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domingo, 22 de setembro de 2013

STEFANO BOLLANI & HAMILTON DE HOLANDA – O QUE SERÁ (2013)

Intencional ou não, os lançamentos simultâneos da ECM do mestre iraniano do kamencheh Kayhan Kalhor e do especialista turco em baglama  Erdal Erzincan ,“Kula Kulluk Yakişir Mi (2013)”, com “O que será”, que captura uma positivamente excitante performance, em 2012 , do efervescente pianista italiano Stefano Bollani e do virtuoso bandolinista brasileiro Hamilton de Holanda, faz mais que meramente celebrar a intimidade potencial dos dois. Diferentes , eles devem ser, mas há também similaridades de timbre entre o bandolim de  Holanda e a baglama (saz) de Erzincan em seu uso duplicado (ou, no caso da baglama, às vezes triplicado) das cordas.

As comparações, entretanto, ficam por aí. Gravações anteriores pela ECM, incluindo seu adequadamente denominado “Piano Solo (2007)” e seu mais recente disco em trio, “Stone in the Water (2009)”, têm demonstrado o conhecimento de Bollani e seu virtuosismo, transcendendo rótulos reducionistas— mesmo alguns generosamente rotulados como jazz — para buscar fontes inspiradoras , indo do clássico ao pop, junto com seu contínuo interesse pela música brasileira. Porém, foi nas gravações em duo como  “Orvieto (2011”), com uma certa influência de Chick Corea , e “The Third Man (2008)”, com seu companheiro italiano e mentor Enrico Rava, que o pianista tem indubitavelmente demonstrado uma carreira definida com capacidade para impregnar a música com humor e alegria de viver, enquanto, ao mesmo tempo, capaz de sagazes profundidades: às vezes  surpreendentemente complexas,  em outras firmemente bela.

Com Hamilton de Holanda—igualmente expansivo em raio de ação e uma estrela  a seu próprio modo , tendo colaborado com gente que vai de Richard Galliano a Bela Fleck —Bollani tenha, talvez, encontrado o perfeito parceiro. Não só pela similar maestria de Hamilton de Holanda, mas pela capacidade de impulsionar Bollani a alterar o curso como pianista, sendo o bandolinista a força motriz para mudar as direções na velocidade do pensamento, sendo que o par ocasionalmente dá a impressão de lançar-se sem segurança, o que invariavelmente revela-os como tendo algo a mais.

 ‘O que será”  é como observar dois garotos ativos em uma loja de doces, buscando provar tudo o que podem ter às mãos. Em peças como "Il Barbone Di Siviglia (The Tramp of Seville)" de Bollani e na frenética , que encerra o disco, "Apanhei-te Cavaquinho", há um excitante  senso dos dois tocando na base do gato caça o rato, Bollani saindo de uma forma para uma super-rápida passagem livre só para manter o impulso de Holanda, como se dissesse “apanha-me !”. A travessura é palpável.  É quase possível ver os dois sorrindo loucamente da forma como cada um interage, às vezes a velocidade que seria considerada impossível não deixa de ser ouvida aqui.

Porém um amplo senso de humor e inflexível sincronia não significa que  Bollani e Hamilton de Holanda não sejam capazes de maior sensibilidade. A expressão do duo na abertura de "Beatriz" é curta e suave, enquanto  "Luí
za"  de Antônio Carlos Jobim  e "Oblivion"  de Astor Piazzolla são, se não totalmente, graves e ao menos, claramente, reverenciais, com os dois instrumentos engajados em um nível próximo  da simbiose.

A inclusão das reações da audiência através do show ajuda a fazer de “O que será” uma empolgante pausa de 54 minutos  das agruras e aflições da vida . Tão fidedigna como qualquer gravação de áudio pode ser, esta é a prova positiva de que uma música alegre também pode ser séria.  

Faixas: Beatriz; Il Barbone di Seviglia; Caprichos de Espanha; Guarda Che Luna; Luíza; O Que Será; Rosa; Canto de Ossanha; Oblivión; Apanhei-te Cavaquinho.

Músicos: Stefano Bollani: piano; Hamilton de Holanda: bandolim.

Gravadora: ECM Records

Estilo: Jazz Moderno


Fonte: AllAboutJazz /JOHN KELMAN 

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