
As comparações, entretanto, ficam por aí. Gravações
anteriores pela ECM, incluindo seu adequadamente denominado “Piano Solo (2007)”
e seu mais recente disco em trio, “Stone in the Water (2009)”, têm demonstrado
o conhecimento de Bollani e seu virtuosismo, transcendendo rótulos reducionistas—
mesmo alguns generosamente rotulados como jazz — para buscar fontes
inspiradoras , indo do clássico ao pop, junto com seu contínuo interesse pela
música brasileira. Porém, foi nas gravações em duo como “Orvieto (2011”), com uma certa influência de
Chick Corea , e “The Third Man (2008)”, com seu companheiro italiano e mentor
Enrico Rava, que o pianista tem indubitavelmente demonstrado uma carreira
definida com capacidade para impregnar a música com humor e alegria de viver,
enquanto, ao mesmo tempo, capaz de sagazes profundidades: às vezes surpreendentemente complexas, em outras firmemente bela.
Com Hamilton de Holanda—igualmente expansivo em raio de ação
e uma estrela a seu próprio modo , tendo
colaborado com gente que vai de Richard Galliano a Bela Fleck —Bollani tenha, talvez,
encontrado o perfeito parceiro. Não só pela similar maestria de Hamilton de Holanda,
mas pela capacidade de impulsionar Bollani a alterar o curso como pianista,
sendo o bandolinista a força motriz para mudar as direções na velocidade do
pensamento, sendo que o par ocasionalmente dá a impressão de lançar-se sem
segurança, o que invariavelmente revela-os como tendo algo a mais.
‘O que será” é como observar dois garotos ativos em uma
loja de doces, buscando provar tudo o que podem ter às mãos. Em peças como
"Il Barbone Di Siviglia (The Tramp of Seville)" de Bollani e na
frenética , que encerra o disco, "Apanhei-te Cavaquinho", há um
excitante senso dos dois tocando na base
do gato caça o rato, Bollani saindo de uma forma para uma super-rápida passagem
livre só para manter o impulso de Holanda, como se dissesse “apanha-me !”. A
travessura é palpável. É quase possível
ver os dois sorrindo loucamente da forma como cada um interage, às vezes a
velocidade que seria considerada impossível não deixa de ser ouvida aqui.
Porém um amplo senso de humor e inflexível sincronia não
significa que Bollani e Hamilton de
Holanda não sejam capazes de maior sensibilidade. A expressão do duo na
abertura de "Beatriz" é curta e suave, enquanto "Luí
za" de Antônio Carlos Jobim e "Oblivion" de Astor Piazzolla são, se não totalmente,
graves e ao menos, claramente, reverenciais, com os dois instrumentos engajados
em um nível próximo da simbiose.
A inclusão das reações da audiência através do show ajuda a
fazer de “O que será” uma empolgante pausa de 54 minutos das agruras e aflições da vida . Tão fidedigna
como qualquer gravação de áudio pode ser, esta é a prova positiva de que uma música
alegre também pode ser séria.
Faixas: Beatriz; Il Barbone di Seviglia; Caprichos de
Espanha; Guarda Che Luna; Luíza; O Que Será; Rosa; Canto de Ossanha; Oblivión;
Apanhei-te Cavaquinho.
Músicos:
Stefano Bollani: piano; Hamilton de Holanda: bandolim.
Gravadora: ECM Records
Estilo: Jazz Moderno
Fonte:
AllAboutJazz /JOHN KELMAN
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