Quem lidera um projeto frequentemente é nada mais do que uma
questão de ótica. O nome do baixista Gary Peacock vem primeiro na capa de “Azure”,
mas não há nenhuma dúvida de que é um caso de colaboração com a pianista Marilyn
Crispell, uma participante em igualdade de condições. Os dois co-produziram a
gravação com o selo liderado por Manfred Eicher . Peacock e Crispell trabalharam
em duo por anos em adição a duas sublimes gravações em trio para a gravadora
com o falecido Paul Motian. A estreia da pianista na ECM, “Nothing Ever Was,
Anyway”, em 1997, e o mais impressivo “Amaryllis (2002)”. Ainda que aquelas
gravações tenham sido trabalhos compartilhados com composições dos três em “Amaryllis” (“Nothing Ever Was”
homenageou a música da pianista/compositora Annette Peacock ), “Azure” representa
pela primeira vez o registro do trabalho deste antigo duo.
Alguns têm sugerido que a postura mais agressiva de Crispell
pré-ECM é a evidência da restrição artística da gravadora, mas “Azure” prova que
nada poderia ser mais distante da verdade. A discografia de Peacock como líder
e co-líder para o selo, incluindo seu marco “Voices from the Past—Paradigm
(1982)” e o trabalho em duo com o guitarrista Ralph Towner , “A Closer View
(1998)”, demonstra seu amor pela extensão, dissolução e melodia. Também sugere
uma predileção por uma liberdade que, todavia, evita agressão, em vez de ocupar
um lugar mais econômico, onde o silêncio é um parceiro semelhante.
Isto não surpreende, realmente, dado que Peacock e Crispell
compartilham conexões com o budismo e a meditação. A produção de Crispell na ECM
tem, de fato, similarmente predisposto em
direção ao espectro mais tranquilo , mas em gravações como ”One Dark Night I
Left My Silent House” com seu duo completamente improvisado com o clarinetista
David Rothenberg , a pianista tornou claro de forma indireta que as estratégias
permanecem uma parte essencial do seu vernáculo.
O mesmo
para Peacock. Ele dispendeu parte do seu tempo explorando o grande
repertório norte-americano com Keith Jarrett e Jack DeJohnette —recentemente em “Somewhere
(ECM, 2013)”— mas ao final é tudo parte da mesma série. Tudo é apenas música. Aqui,
o duo inicia com a adequadamente denominada "Patterns" de Crispell, que é uma série de complicadas
construções temáticas executadas com flexibilidade temporal para a pianista (em
impressivo uníssono com as duas mãos), agindo como uma fundação para algumas
convulsivas interações com Peacock, mas quatro canções depois a composição dela
"Waltz After Dave M" explora a
melodia de forma mais pessoal, mais claramente estruturada, que exibe Crispell ePeacock
em sua beleza mais eminente e francamente
lírica.
A entonação de Peacock está mais calorosa do que a habitual e em sua abstrata "Puppets" ele apresenta
um raro solo com o arco , alcançando margens mais distantes e empurrando-as através
de um espaço mais rarefeito , ainda que tão esotérico como seu toque deve ser ,
há sempre uma lógica interior e um foco imperturbável.
Peacock retorna ao pizzicato no encerramento da faixa título,
uma das três improvisações completamente livres. Paradoxal na sua combinação de impotência em suspenso e incentivo ao movimento , estes
sentimentos são estruturados e abrem por
completo todas as onze faixas de “Azure”. Um advento promissor , “Azure” demonstra,
com clareza imaculada e absoluta transparência , uma parceria única agora
finalmente revelada para uma audiência mais ampla no mais soberbo e revelador
gravação em duo do ano.
Faixas:
Patterns; Goodbye; Leapfrog; Bass Solo; Waltz After David M; Lullaby; The Lea;
Blue; Piano Solo; Puppets; Azure.
Músicos: Marilyn Crispell: piano; Gary
Peacock: baixo.
Gravadora:
ECM Records
Estilo: Jazz Moderno
Fonte : AllAboutJazz /John Kelman
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