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terça-feira, 26 de junho de 2012

ANNA BELLO – LÁGRIMAS E RIMAS


Essencialmente instrumental, o choro raramente tem letra. Quem desbravou a anomalia, a partir dos anos 1940, foi a cantora potiguar Ademilde Fonseca, capaz de singrar com velocidade e fôlego despenhadeiros de notas como os de Tico-Tico no Fubá (Zequinha de Abreu/Alberico Barreiros), Brasileirinho (Waldir Azevedo/Pereira da Costa) e Apanhei-te Cavaquinho (Ernesto Nazaré /Benedito Lacerda/Darci de Oliveira). A carioca  Anna Bello, que estudou canto lírico, popular e também piano e flauta, desafiou-se a levar adiante o legado de exceção de Ademilde, a quem convidou para participar de Lágrimas e Rimas. A voz já debilitada da rainha do choro é ouvida na inédita letra de Klécius Caldas, curiosamente para um baião de Waldir Azevedo (Arrasta-Pé), e num depoimento na faixa multimídia, ao final  do disco. Ademilde morreu poucos dias após a gravação, aos 91 anos.
O intenso simbolismo dessa passagem de bastão consuma-se na escolha arguta do repertório e na esmerada produção de Edu Krieger. Os músicos estão entre os melhores entre os novos cultores do gênero, como o revelado bandolinista/cavaquinista gaúcho Luís Barcelos (coautor de Embarcações), o violonista sete cordas goiano Rogério Caetano e os irmãos cariocas Alexandre(sopros) e Marcel Caldi(piano), este coautor de Orla de Plutão. No repertório, ainda, inesperados praticantes do estilo e suas ramificações como Caetano Veloso (Diamante Verdadeiro), Eduardo Dusek (Injuriado), Chico Buarque (Um Chorinho), Nonato Buzar (A Feira, com Mônica Silveira), Edu Lobo (Chorinho de Mágoa, com Capinam), Aldir Blanc (Santo Amaro, com Luiz Cláudio Ramos e Franklin da Flauta) e Moraes Moreira (Choro Novo com Armandinho), acompanhante ao violão de Anna na faixa. O choro não perdeu a voz.

Assistam ao vídeo para conhecer um pouco deste trabalho

Fonte : CartaCapital / Tárik de Souza

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