
O trompetista/flugelhornista/compositor Kenny Wheeler ,que
está desafiando a si mesmo aos 80 anos, é seguramente inspirador. “Mirrors”
representa sua primeira gravação onde poemas proporcionam a fonte das músicas, apesar de tê-las compostas há cerca de 20 anos
atrás. O projeto foi encomendado para cinco vozes solo em 1998, mas a associação de Wheeler, da cantora
Norma Winstone e do London Vocal Project (LVP), liderado por Pete Churchill, traz
uma fluidez como uma suíte permanente e escala épica ao conceito original. Os
poetas Stevie Smith, Lewis Carroll e W.B. Yeats providenciam impactantes e diversas
imaginações—surreal, visceral e profunda— e Wheeler tece tudo em suntuosa tapeçaria melódica , onde a
linguagem musical é bastante expressiva.
O inimitável vigor de Winstone e as nuances apresentadas por
ela sobrepujam os seus 70 anos. É uma
performance memorável , entretanto a harmonia entre todas as vozes faz de “Mirrors”
um verdadeiro sucesso colaborativo. O baixista Steve Watts, o baterista James
Maddren e o pianista Nikki Iles engendra uma suingante subcorrente, viva e moderada, que irrevogavelmente se faz
presente ao longo do trabalho. Estes músicos desfrutam de um tremendo
conhecimento; Winstone e Wheeler gravaram juntos pela primeira vez em Azimuth nos anos 70 e Iles,
o saxofonista Mark Lockheart, Watts e Maddren todos tocaram com Winstone no
grupo Printmakers. Pequena maravilha , então, que a evidente química parece
fácil e jubilosamente intuitiva.
Os sete sopranos do LVP , oito altos, cinco tenores e cinco
baixos são os protagonistas em três números. "Humpty Dumpty" é uma
divertida tomada sobre o poema de Carroll, com encantadora passagem dos vocais
entre os coros das seções. Uma ilusória intensidade habita o ritmo vocal como
um mantra em "The Broken Heart" de Smith, um número particularmente
hipnótico pontuado pelo fino solo melancólico de Wheeler. Wheeler e Iles brilham
num arranjo suingante de "Black March" de Smith, ainda que sua força
ascensional derive primariamente de cadências
mordazes do coro.
A performance de Winstone é a joia da coroa. Seu tom
sonhador, uma leitura quase etérea de "Through the Looking
Glass" de Carroll é
maravilhosamente harmoniosa. Uma enraizada e doce passagem instrumental ,
dirigida por Wheeler e Lockheart, serve
como um interlúdio antes do coro restaurar o humor contemplativo. "Tweedledum"
de Carroll é similarmente episódica; animado nas passagens do coral , íntimo e
indulgente quando Winstone faz a corte, e suingante quando o quinteto entra em
ação. A cantora, Iles e Lockheart conferem uma suave majestade na aparentemente circular "My Hat" , um poema de
quatro linhas de Smith.
Winstone e Iles tratam o espiritual assunto de "The Deathly
Child" com um palpável senso de admiração, então quando Winstone não se
envolve a banda amolda esta lenda precursora da morte
dentro de uma jubilosa celebração. A fatalista visão condição da espécie humana
em "Breughel" de Smith é
similarmente vestida em mantos mais suaves dentro de uma adorável melodia à la Burt
Bacharach. "The Bereaved Swan" captura os elementos contrastantes da
melancolia e lirismo das palavras de Smith, as graciosas ondas do coral formam
uma estrutura para um colorido mais
emocional de Wheeler e Lockheart. O
ritmo persuasivo de "My Soul" ressalta o poderoso conteúdo lírico, fornecendo
adequada pungência à atuação de Winstone. Como categorizar esta gloriosa música, a capacidade criativa de Wheeler, Winstone e do LVP? Segue citação de Smith: "Qualquer nome que você me der, eu sou a respiração de ar fresco, uma mudança para você" . E que tal avaliar um Vol. 2— a partir de James Joyce, via Robert Frost a John Cooper Clarke?
Faixas:
Humpty Dumpty; The Broken Heart; The Lover Mourns; Black March; Through the
Looking Glass; The Hat; Breughel; Tweedledum; The Bereaved Swan; The Deathly
Child; My soul.
Músicos: Kenny Wheeler: flugelhorn; Norma
Winstone: vocal; Nikki Iles: piano; Mark Lockheart: saxofones; Steve Watts: baixo;
James Maddren: bateria; London Vocal Project: Pete Churchill: Diretor;
sopranos: Fini Bearman; Hannah Berry; Jessica Berry; Helen Burnett; Katie
Butler; Joanna Richards; Janni Thompson; tenores: Tommy Antonio; Sam Chaplin;
Brendan Dowse; Richard Lake; Adam Saunders; altos: Mishka Adams; Paolo
Bottomley; Nikki Franklin; Clara Green; Andi Hopgood; Chloe Potter; Emma Smith;
Emmy Urquhart; baixos: Kwabena Adjepong; Pat Bamber; Ben Barritt; Pete
Churchill; Andrew Woolf.
Gravadora: Edition Records
Estilo : Jazz
Moderno
Fonte :
AllAboutJazz /IAN PATTERSON
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