
No princípio era a polca. Dança em compasso binário
originária da Boêmia, teria desembarcado na América trazida pelas cortes
europeias no século XIX. No Brasil, misturou-se ao tango local, habanera, scotisch
e ritmos africanos antes de desaguar no choro, título derivado da forma
plangente de tocar esse amálgama de gêneros.
Outros Caminhos do Choro, do Los Cuatro, dilata tais intercâmbios,
a partir da formação do grupo. Dele participam o bandolinista carioca Pedro
Aragão, diretor do Instituto Jacob do Bandolim e solista da Orquestra de Câmara
da Unirio, mais o clarinetista e saxofonista lisboeta Rui Alvim, do grupo Água de Moringa, que gravou com Yamandú
Costa, Maurício Carrilho e Nailor Proveta. E ainda o violonista e compositor
peruano Sérgio Valdeos, de atuações com Pillar de la Hoz, Suzana Baca, Jane
Duboc e Guinga e a flautista de Kobe Naomi Kumamoto, moldada nas orquestras
sinfônicas do Japão, mas radicada no Rio desde 2001, onde é professora da escola
Portátil de Música.
O disco abre na saltitante polca nativa Está se Coando, do início do século passado, atribuída ao maestro
Anacleto de Medeiros (1866-1907), pontilhada pela flauta. Em desacordo com o
título, a compassada Sambita é uma marinera de entonação andaluza. Repleta
de rodopios bordados ao violão, valseia a peruana Idolatria, de Oscar Molina Pena, da velha-guarda do criollismo limenho. Do venezuelano Luis
Laguna (1926-1984), o merengue El
Saltarín, picotado em compasso 5/8, incita o bailarico, quase em pzicatto,
do bandolim. De Valdeos, do Los Cuatro, Sea
Point , requebra entre o samba e o sotaque percussivo de Cabo Verde. E o
périplo retorna ao País, na ancestral polca Soluçando,
do trombonista Candinho (1879-1960), num entrelaçar de estética e latitudes.
Fonte : Tárik de Souza (CartaCapital)
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