
Ao violão de sete cordas cabia apenas cerzir o rendilhado do
choro com seu calço grave, a dita
baixaria
. Por esse motivo , o maior expoente do instrumento do século passado ,
Horondino Silva, o Dino 7 Cordas (1918-2006), discípulo dos pioneiros Tute e
China, recusava-se a gravar como solista. Só concordou em dividir um disco em
1991 com o aluno Raphael Rabello, virtuose de carreira faiscante, que expandiu
os limites do instrumento, seguido por ases como o gaúcho Yamandu Costa e o
goiano Rogério Caetano. A proposta do paulista de Caconde Gian Correa neste
incandescente
Mistura 7 abre outra vertente. Em vez da escolta de cavaquinhos,
flautas e bandolins dos regionais de choro, o sete cordas de G
ian dialoga com
um quarteto de sax integrado por Josué dos Santos (soprano), Jota P. Barbosa
(tenor), Jefferson Rodrigues (alto) e César Roversi (barítono), mais o pandeiro
de Rafael Toledo. Nenhum deles cumpre função fixa.
Os sopros tanto desenham as melodias quanto acompanham ou
improvisam, tal como o sete cordas e o pandeiro, numa permanente troca de
posições e conceitos. Como a intromissão do timbre de pífanos no Rancho dos Transtornados, sob o rufar
das cordas do violão. O Tema Tá Chegando abre
num batuque dos sax soprano (cuíca), barítono (surdo), tenor (pandeiro),
enquanto retine o agogô. O embate
entre tradição (Baile na Pensão Viana remete a Pixinguinha) e modernidade pontua De Allstar no Choro, possível
contraponto vanguardista ao clássico André
de Sapato Novo . A ginga de Gian dá nó em Pingo de Ouro, homenagem a ele de autoria de Rogério Caetano. E o
reconhecimento de sua precoce maestria também vem de outro contemporâneo, o
pianista André Mehmari, na assimétrica louvação Episódio no Sítio de Seo Zé
Correa de Caconde.
Fonte: Tárik de Souza (CartaCapital)
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