A vida do saxofonista Charles Lloyd tem sido uma impetuosa, complexa
e quase mítica jornada— em torno do globo e espiritualmente falando— como
evidenciado pelo novo documentário “Arrows Into Infinity”, lançado agora em Blu-ray
e DVD. Criado pela esposa de Lloyd, a pintora/cineasta Dorothy Darr e o cineasta Jeffery Morse, o filme não retira vigor,
explorando profundamente a carreira de um dos mais respeitados artistas da
música improvisada. É um prazer ver e ouvir Charles falar sobre sua formação em
Memphis, seu amor por Charlie Parker, seu trabalho com todo mundo de Howlin’ Wolf a Chico Hamilton a Cannonball
Adderley, seu convite para se apresentar na União Soviética, seu retiro em Big Sur para fugir do negócio da música
e sua explanação porque retornou. Lloyd é mestre em contar estórias—inteligente,
como um xamã, e criterioso. Ele discorre sobre sua primeira noite em Nova York
nos anos 1950, e indo para o Birdland
para assistir seu amigo de curso secundário, o trompetista Booker Little: “A
primeira coisa que saiu da sua boca foi, ‘Onde você está?’ .Booker estava
trabalhando no Birdland naquela noite
e eu disse, ‘Eu estou no outro lado da rua no Alvin [Hotel].’ Booker disse, ‘Não, você
não está . Pegue suas coisas. Você ficará comigo’. Ele falou comigo por longas
horas durante a noite, uma espécie de sintonização para mim, porque eu estava
pronto para pular na pista rápida. Eu
estou em Nova York , homem. E ele disse, ‘Não é sobre isto. É sobre caráter’. E
ele tinha 22 anos. Ele se foi um ano depois . Ele possuía uma alma realizada”. Outras vozes no filme adicionam
profundidade e ajudam a examinar o
extenso encanto de Lloyd e sua visão musical. Herbie Hancock amorosamente
relembra o período de uma semana com Lloyd suplementando um jovem pianista
chamado Keith Jarrett. Jack DeJohnette pinta
um belo quadro , que acerta em cheio na canção “Sombrero Sam” , bem como no caótico
universo da vida e arte durante os anos 60 do século passado. Os artistas de
rock Robbie Robertson da The Band e John Densmore do The Doors
dão um senso de como a arte de Lloyd cruzou com o mais amplo mundo da música
popular. Há uma cena tocante na qual os velhos amigos, Lloyd e Ornette Coleman,
divertem-se na piscina. Há muito do que se desfrutar neste filme. Para os
antigos fãs que amam a música de Lloyd, “Arrows
Into Infinity” adicionará outro nível àquele amor. Ele não é apenas um músico. Ele
é um artista— e um papel modelo. No fim do filme, o saxofonista faz uma declaração
que dá o senso do que ele aprendeu: “ Para viver sua vida com criatividade não
é assim tão fácil. E ainda, quando você integra uma comunidade de pessoas que
está disposta a seguir adiante com o
navio...cara. Os ventos da beleza estão sempre soprando. Nós devemos colocar
nossas velas em ponto elevado” . Isto estabelece como este filme é poderoso.
Fonte :
FRANK ALKYER (JazzTimes)
Nenhum comentário:
Postar um comentário