O que ocorre quando um artista vem a ser uma legenda em seu
próprio tempo ? Esta é a questão levantada nas notas do disco “Thelonious
Monk’s Paris 1969”, um novo pacote histórico composto por CD/DVD , que é uma
fatia do firmamento do jazz. A música e
o filme que a acompanha foram gravados ao vivo na Salle Pleyel em Paris em 15 de Dezembro de 1969 para um canal de
televisão francês. Monk, 52 anos naquela
época, estava física e emocionalmente
esgotado. A Columbia Records o tinha
descartado após uma tentativa, que falhou,
de colocá-lo no mercado como um herói underground
da geração “paz e amor”. O baterista Ben
Riley e o baixista Larry Gales tinham deixado a banda. Assim, Monk contratou Nate
Hygelund, um jovem baixista, e Paris Wright, um baterista de 17 anos, ao lado
do seu antigo saxofonista Charlie Rouse e pegou a estrada para a Europa.
O biógrafo de Monk, Robin D.G. Kelley , escreve em suas
notas que este poderia ser “ a gravação visual mais importante que nós temos do
maduro Thelonious Monk”. Este elevado louvor é considerando que este espetáculo
foi um disparo para aquilo que um ano após viria a ser finalmente a parte central do documentário Straight, No Chaser. A música em si é um
documento importante e o filme que a acompanha é um belo olhar sobre o herói
musical americano. A cinematografia é maravilhosa. Em “I Mean You” há um ângulo
de câmera onde mostra Monk completamente ensopado pela transpiração e é apenas interrompido pelo rápido fulgor das
baquetas de Wright, adejando entre o semblante de Monk e as lentes da câmera no outro lado do
palco. O filme ressalta o fato frequentemente negligenciado: as composições de Monk
alçam voo com as contribuições dos seus companheiros de banda. É um prazer
observar Rouse tocar saxofone em canções como “Ruby, My Dear”, “Bright
Mississippi” e “Epistrophy”—um lembrete sobre a parte integral do que ele tocou
dentro do som de Monk. Também suaves são as aparições dos convidados Philly Joe
Jones atuando em “Nutty” de Monk e uma
melancolicamente condensada “Blue Monk”, suingando duro , tranquilo e
graciosamente. Para aqueles que querem ver o mestre sozinho, as últimas três
músicas são perfeitos solos de Monk, como se ele mantivesse a audiência na palma
de sua mão com o bis de “Don’t Blame Me”,
“I Love You Sweetheart Of All My Dreams” (uma divertida conexão entre o bebop e
Tin Pan Alley) e “Crepuscule With
Nellie”.
O DVD também inclui uma entrevista inestimável conduzida
pelo baixista e crítico francês Jacques
B. Hess, que pôs a prova a resistência
de Monk tornar-se acessível. Hess questiona-o sobre a influência de Duke
Ellington sobre seu trabalho e o pianista replica “Bem, eu fui influenciado por
todos os músicos de jazz antes de mim. Todos eles me influenciaram”. Hess passa a estar levemente
irritado—a caricatura de um crítico francês superzeloso, pedindo a Monk para comentar
sobre o legado de Charlie Parker, que teria 50 em 1969 se vivo estivesse. Monk responde: “I mostrei-lhe os acordes de uma boa quantidade de minhas músicas”. Isto
não ficou bem para Hess, mas o fez importante, em uma visão desconfortável para
nós.
Fonte :
FRANK ALKYER (DownBeat)
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