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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

THELONIUS MONK – PARIS 1969 (Blue Note)

O que ocorre quando um artista vem a ser uma legenda em seu próprio tempo ? Esta é a questão levantada nas notas do disco “Thelonious Monk’s Paris 1969”, um novo pacote histórico composto por CD/DVD , que é uma fatia  do firmamento do jazz. A música e o filme que a acompanha foram gravados ao vivo na Salle Pleyel em Paris em 15 de Dezembro de 1969 para um canal de televisão francês. Monk,  52 anos naquela época,  estava física e emocionalmente esgotado. A Columbia Records o tinha descartado após uma tentativa, que  falhou, de colocá-lo no mercado como um herói underground  da geração “paz e amor”. O baterista Ben Riley e o baixista Larry Gales tinham deixado a banda. Assim, Monk contratou Nate Hygelund, um jovem baixista, e Paris Wright, um baterista de 17 anos, ao lado do seu antigo saxofonista Charlie Rouse e pegou a estrada para a Europa.

O biógrafo de Monk, Robin D.G. Kelley , escreve em suas notas que este poderia ser “ a gravação visual mais importante que nós temos do maduro Thelonious Monk”. Este elevado louvor é considerando que este espetáculo foi um disparo para aquilo que um ano após viria a ser  finalmente a parte central do documentário Straight, No Chaser. A música em si é um documento importante e o filme que a acompanha é um belo olhar sobre o herói musical americano. A cinematografia é maravilhosa. Em “I Mean You” há um ângulo de câmera onde mostra Monk completamente ensopado pela transpiração  e é apenas interrompido pelo rápido fulgor das baquetas de Wright, adejando entre o semblante de  Monk e as lentes da câmera no outro lado do palco. O filme ressalta o fato frequentemente negligenciado: as composições de Monk alçam voo com as contribuições dos seus companheiros de banda. É um prazer observar Rouse tocar saxofone em canções como “Ruby, My Dear”, “Bright Mississippi” e “Epistrophy”—um lembrete sobre a parte integral do que ele tocou dentro do som de Monk. Também suaves são as aparições dos convidados Philly Joe Jones atuando em “Nutty”  de Monk e uma melancolicamente condensada “Blue Monk”, suingando duro , tranquilo e graciosamente. Para aqueles que querem ver o mestre sozinho, as últimas três músicas são perfeitos solos de Monk, como se ele mantivesse a audiência na palma de sua mão com o bis de  “Don’t Blame Me”, “I Love You Sweetheart Of All My Dreams” (uma divertida conexão entre o bebop e Tin Pan Alley) e “Crepuscule With Nellie”.

O DVD também inclui uma entrevista inestimável conduzida pelo baixista e crítico francês  Jacques B. Hess,  que pôs a prova a resistência de Monk tornar-se acessível. Hess questiona-o sobre a influência de Duke Ellington sobre seu trabalho e o pianista replica “Bem, eu fui influenciado por todos os músicos de jazz antes de mim. Todos eles me influenciaram”. Hess passa a estar levemente irritado—a caricatura de um crítico francês superzeloso, pedindo a Monk para comentar sobre o legado de Charlie Parker, que teria 50 em 1969 se vivo estivesse. Monk  responde: “I mostrei-lhe os acordes  de uma boa quantidade de minhas músicas”. Isto não ficou bem para Hess, mas o fez importante, em uma visão desconfortável para nós.

Fonte : FRANK ALKYER (DownBeat)


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