
O maestro Chucho Valdés, 71 anos, é um dos grandes tesouros
da música do mundo. O sentimento do piano encaixa-se abaixo dos seus dedos tão
naturalmente como uma respiração para o resto de nós. Sua música tem um sentido
popular, ainda que se expanda dentro de uma incrível forma técnica em uma arte
elevada. Em seu novo álbum, “Border-Free”, gravado com seu
Afro-Cuban
Messengers, Valdés fundamenta seu trabalho na aural história da mãe Cuba, enquanto
tece, sem emendas, aspectos do folclore, jazz
e clássicos pra criar uma visão musical singular. Valdés declara sua
intenção e apresenta sua incrível técnica e destreza em “Congadanza”, um
estonteante número em tempo acelerado escrito como uma celebração de María Cervantes, a filha do pianista cubano Ignácio
Cervantes. Enquanto ele flutua e toca no teclado com fluidez, velocidade e
graça, a seção rítmica vem a ser uma orquestra de som afro-cubano. Esta banda é
um grupo comovente, com Dreiser Durruthy Bombalé nos
batás, Rodney Barreto Illarza na bateria , Yaroldy Abreu Robles na
percussão e Ángel Gastón Joya Perellada no baixo. Todos são jovens, classicamente
treinados e incendeiam como uma unidade coesa. Eles colaboram belamente no
contexto das cuidadosas composições de Valdés. Em “Afro-Comanche” , ele acende a luz em um pouco
conhecido evento histórico . Nos anos 1700, após a derrota do exército espanhol na
área que agora é o Texas, 700 índios comanche foram feitos prisioneiros, e
levados do México, para a Espanha e para Cuba. A maioria morreu devido às
condições impostas, mas alguns se misturaram com os afro-cubanos da ilha. Empregando ritmos na
bateria da tribo Comanche que muda gradualmente em aparência e forma dentro das
batidas africanas, Valdés apaixonadamente chama a atenção para as condições
delas. Uma das mais tocantes canções do trabalho é “Bebo”, escrita em honra de
seu pai, o grande líder de orquestra e pianista falecido em 22 de março de 2013.
A música se ajustaria perfeitamente ao repertório de Bebo. Valdés usa um
improviso ao estilo de Bebo com sua mão esquerda, enquanto sola com seu próprio
estilo com a mão direita. É um bonito efeito. O saxofonista convidado Branford
Marsalis atua maravilhosamente nesta faixa e em duas outras. A seção de instrumentos
de sopro é complementada pelo fino trompetista Reinaldo Melián Alvarez. Porém a
música que verdadeiramente cortou minha respiração foi “Pilar”, composta pela
mãe de Chucho. Inicia com um muito particular dueto entre Valdés e o baixista
Joya, uma jovem estrela em formação que,aqui, emprega sua poderosa técnica no
uso do arco . Quando a seção rítmica entra, a canção já arrebatou seu coração. Um
filho nunca amou mais sua mãe na música.
Faixas
1 Congadanza
2 Caridad Amaro
3 Tabu
4 Bebo
5 Afro-Comanche
6 Pilar
7 Santa Cruz
8 Abdel
Fonte:
FRANK ALKYER (DownBeat)
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