É notório que os melhores discos de jazz têm por trás uma
grande estória. Na leitura da estória por trás de “Rayuela”, o novo álbum do saxofonista
Miguel Zenón e do pianista Laurent Coq, eu fiquei intrigado. Após ouvir a
música , eu estava fisgado. Rayuela é uma gravação de um quarteto com Zenón,
Coq, Dana Leong no cello e trombone, e Dan Weiss na bateria, tabla e percussão.
É embasado na novela Rayuela (que foi traduzido para “Hopscotch” e em português
o Jogo da Amarelinha) escrita pelo argentino Julio Cortázar (1914–1984). Considerada uma
obra prima literária, a novela é estruturada em torno de 155 capítulos que
podem ser lidos em sequência, ou seguindo um traçado que o autor concebeu, ou simplesmente
pulando em volta dos capítulos. Assim, como traduzir isto para a música?. Para
começar, Zenón e Coq estavam procurando um projeto para trabalhar juntos. O saxofonista
sentiu que expressando a novela de Cortázar (um dos seus livros favoritos) através
da música seria perfeito por várias razões , incluindo o fato de que a narrativa
passa por Buenos Aires e Paris. Zenón, que
é porto-riquenho, trouxe o instinto latino. Coq, um parisiense, ofereceu a conexão francesa. Então
dentro do espírito do Jogo da Amarelinha, os dois decidiram mudar os papéis. Zenón compôs todas as músicas que tem Paris
como material prima, enquanto Coq escreveu o trablho relacionado a Buenos
Aires, mesmo com o fato de que nunca estiveram lá. Enquanto esta configuração
poderia cair em truque em mãos de artistas menos qualificados, Zenón, Coq & Co. brilham com o poderoso
material inspirado nas palavras e caráter da prosa de Cortázar.
Eles ultrapassam as fronteiras das suas habilidades
composicionais , com Zenón traduzindo diretamente a cadência do texto dentro
das passagens musicais e Coq encontrando texturas e temas no escrito, organizando-os em
cinco “cestas”, uma para cada personalidade. Eles são verdadeiramente
compositores talentosos desafiando, inspirando e alimentado um ao outro – duas
mentes trabalhando para criar uma peça de arte singular e sem emendas.Com
contribuições empáticas de Leong e Weiss, as performances são emocionantes de
ponta a ponta. É música inebriante , por certo, honesta e objetiva o bastante
para impulsioná-los. Eu ainda não li Rayuela (O jogo da Amarelinha), mas o
farei após a audição deste adorável álbum. E, certamente, espero ouvir estes
maravilhosos músicos tocar essas composições
ao vivo. O intinerário de Zenón ,
em seu site, indicava performances de Rayuela no dia dia 05 de Agosto no Newport Jazz Festival e uma excursão pelos Estados Unidos em
Dezembro.
Faixas: Talita; La Muerte de Rocamadour; Gekrepten; Buenos
Aires; Morellina; Oliveira; Berthe Trépat; Traveler; La Maga; El Club de la
Serpiente.
Fonte :
Downbeat / FRANK ALKYER
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