Inspirados na escrita depurada e seminal do maestro
pernambucano Moacir Santos (1926-2006), o saxofonista Daniel Nogueira e o
baixista Vinicius Pereira montaram, em 2005, uma big band para difundir sua obra. Nascia o projeto Coisa Fina (cujo
nome foi encurtado no novo CD), em plena cena paulistana do Movimento
Elefantes, ao lado de outros coletivos tangidos por instrumentos de sopro, como
as bandas Urbana , Savana, Jazzco e Da Santa, o Projeto Meretrio, a Orquestra
HB e o Grupo Comboio. Em 2010, o Coisa Fina lançava o CD Homenagem ao Maestro Moacir Santos, com nove releituras de
composições do homenageado, também um exímio arranjador, saxofonista e
professor de artífices da bossa nova como Roberto Menescal, Sérgio Ricardo,
Baden Powell, Nara Leão e Sérgio Mendes.
Apenas a última faixa do novo disco é de Moacir, Amalgamation, valsa descompassada sob
sopros adejando. “Nela, a base nunca estabelece um padrão comum, está sempre em
movimento, alterando e enriquecendo a melodia e os contracantos”, elogia o pianista
Benjamim Taubakin no encarte. Outras assinaturas consagradas povoam o roteiro,
como a do chorão Jacob do Bandolim, cujo assanhado, de 1961, crivado de meneios
rítmicos, convida a um baile de gafieira. Temerária escolha pelas regravações
em catadupa, Asa Branca (Luiz Gonzaga /Humberto Teixeira), renasce em modo
menor com intensa alternância de climas e espaços franqueados a improvisos. De
Theo de Barros e Paulo César Pinheiro, Angola
requebra entre África e o Caribe. Ancorada num ostinato de baixo e piano, Alforria (Henrique Band) não cessa de
fomentar inesperadas combinações de timbres, tal como o baião Fulô do Araçá (Marcelo Vítor), na
encruzilhada entre o agreste e o urbano. Coisas refinadas.
Fonte : CartaCapital (Tárik de Souza)
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