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segunda-feira, 22 de agosto de 2016

LOURENÇO REBETEZ – O CORPO DE DENTRO


Embora também reconhecido como pianista, o instrumento do jazzista Duke Ellington (1899-1974) era a orquestra. Ele compunha pensando no desempenho de cada músico, e como estes sons se organizariam numa polifonia, quase nunca simétrica. No Brasil, pode-se creditar procedimento semelhante a maestros de caligrafia autoral acendrada como Tom Jobim e Moacir santos. Dentro dessa proposta estética, o guitarrista paulista Lourenço Rebetez estreia a bordo do estruturalista O Corpo de Dentro, produção de outro guitarrista, o vanguardista americano Arto Lindsay.

Formado em composição de jazz na escola Berklee, em Boston, nos EUA, Lourenço evoca Ellington em entrevista ao historiador Zuza Homem de Mello, no texto de apresentação. “Cada instrumento não atua só como suporte para a melodia principal, tem identidade melódica própria”. E transpira Moacir Santos logo no contraplano de sopros e percussão da faixa Imã.

Esgrimindo a harmonia como “um tecido de diversas melodias”, ao evitar a habitual exposição do tema seguida de solos, Lourenço erige módulos semoventes (Sombrero) ou cerze nas cordas universos de naipes paralelos (Ozu ). No seu painel de influências do jazz também cintilam o muralista Gil Evans, eleito de Miles Davis, e “ o desenvolvimento de tensão, a topografia do arranjo”, do saxofonista Wayne Shorter.

Mas, sobretudo, sua sintaxe apoia-se nos ritmos do candomblé, aguerê, barravento, vassi, opanijé (Interlúdio), lições do baiano Letieres Leite, da Orkestra Rumpilezz. Do confronto de tessituras do elucidativo O Avesso das Coisas, a alternância de climas conduzida pelos líricos arabescos do guitarrista em Pontieva, assolada por rufos de bateria, o disco de Lourenço não se exaure na linearidade. Abre-se a novas interpretações a cada audição.

Faixas

1. Abertura (O Avesso das Coisas)

2. Ozu

3. O Mais Profundo é a Pele

4. Interlúdio 1 (Opanijé)

5. Imã

6. Pontieva

7. Birjand

8. Interlúdio 2 (Supernova)

9. Punjab

10. Sombrero

 

Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo a seguir:

 


 

Fonte: Tárik de Souza (CartaCapital)

 

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