Não há nenhuma narrativa sobre o que um músico imaginativo como
o saxofonista Dave Liebman deve fazer se lhe derem espaço para manobrar, deixar
sua alma voar livre, como o pianista Marc Copland propicia em “Impressions”. É
como se o pianista presenteasse o saxofonista com telas amplas e vazias para Liebman
pintar sua paisagem musical. Liebman não necessita de nenhum convite adicional
para perder-se no oceano de sons não detectados. O saxofonista assume o
personagem de um jovial espírito que alça voo em sua odisseia. O indescritível
espírito de John Coltrane aparece para encher as velas do barco de Liebman. As
coisas mágicas começam a acontecer quando Copland chega mais uma vez para
assistir ao saxofonista em "Maiden
Voyage" de Herbie Hancock. Cada músico faz pirueta ao redor do outro,
descobrindo a técnica e a voz do outro na configuração deste mutável oceano.
Liebman, também querido pelo por pianistas como Richie Beirarch, pega a deixa
de Copland, seu acompanhante. Sua voz imaculada despedaça o ar e deixa as notas
gritar, lamenter e piar. Gritos e lamentosos suspiros perpassam as fendas que
fragmentam o ar.
Liebman está mais explicitamente seguro neste álbum do que
em qualquer tempo de sua longa e ilustre carreira . Ele parece que cria asas
quando toca seu instrumento. Sua música é
preenchida com poesia , que possibilita novas coisas acontecerem como em “Blue in Green" de Miles Davis. Entrementes, Copland é brilhante como sempre, juntando-se a
Liebman em enfáticos e acrobáticos trinados vindos de sua própria linha de
voo. Liebman frequentemente opta por responder e quando ele faz , ele grita e
pia. Às vezes duas notas em um tempo e ás vezes mais. Então, aparentemente para
lembrar a tela vazia, ele inicia a pintura com um som : gotejando notas como
uma pintura na tela do céu , criando aquarelas, sombras e tons com em uma
pintura japonesa. Lembrando o catastrófico dia de 2001, os músicos deixam o
passado, o presente e o futuro colidirem com a imensa tristeza em "WTC".
Seus toques passam a ser mais majestosos com notas agitadas no soprano; salpicando
luz naquilo que o pianista toca, o encantamento desvanecendo no céu ao
entardecer com o sol se reduzindo e os
músicos atuando com rica entonação e cores.
Saxofone e piano trocam palavras, notas e vozes em "Blue
in Green" com os músicos erguendo-se para assumir grandes riscos.Liebman toma
uma decisão rápida , muda o compasso e suinga com prazer. Mergulha em "Lester
Leaps In" e a música soa como uma animada risada salpicada com gritos de
prazer. Aqui, generoso vibrato, asperamente derruba o que é sólido no ar, é
grosseiro como uma lima, oscilando suavemente. Finalmente e como brincadeira de
crianças os dois atacam "When
You're Smiling" e expõem seus corações até o cronômetro musical
transbordar. Porém a
elegância dos dois ecoa. Este relançamento único de “Bookends (Hatology, 2002)”
não é uma gravação como outra qualquer.
Faixas: Cry
Want; Maiden Voyage; Impressions; WTC; Blue in Green; Lester Leaps In; When
You’re Smiling; Blackbeard.
Músicos: David Liebman: saxofones
soprano e tenor ; Marc Copland: piano.
Gravadora: Hat Hut Records
Estilo: Jazz Moderno
Fonte : AllAboutJazz /RAUL D'GAMA ROSE
Nenhum comentário:
Postar um comentário