Tratamos de buscar temas em que o sax não ficasse mal e não se transformasse em algo duro, por que não existe melodias em super estacato. Adaptamos o sax ao que era feito pelo bandoneón.
PP - O sax toca as linhas que tocava meu avô no bandoneón. Tratamos de buscar temas em que o sax não ficasse mal e não se transformasse em algo duro, por que não existe melodias em super estacato. Adaptamos o sax ao que era feito pelo bandoneón.
RC - Tiveram que voltar a escutar a Piazzolla de outra maneira?
PP - Sim, claro. Começamos a ouvir a Piazzolla, a princípio por respeito. Descobre-se que meu avô ia ganhando velocidade nos shows ao vivo. Isso significa redescobrí-lo.
RC - O jazz argentino está crescendo? Há mercado para conter esse crescimento?
PP - O jazz avança e há músicos que tocam de tudo.
NG - Avançou muito no nível compositivo. Nos últimos 10 ou 15 anos os lugares melhoraram muito, e uma das coisas é porque há mais pianos. E a relação com os donos dos espaços de jazz mudou para melhor. Pode-se dizer que se trata de um crescimento.
Discografia
Bar los amigos - 2000
Estados Alterados - 2002
Sexteto en Movimiento - 2003
Misterioso - 2006
Visiones - 2008
Plays Piazzolla - 2011
Sites :
www.myspace.com/escalandrum
http://www.escalandrum.net/
Fonte: Clube de Jazz
Bar los amigos - 2000
Estados Alterados - 2002
Sexteto en Movimiento - 2003
Misterioso - 2006
Visiones - 2008
Plays Piazzolla - 2011
Sites :
www.myspace.com/escalandrum
http://www.escalandrum.net/
Fonte: Clube de Jazz
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