Um dos artífices da soul music, o pianista, saxofonista e
compositor Ray Charles Robinson (1930-2004) também transitou pelo jazz, rock,
country e blues, além de reinventar o canto a partir da aspereza de quem irradia
emoções sem o filtro do comedimento. Fundado como um trio em 2006, o quarteto
paulista Tritono Blues uniu-se ao ídolo americano, de quem gravou três
composições logo no disco de estreia, Groovin,
em 2008, reeditado em 2013. No mesmo ano, sairia um álbum autoral (Mojito do Bom), antes do projeto do
disco inteiro dedicado ao repertório entronizado por Ray Charles. André Carlini
(gaita, backing vocals), Bruno
Sant´Anna (voz, percussão e kazzoo), André Youssef (piano, teclados, acordeón e
backing vocals) e Edu Malta (baixo)
reciclam em seu inventário a precursora e dissonante I Got a Woman, de 1954, que cintilava no álbum de estreia do rei do
Rock Elvis Presley.
O Tritono Blues
injeta comentários instrumentais em êxitos do homenageado, como na sedosa I Can´t Stop Living You, de Don Gibson, seccionada por um acordeón Zydeco ao estilo
sulista e percussão latina de cajón. A reiterativa Mary Ann, do próprio Ray, seu terceiro petardo a galgar as paradas,
é revestida por gaitas e sopros. Guitarrista brasileiro destacado na cena do
blues americano, Igor Prado reborda Take
The Tailfeather, enquanto o standard Unchain
My Heart vem cadenciado por um riff funkeado nos teclados. Réplica do
cantor às recomendações de internação, quando sentenciado por uso de drogas, I Don´t Need no Doctor conjuga afronta e
balanço nos coros de resposta, elemento rítmico igualmente crucial no bólido Hit The Road Jack. O megaclássico Georgia On My Mind ganhou tônus
jazzístico, neste denso tributo, lapidado entre a reverência e a reinvenção.
Fonte: Tárik de Souza (CartaCapital)
Nenhum comentário:
Postar um comentário