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segunda-feira, 2 de março de 2015

VALÉRIA LOBÃO – NOEL ROSA, PRETO E BRANCO (Toca da Raposa)

Espantoso prodígio autoral, cuja obra visionária foi forjada entre os 19 e os 26 anos, idade de sua morte precoce, Noel Rosa (1910-1937) tem 22 de suas composições revisitadas no segundo álbum-solo da cantora carioca Valéria Lobão. A dualidade do título e o rigor gráfico do CD duplo Noel Rosa, Preto e Branco completam-se numa proposta de desnudamento: 22 pianistas revezam-se em duetos com a solista, de voz límpida e aguda, também versada em vocalises e scats. Além de ter participado de um musical  (Cantares em Desafino ) e uma peça (Farra de Atores), Valéria adestrou-se num conjunto vocal , o Equale, dos discos Expresso Gil (1999) e Um Gosto de Sol (2004), dedicados às obras de Gilberto Gil e Milton Nascimento. Depois  de uma estreia-solo reluzente no álbum Chamada (2011), pré-selecionado ao Grammy Latino, ela esquadrinha o repertório de Noel (e parceiros) num longo plano-sequência temático, onde convergem clássicos e pérolas obscuras.

Entre estas há uma inusitada canção caipira, Sinhá Ritinha, solenizada pelas teclas de Roberto Fuchs, e duas emboladas, Minha Viola, pavimentada pelo piano e percussão no instrumento de Leandro Braga, e Não Brinca Não,  com Cláudio Andrade e um dos convidados vocais , Marcelo Preto , do grupo Barbatuques. O Duo Gisbranco, das pianistas Bianca Gismonti e Cláudia Castelo Branco, sincopa o corrosivo pela Décima Vez , com adesão da cantora Mariana Baltar . João Donato adiciona molejo ao impressionismo sombrio de Cor de Cinza, e Cliff Korman pincela texturas jazzísticas no sarcástico Positivismo. As setas certeiras de Filosofia (Quanto a você da aristocracia / que tem dinheiro / mas não compra a alegria) ganham moldura erudita de Itamar Assiére, atestado da permeabilidade de Noel e do destemor estético de Valéria.

Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo abaixo:



Fonte : Tárik de Souza (CartaCapital)

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