
Espantoso prodígio autoral, cuja obra visionária foi forjada
entre os 19 e os 26 anos, idade de sua morte precoce, Noel Rosa (1910-1937) tem
22 de suas composições revisitadas no segundo álbum-solo da cantora carioca
Valéria Lobão. A dualidade do título e o rigor gráfico do CD duplo
Noel Rosa, Preto e Branco completam-se
numa proposta de desnudamento: 22 pianistas revezam-se em duetos com a solista,
de voz límpida e aguda, também versada em vocalises e scats. Além de ter
participado de um musical (
Cantares em Desafino ) e uma peça (
Farra de Atores), Valéria adestrou-se
num conjunto vocal , o Equale, dos discos
Expresso
Gil (1999) e
Um Gosto de Sol
(2004), dedicados às obras de Gilberto Gil e Milton Nascimento. Depois de uma estreia-solo reluzente no álbum
Chamada (2011), pré-selecionado ao
Grammy Latino, ela esquadrinha o repertório de Noel (e parceiros) num longo
plano-sequência temático, onde convergem clássicos e pérolas obscuras.
Entre estas há uma inusitada canção caipira, Sinhá Ritinha, solenizada pelas teclas
de Roberto Fuchs, e duas emboladas, Minha
Viola, pavimentada pelo piano e
percussão no instrumento de Leandro Braga, e Não Brinca Não, com Cláudio
Andrade e um dos convidados vocais , Marcelo Preto , do grupo Barbatuques. O
Duo Gisbranco, das pianistas Bianca Gismonti e Cláudia Castelo Branco, sincopa
o corrosivo pela Décima Vez , com
adesão da cantora Mariana Baltar .
João Donato adiciona molejo ao impressionismo sombrio de Cor de Cinza, e Cliff Korman pincela texturas jazzísticas no
sarcástico Positivismo. As setas
certeiras de Filosofia (Quanto a você
da aristocracia / que tem dinheiro / mas não compra a alegria) ganham moldura
erudita de Itamar Assiére, atestado da permeabilidade de Noel e do destemor
estético de Valéria.
Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo abaixo:
Fonte : Tárik de Souza (CartaCapital)
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