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domingo, 10 de março de 2013

KENNY WHEELER / NORMA WINSTONE / LONDON VOCAL PROJECT - MIRRORS (2013)


O trompetista/flugelhornista/compositor Kenny Wheeler ,que está desafiando a si mesmo aos 80 anos, é seguramente inspirador. “Mirrors” representa sua primeira gravação onde poemas proporcionam a fonte das músicas,  apesar de tê-las compostas há cerca de 20 anos atrás. O projeto foi encomendado para cinco vozes solo em  1998, mas a associação de Wheeler, da cantora Norma Winstone e do London Vocal Project (LVP), liderado por Pete Churchill, traz uma fluidez como uma suíte permanente e escala épica ao conceito original. Os poetas Stevie Smith, Lewis Carroll e  W.B. Yeats providenciam impactantes e diversas imaginações—surreal, visceral e profunda— e Wheeler tece  tudo em suntuosa tapeçaria melódica , onde a linguagem musical é bastante expressiva.
O inimitável vigor de Winstone e as nuances apresentadas por ela sobrepujam os seus  70 anos. É uma performance memorável , entretanto a harmonia entre todas as vozes faz de “Mirrors” um verdadeiro sucesso colaborativo. O baixista Steve Watts, o baterista James Maddren e o pianista Nikki Iles engendra  uma suingante subcorrente, viva e  moderada, que irrevogavelmente se faz presente ao longo do trabalho. Estes músicos desfrutam de um tremendo conhecimento; Winstone e Wheeler gravaram juntos  pela primeira vez em Azimuth nos anos 70 e Iles, o saxofonista Mark Lockheart, Watts e Maddren todos tocaram com Winstone no grupo Printmakers. Pequena maravilha , então, que a evidente química parece fácil e jubilosamente intuitiva.

Os sete sopranos do LVP , oito altos, cinco tenores e cinco baixos são os protagonistas em três números. "Humpty Dumpty" é uma divertida tomada sobre o poema de Carroll, com encantadora passagem dos vocais entre os coros das seções. Uma ilusória intensidade habita o ritmo vocal como um mantra em "The Broken Heart" de Smith, um número particularmente hipnótico pontuado pelo fino solo melancólico de Wheeler. Wheeler e Iles brilham num arranjo suingante de "Black March" de Smith, ainda que sua força ascensional derive primariamente de  cadências mordazes do coro.

A performance de Winstone é a joia da coroa. Seu tom sonhador, uma leitura quase etérea de "Through the Looking Glass"  de Carroll é maravilhosamente harmoniosa. Uma enraizada e doce passagem instrumental , dirigida por  Wheeler e Lockheart, serve como um interlúdio antes do coro restaurar o humor contemplativo. "Tweedledum" de Carroll é similarmente episódica; animado nas passagens do coral , íntimo e indulgente quando Winstone faz a corte, e suingante quando o quinteto entra em ação. A cantora, Iles e Lockheart conferem uma suave  majestade  na aparentemente  circular "My Hat" , um poema de quatro linhas de Smith.  
Winstone e Iles tratam  o espiritual assunto de "The Deathly Child" com um palpável senso de admiração, então quando Winstone não se envolve a banda amolda esta lenda precursora da morte dentro de uma jubilosa celebração. A fatalista visão condição da espécie humana em "Breughel"  de Smith é similarmente vestida em mantos mais suaves dentro de uma adorável melodia à la Burt Bacharach. "The Bereaved Swan" captura os elementos contrastantes da melancolia e lirismo das palavras de Smith, as graciosas ondas do coral formam uma estrutura  para um colorido mais emocional de  Wheeler e Lockheart. O ritmo persuasivo de "My Soul" ressalta o poderoso conteúdo lírico, fornecendo adequada pungência à atuação de Winstone.

Como categorizar esta gloriosa música, a capacidade criativa de Wheeler, Winstone e do LVP? Segue citação de Smith: "Qualquer nome que você me der, eu sou a respiração de ar fresco, uma mudança para você" . E que tal avaliar um Vol. 2— a partir de James Joyce, via Robert Frost a John Cooper Clarke?

Faixas: Humpty Dumpty; The Broken Heart; The Lover Mourns; Black March; Through the Looking Glass; The Hat; Breughel; Tweedledum; The Bereaved Swan; The Deathly Child; My soul.
 Músicos: Kenny Wheeler: flugelhorn; Norma Winstone: vocal; Nikki Iles: piano; Mark Lockheart: saxofones; Steve Watts: baixo; James Maddren: bateria; London Vocal Project: Pete Churchill: Diretor; sopranos: Fini Bearman; Hannah Berry; Jessica Berry; Helen Burnett; Katie Butler; Joanna Richards; Janni Thompson; tenores: Tommy Antonio; Sam Chaplin; Brendan Dowse; Richard Lake; Adam Saunders; altos: Mishka Adams; Paolo Bottomley; Nikki Franklin; Clara Green; Andi Hopgood; Chloe Potter; Emma Smith; Emmy Urquhart; baixos: Kwabena Adjepong; Pat Bamber; Ben Barritt; Pete Churchill; Andrew Woolf.

 Gravadora: Edition Records
Estilo : Jazz Moderno

Fonte : AllAboutJazz /IAN PATTERSON

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