Há algo especial sobre um álbum solo. É uma oportunidade
para ouvir um artista tocar, viver e respirar através de sua música,
desimpedido da demanda de ter outros músicos no palco. Este é, certamente, o caso de “Solo”, a nova gravação do pianista Fred Hersch. O álbum foi
gravado ao vivo em 2014 no Windham Civic
Centre Concert Hall, em Windham, Nova York, uma antiga igreja datada de 1826.
O projeto tem sete faixas, que se elevam sônicamente, espiritualmente e
artisticamente. Hersch nunca se apressa para fazer seus pontos. Os ataques às
teclas fluem como regato dentro de um potente rio. Cada nota e acorde claro,
pleno de prazer, pesaroso e verdadeiro. Sua miscelânea de Antônio Carlos Jobim,
“Olha Maria/O Grande Amor”, repica com confiança e nuance. Sua pegada em
“The Song Is You” de Jerome Kern transforma
esta joia em tempo agitado em uma prece
lenta e tranquila. Ele assenta desnuda a quase desanimada “Both Sides Now” de Joni Mitchell, expondo a fragilidade do
amor, a arte da existência. É a fragilidade que Hersch conhece bem. O pianista,
que fará 60 anos em Outubro, tem
suportado pessoal e artisticamente uma batalha pública contra o HIV desde o início
dos anos 90. Ele seria o primeiro a dizer que é um milagre que ainda esteja
entre nós. Eu diria que deveríamos estar muito gratos por ter um artista de
raro talento e discernimento conosco.
Track
Listing: Olha Maria/O Grande Amor; Caravan; Pastorale (For Robert Schumann);
Whirl (For Suzanne Farrell); The Song Is You; In Walked Bud; Both Sides Now.
Fonte :
FRANK ALKYER (Downbeat)
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