
A produção faz um
retrato equilibrado da desenvoltura do artista em distintos ambientes, da
música clássica, do jazz, do choro, do samba, da bossa. E leva o espectador a
bisbilhotar com sua mulher, a psicanalista e escritora Halina Grynberg, velhas
e desorganizadas fotografias de família, recém-sacadas de um envelope. E ainda
traz depoimentos inéditos, divertidos, reveladores.
Paulo Moura conta,
por exemplo, como foi sua aproximação com escolas que fizeram diferença em sua
vida, do aprendizado no conservatório à convivência com Martinho da Vila e com
o subúrbio carioca – onde escolheu viver para desvendar melhor os mistérios da
música brasileira. Ou por que acabou comprando seu conhecido clarinete de
acrílico transparente. “Eu estava procurando um de metal, daí vi esse aqui. É
mais bonito. A afinação a gente consegue ajeitar, porque todos os instrumentos
são imperfeitos.”
O filme de Escorel
pode ser “visto” de olhos fechados – estar no cinema é como estar num concerto
de múltiplos ritmos. Como se isso não bastasse, a diversidade cenográfica e fotográfica
completam um documento rico dos valores do artista.
Numa das cenas, ao conduzir uma orquestra de jazz, o regente
Paulo exibe junto sua irreverente coreografia. Noutras, o choro Falando de
Amor, de Tom Jobim, ou o Concerto em Lá Maior para Clarinete e Orquestra, de
Mozart, parecem ter sido feitos para seu instrumento. Só Louco, de Dorival
Caymmi, soa como se tivesse nascido e vivido desde sempre em seu saxofone. Numa
mostra de cultura negra em Lagos, Nigéria, é suor o que lhe escorre pela face ou
são lágrimas que brotam de seus poros negros quando aperta os olhos e comprime
seu sax agudo?
E Escorel nem pôde
usar todas as imagens que garimpou, já que não conseguiu liberação de várias
delas, e outras só obteve depois de o filme estar pronto. Quem adora samba,
choro, jazz ou clássica sairá saciado. Mas se o filme for visto por quem não
aprecia nem Paulo Moura, nem a música de Paulo Moura, este se perguntará: por
que eu não gostava?
Fonte : Revista do Brasil / Paulo Donizetti de Souza
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