playlist Music

domingo, 14 de julho de 2013

GARY PEACOCK / MARILYN CRISPELL - AZURE (2013)

Quem lidera um projeto frequentemente é nada mais do que uma questão de ótica. O nome do baixista Gary Peacock vem primeiro na capa de “Azure”, mas não há nenhuma dúvida de que é um caso de colaboração com a pianista Marilyn Crispell, uma participante em igualdade de condições. Os dois co-produziram a gravação com o selo liderado por Manfred Eicher . Peacock e Crispell trabalharam em duo por anos em adição a duas sublimes gravações em trio para a gravadora com o falecido Paul Motian. A estreia da pianista na ECM, “Nothing Ever Was, Anyway”, em 1997, e o mais impressivo “Amaryllis (2002)”. Ainda que aquelas gravações tenham sido trabalhos compartilhados com composições  dos três em “Amaryllis” (“Nothing Ever Was” homenageou a música da pianista/compositora Annette Peacock ), “Azure” representa pela primeira vez o registro do trabalho deste antigo duo.

Alguns têm sugerido que a postura mais agressiva de Crispell pré-ECM é a evidência da restrição artística da gravadora, mas “Azure” prova que nada poderia ser mais distante da verdade. A discografia de Peacock como líder e co-líder para o selo, incluindo seu marco “Voices from the Past—Paradigm (1982)” e o trabalho em duo com o guitarrista Ralph Towner , “A Closer View (1998)”, demonstra seu amor pela extensão, dissolução e melodia. Também sugere uma predileção por uma liberdade que, todavia, evita agressão, em vez de ocupar um lugar mais econômico, onde o silêncio é um parceiro semelhante.
Isto não surpreende, realmente, dado que Peacock e Crispell compartilham conexões com o budismo e a meditação. A produção de Crispell na ECM tem, de fato, similarmente  predisposto em direção ao espectro mais tranquilo , mas em gravações como ”One Dark Night I Left My Silent House” com seu duo completamente improvisado com o clarinetista David Rothenberg , a pianista tornou claro de forma indireta que as estratégias permanecem uma parte essencial do seu vernáculo.

O mesmo para Peacock. Ele dispendeu parte do seu tempo explorando o grande repertório norte-americano com Keith Jarrett  e Jack DeJohnette —recentemente em “Somewhere (ECM, 2013)”— mas ao final é tudo parte da mesma série. Tudo é apenas música. Aqui, o duo inicia com a adequadamente denominada "Patterns"  de Crispell, que é uma série de complicadas construções temáticas executadas com flexibilidade temporal para a pianista (em impressivo uníssono com as duas mãos), agindo como uma fundação para algumas convulsivas interações com Peacock, mas quatro canções depois a composição dela  "Waltz After Dave M" explora a melodia de forma mais pessoal, mais claramente estruturada, que exibe Crispell ePeacock  em sua beleza mais eminente e francamente lírica.

A entonação de Peacock está mais calorosa do que a habitual  e em sua abstrata "Puppets" ele apresenta um raro solo com o arco , alcançando margens mais distantes e empurrando-as através de um espaço mais rarefeito , ainda que tão esotérico como seu toque deve ser , há sempre uma lógica interior e um foco imperturbável.

Peacock retorna ao pizzicato no encerramento da faixa título, uma das três improvisações completamente livres. Paradoxal  na sua combinação de impotência  em suspenso e incentivo ao movimento , estes sentimentos são estruturados e  abrem por completo todas as onze faixas de “Azure”. Um advento promissor , “Azure” demonstra, com clareza imaculada e absoluta transparência , uma parceria única agora finalmente revelada para uma audiência mais ampla no mais soberbo e revelador gravação em duo do ano.

Faixas: Patterns; Goodbye; Leapfrog; Bass Solo; Waltz After David M; Lullaby; The Lea; Blue; Piano Solo; Puppets; Azure.

 Músicos: Marilyn Crispell: piano; Gary Peacock: baixo.

Gravadora: ECM Records

Estilo: Jazz Moderno


Fonte : AllAboutJazz /John Kelman

Nenhum comentário: