Desde 1980, quando o guitarrista Pat Metheny veio a ser uma grande
estrela do jazz , o bastante para gravar o que ele quisesse, ele tinha mais ou
menos alternado empreendimentos avant-garde
com projetos mais populares. Suas colaborações amigáveis com o tecladista Lyle
Mays nos anos 80 e 90 foram entremeadas com parcerias mais aventurosas com Ornette
Coleman, Charlie Haden e Steve Reich.
O ano passado, Metheny lançou “Tap: Book of Angels, Volume
20”, uma coleção de complicadas, às vezes dissonantes composições de John Zorn , emocionalmente
executadas por um multifacetado Metheny e seu regular baterista , Antonio Sánchez.
Este ano o guitarrista retornou com uma gravação mais convencional, “Kin (←→)”,
com a sua recente Unity Band (Sánchez,
o baixista Ben Williams e o saxofonista Chris Potter) complementado pelo
tecladista Giulio Carmassi—e adequadamente renomeado como Unity Group. É um álbum de fortes temas melódicos, estruturas
acessíveis e agradável toque tonal, ainda
que seria tolice repudiar “Kin (←→)” como uma mera concessão comercial.
A melodia escrita é a habilidade mais menosprezada no jazz
atual, talvez por que seja mais rara. Há milhares de músicos de jazz que se
congratulam em escrever em 7/4 e 9/4 e mudar seus solos de tonal para atonal e
voltar outra vez. Porém como muitos deles podem escrever uma balada que alguém deve querer sussurrar
para um namorado(a)? . Metheny compôs duas destas baladas para seu novo álbum: uma
antiquada estória de amor “Adagia” e um hino pastoral “Born”. Ambas esculpem
belas músicas , plena de sentimentos, que o ouvinte quer escutá-las outra vez e
mais uma , quando cada solista toma um momento do solo.
As músicas em tempo médio ou agitadas contêm forte material
melódico. Porém, estas não estão em demasia. Um fã de jazz quer ouvir a
dramaticidade do conflito e resolução, invenção e reinvenção. É fácil gerar tal
dramaticidade com estratégias do avant-garde
— inesperadas justaposições de tonalidades, texturas e tempo. Porém o que fazer
dentro do contexto do mainstream , especialmente no momento em
que a experimentação de vanguarda faz o jazz popular parecer tedioso pelo
contraste?.
Metheny resolve este problema escrevendo não apenas um tema
para cada composição mas dois , três ou
quatro. Deste modo ele gera tensão e lança subitamente mudança de um tema para
outro, indo de cada tema apresentado para improvisações, tendo alguns
instrumentos ressaltados, enquanto
outros improvisam e tocam o mesmo tema nas baladas e trabalhos em tempo médio
ou agitado. Esta abordagem é mais óbvia nos 15 minutos da faixa de abertura, “On Day One”, que cresce e diminui em volume,
intensidade e altura do som , tal como
se move de seção para seção.
Tais arranjos só funcionam se você tem uma banda regular que
pode aprender, ensaiar e atuar com roteiro pré-estabelecido até eles soarem
espontâneos. O “Unity Group” é apenas esta banda. Potter assumiu o papel de Lyle
Mays como principal realce, frequentemente
formatando seu sax soprano contra a guitarra de Metheny para um trabalho
em dueto em cada tema , então passando para o tenor para solos para quem tem
folego.
Quando a linha de frente está repetindo, especialmente, riffs e vamps atrativos, a seção rítmica de Sánchez e Williams criam a
tensão necessária para mudança nas
partes deles com cada repetição. Williams cria suas próprias alterações no
material melódico, solando liricamente dedilhando ou usando o arco nos baixos
acústico e elétrico. Carmassi, que vem do mundo pop dos grupos de Emmy Rossum,
Will Lee e Chuck Loeb, sola menos que o baixista, mas suas partes no piano e
teclados , bem como seu reforço em vários instrumentos de sopro e scat vocal, criam um completude orquestral
ausente da Unity Band de 2012.
Metheny faz um rápido aceno para suas tendências
pós-modernas com “Genealogy” em 38 segundos, sequências à la Ornette em reviravoltas
afiadas, que o quinteto impulsiona com
talento. Assim, o guitarrista sugere que o músicos de jazz não deveriam
limitar-se eles mesmos apenas à avant-garde
ou apenas à música mais tradicional — e os ouvintes também.
Faixas: One
Day One; Rise Up; Adagia; Sign of the Season; Kin (←→); Born; Genealogy; We Go
On; Kqu.
Músicos: Pat Metheny: guitarra, violão,
guitarra sintetizada, eletrônica, Orchestrionics,
sintetizadores; Chris Potter: saxofone tenor , clarinete baixo, saxofone
soprano , clarinete, flauta, flauta baixo; Antonio Sánchez: bateria, cajón; Ben Williams: baixos acústico e
elétrico; Giuilio Carmassi: piano, trompete, trombone, French horn, cello, vibrafone,
clarinete, flauta, gravador, saxofone alto , Wurlitzer, assobio, vocal
Fonte:
Geoffrey Himes (JazzTimes)
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