
Ele também atribui ao título uma função prismática, “a ideia
de se verem os vários lados da questão”, a partir do próprio exemplo de artista
de formação erudita (estudou violão clássico em Paris), cuja lapidação se deu
no interior do Urucuia, ambiente mineiro de seu livro propulsor, Grande Sertão:
Veredas , de Guimarães Rosa. Paulistano, filho de escritor e psicanalista
Roberto Freire, o músico reverencia seu mestre de viola, Manoel de Oliveira, de
quem gravou a matreira A Cobra e a Onça
(quem não quer fazer costume / não faça a primeira vez). O clima roseano
também se desprende das faíscas instrumentais de Quatros do Urucuia e Manoelzão.
As fronteiras do roteiro dilatam-se nas fragrâncias jazzísticas de Pintando
o Chet na Viola, tributo ao trompetista americano da corrente cool , Chet Baker.
Não falta uma moda tradicional de alto refino, A Viola e o Baraio, na qual Freire terça
cordas e vozes com outro violeiro virtuose, Levi Ramiro. Mas o ponto culminante
de Alto Grande reside nos cativantes causos musicados. Canto
e fala costurados no fio da viola (mais guitarra, baixo e bateria), no
divertido romance da moça bonita e o cabeça oca, em Ferveu. Diálogo ácido no embate com o direito de propriedade em É Meu. E, pavimentado pelo piano de
Benjamin Taubkin, o pungente Causo do
Angelino, breve epifania sentimental a envolver Angelino de Oliveira (1888-1964), autor do
monumento caipira Tristezas do Jeca. De
arrepiar peão de rodeio.
Faixas
01 - Quatros do Urucuia
02 - Ferveu!
03 - A Viola e o Baralho
04 - Alto Grande
05 - Pintando o Chet na Viola
06 - É Meu
07 - Bom Dia
08 - Fé
09 - A Cobra e a
Onça
10 - Manoelzão
11 - Causo do
Angelino
Fonte : Tárik de Souza (CartaCapital)
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