Intencional ou não, os lançamentos simultâneos da ECM do
mestre iraniano do kamencheh Kayhan
Kalhor e do especialista turco em baglama
Erdal Erzincan ,“Kula Kulluk Yakişir
Mi (2013)”, com “O que será”, que captura uma positivamente excitante
performance, em 2012 , do efervescente pianista italiano Stefano Bollani e do
virtuoso bandolinista brasileiro Hamilton de Holanda, faz mais que meramente celebrar
a intimidade potencial dos dois. Diferentes , eles devem ser, mas há também
similaridades de timbre entre o bandolim de Holanda e a baglama (saz) de Erzincan
em seu uso duplicado (ou, no caso da baglama,
às vezes triplicado) das cordas.
As comparações, entretanto, ficam por aí. Gravações
anteriores pela ECM, incluindo seu adequadamente denominado “Piano Solo (2007)”
e seu mais recente disco em trio, “Stone in the Water (2009)”, têm demonstrado
o conhecimento de Bollani e seu virtuosismo, transcendendo rótulos reducionistas—
mesmo alguns generosamente rotulados como jazz — para buscar fontes
inspiradoras , indo do clássico ao pop, junto com seu contínuo interesse pela
música brasileira. Porém, foi nas gravações em duo como “Orvieto (2011”), com uma certa influência de
Chick Corea , e “The Third Man (2008)”, com seu companheiro italiano e mentor
Enrico Rava, que o pianista tem indubitavelmente demonstrado uma carreira
definida com capacidade para impregnar a música com humor e alegria de viver,
enquanto, ao mesmo tempo, capaz de sagazes profundidades: às vezes surpreendentemente complexas, em outras firmemente bela.
Com Hamilton de Holanda—igualmente expansivo em raio de ação
e uma estrela a seu próprio modo , tendo
colaborado com gente que vai de Richard Galliano a Bela Fleck —Bollani tenha, talvez,
encontrado o perfeito parceiro. Não só pela similar maestria de Hamilton de Holanda,
mas pela capacidade de impulsionar Bollani a alterar o curso como pianista,
sendo o bandolinista a força motriz para mudar as direções na velocidade do
pensamento, sendo que o par ocasionalmente dá a impressão de lançar-se sem
segurança, o que invariavelmente revela-os como tendo algo a mais.
‘O que será” é como observar dois garotos ativos em uma
loja de doces, buscando provar tudo o que podem ter às mãos. Em peças como
"Il Barbone Di Siviglia (The Tramp of Seville)" de Bollani e na
frenética , que encerra o disco, "Apanhei-te Cavaquinho", há um
excitante senso dos dois tocando na base
do gato caça o rato, Bollani saindo de uma forma para uma super-rápida passagem
livre só para manter o impulso de Holanda, como se dissesse “apanha-me !”. A
travessura é palpável. É quase possível
ver os dois sorrindo loucamente da forma como cada um interage, às vezes a
velocidade que seria considerada impossível não deixa de ser ouvida aqui.
Porém um amplo senso de humor e inflexível sincronia não
significa que Bollani e Hamilton de
Holanda não sejam capazes de maior sensibilidade. A expressão do duo na
abertura de "Beatriz" é curta e suave, enquanto "Luí
za" de Antônio Carlos Jobim e "Oblivion" de Astor Piazzolla são, se não totalmente,
graves e ao menos, claramente, reverenciais, com os dois instrumentos engajados
em um nível próximo da simbiose.
A inclusão das reações da audiência através do show ajuda a
fazer de “O que será” uma empolgante pausa de 54 minutos das agruras e aflições da vida . Tão fidedigna
como qualquer gravação de áudio pode ser, esta é a prova positiva de que uma música
alegre também pode ser séria.
Faixas: Beatriz; Il Barbone di Seviglia; Caprichos de
Espanha; Guarda Che Luna; Luíza; O Que Será; Rosa; Canto de Ossanha; Oblivión;
Apanhei-te Cavaquinho.
Músicos:
Stefano Bollani: piano; Hamilton de Holanda: bandolim.
Gravadora: ECM Records
Estilo: Jazz Moderno
Fonte:
AllAboutJazz /JOHN KELMAN
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