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domingo, 16 de dezembro de 2012

KATE McGARRY – GIRL TALK


“Girl Talk” é um apropriado e inteligente título para este tributo a vocalistas femininas no jazz , que inspirou McGarry ao longo dos anos. Preparando-se para esta gravação , McGarry literalmente ouviu por horas "girl talk" (moça conversa) através de entrevistas gravadas com Sarah Vaughan, Betty Carter, Anita O'Day, Shirley Horn, Nina Simone, Elis Regina, Sheila Jordan, Irene Kral e Abbey Lincoln. Como McGarry  eloquentemente explana  nas notas do disco: "Este ícones foram co-criadores da grande arte do canto no jazz , que faz parte da história da nossa nação, quando as vozes e os sonhos das mulheres eram facilmente silenciados ou desvalorizados. Foi o íntimo relacionamento que eu desenvolvi com essas mulheres através do meu toca-discos, que eu comecei a me capacitar para assumir os modelos femininos e autodeterminação" . Em outras mãos, o lançamento poderia ser mera imitação ou mesmo simples expressão, mas McGarry é bastante talentosa, criativa e segura em sua própria identidade artísitica para fazer acontecer. Aqui ela traz seu costumeiro enfoque pessoal e contemporâneo para  a continuidade da tradição do jazz com maravilhosos resultados.
 Para "We Kiss in a Shadow" o impressionante improviso sem palavras de McGarry conduz a representação pictórica da letra , cantando reflexivamente e com  a busca dos direitos dos homossexuais em sua mente . O toque iluminado do órgão de Gary Versace mantém o ânimo, e o baixista Reuben Rogers e o baterista Clarence Penn providenciam sensibilidade e  apoio firme. O arranjo não convencional de McGarry e seu marido,Keith Ganz, inclui passagens em um dueto superposto da cantora em animadores contrapontos. "Girl Talk" utiliza a versão de Betty Carter como guia. McGarry canta a canção de forma direta, mas com mais que um toque de sarcasmo, o que ela mesma chama de letras “protetoras”. O órgão aveludado de Vercase complemanta, junto com os expressivos solos do guitarrista Ganz, que complementa o quadro. McGarry conclui em estilo musical simples na próxima faixa , divertindo-se com as palavras  de forma  galhofeira.

 McGarry soa um pouco como Anita O'Day em sua interpretação correta de "I Just Found Out About Love" , entretanto sem a audácia rítmica e melódica de O'Day. Ela faz , todavia, um espirituoso scat durante um solo curto de Rogers. "The Man I Love", de forma bem lenta e como um passo de lesma, é como McGarry transmitisse uma insegurança sobre se o homem de sua vida realmente apareceria.O órgão e o piano de Versace e a guitarra de Ganz, misteriosamente, acentuam a combinação do senso de impaciência e esperança. Este rearranjo ou alteração de  McGarry/Ganz  é original e reservado. "O Cantador"  apresenta o espirituoso dueto , em português, de McGarry' com o convidado Kurt Elling. As vozes  combinam-se em harmonia cativante, e as partes solo são cantadas com emoção sincera e não afetada. O violão de Ganz só adiciona ao cativante encontro, efeitos  que prolongam a performance para os ouvintes.  
A fluída e segura vocalização de McGarry durante "This Heart of Mine" é realçada pelo acompanhamento, improvisação e arranjo de Ganz. McGarry explora, primorosamente, os recantos e fendas de "I Know That You Know" com o vigoroso jogo de palavras e agilidade rítmica de O'Day ou Carter, como se "I Just Found Out About Love" fosse apenas um aquecimento. Esta uma desinibida obra prima que só uma verdadeira cantora de jazz  poderia apresentá-la de forma natural e fácil. A voz suave de McGarry é perfeita para "Looking Back", a canção de  Rowles/Ernst sobre lembranças sentimentais. Ela é acompanhada sensivelmente só por Ganz na guitarra, que passa para o violão para um solo magnetizante.

"Charade" exibe outro arranjo superior de Ganz, estruturado pela interação entre o órgão de Versace, o baixo de Rogers e a bateria de Penn. O  organista também desenvolve um extenso solo. O timbre vocal de McGarry é profundo , com contraste mais ressonante que o anterior em  "Looking Back" , um testamento da sua adaptabilidade e alcance. A composição da era das big band de The Jan Savitt ,"It's a Wonderful World", inicia com  scat tranquilo e dentro da tradição do bop. Sua abordagem na letra é , definitivamentte, reminiscente de Carter, com as frases imprevisíveis  - prolongando aqui ou reptindo lá – mas nunca perdendo o caráter inserido na mensagem e suingando sempre.
Faixas: We Kiss in the Shadow; Girl Talk; I Just Found Out About Love; The Man I Love; O Cantador; This Heart of Mine; I Know That You Know; Looking Back; Charade; It’s a Wonderful World.

 Músicos: Kate McGarry: vocal; Keith Ganz: guitarra, violão; Gary Versace: órgão, piano; Reuben Rogers: baixo; Clarence Penn: bateria e percussão; Kurt Elling: vocal (5).
 Gravadora: Palmetto Records

Fonte : JazzTimes / Scott Albin

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