Pioneiro na internacionalização da música nativa nas
lendárias apresentações de seu grupo Os
Oito Batutas, em Paris , em 1922, Alfredo da Rocha Vianna, o Pixinguinha
(1897-1973), tem sua obra de novo atada a laços externos. O tributo Mundo de Pixinguinha , do bandolinista
Hamilton de Holanda, traz o solista em revisitas a temas clássicos e obscuros
do homenageado, com a maioria de convidados de fora do País. Como
na impactante Um a Zero , gravado em
Nova York, onde tabelam a ágil digitação de Hamilton, criador do bandolim de
dez cordas, e o trompe do americano Wynton Marsalis, cevado no berço do jazz de
New Orleans.
Em Málaga, Espanha, foram registrados o afro Benguelê e o lírico Lamentos, em duetos de partilhada malícia entre o brasileiro e o
piano do cubano Chucho Valdés. Assíduo dos regionais de rádio da época do
homenageado, o acordeom, a cargo do francês Richard Galliano, gravado em Paris,
tinge de sombras nostálgicas a valsa Agradecendo
e o choro favorito do autor, Ingênuo.
Amparado pela dolência emotiva do bandolim, o pianista
português Mario Laginha trafega pela gongórica valsa Rosa, gravada até pela pop Marisa Monte, enquanto o hino Carinhoso é reiterado pela triangulação
afetiva do bandolim com a flauta da mestra francesa radicada aqui, Odete Ernest
Dias, e o sax tenor de Carlos Malta. Hamilton aprofunda a reverência ao mesmo
na imersão solitária em Naquele Tempo
e no autoral Capricho de Pixinguinha. O
disco ainda reserva surpresas
romanas, nos diálogos transgressores com o pianista Stefano Bollani. Do
inebriante rendilhado de Seu Lourenço no
Vinho aos eflúvios etéreos da Canção
da Odalisca, beira-se a atonalidade. Alusão ao vanguardismo do chorão, o
primeiro a ser apedrejado pela crítica por suposta influência jazzística.
Fonte : Tárik de Souza (CartaCapital)
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