Essencialmente instrumental, o choro raramente tem letra.
Quem desbravou a anomalia, a partir dos anos 1940, foi a cantora potiguar
Ademilde Fonseca, capaz de singrar com velocidade e fôlego despenhadeiros de
notas como os de Tico-Tico no Fubá (Zequinha
de Abreu/Alberico Barreiros), Brasileirinho
(Waldir Azevedo/Pereira da Costa) e Apanhei-te
Cavaquinho (Ernesto Nazaré /Benedito Lacerda/Darci de Oliveira). A carioca Anna Bello, que estudou canto lírico, popular
e também piano e flauta, desafiou-se a levar adiante o legado de exceção de
Ademilde, a quem convidou para participar de Lágrimas e Rimas. A voz já debilitada da rainha do choro é ouvida
na inédita letra de Klécius Caldas, curiosamente para um baião de Waldir
Azevedo (Arrasta-Pé), e num
depoimento na faixa multimídia, ao final do disco. Ademilde morreu poucos dias após a
gravação, aos 91 anos.
O intenso simbolismo dessa passagem de bastão consuma-se na
escolha arguta do repertório e na esmerada produção de Edu Krieger. Os músicos
estão entre os melhores entre os novos cultores do gênero, como o revelado bandolinista/cavaquinista
gaúcho Luís Barcelos (coautor de Embarcações), o violonista sete cordas goiano
Rogério Caetano e os irmãos cariocas Alexandre(sopros) e Marcel Caldi(piano),
este coautor de Orla de Plutão. No
repertório, ainda, inesperados praticantes do estilo e suas ramificações como
Caetano Veloso (Diamante Verdadeiro), Eduardo Dusek (Injuriado), Chico Buarque (Um Chorinho), Nonato Buzar (A Feira, com Mônica Silveira), Edu Lobo
(Chorinho de Mágoa, com Capinam),
Aldir Blanc (Santo Amaro, com Luiz
Cláudio Ramos e Franklin da Flauta) e Moraes Moreira (Choro Novo com Armandinho), acompanhante ao violão de Anna na
faixa. O choro não perdeu a voz.Assistam ao vídeo para conhecer um pouco deste trabalho
Fonte : CartaCapital / Tárik de Souza
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