“O choro, cuja introdução é um verdadeiro foxtrote,
apresentando no seu decorrer combinações da música popular ianque. Não nos
agradou”. No longínquo 1928, Pixinguinha foi alvejado por uma das primeiras
acusações de influência do jazz pelo crítico Cruz Cordeiro, na revista Phono Arte, a propósito da gravação
instrumental de Carinhoso, erigido em
posterior hino da MPB ortodoxa. Quase 90 anos depois, além de Carinhoso, Concerto para Pixinguinha, estrelado pela cantora de da vanguarda
paulista Vânia Bastos e o baixista Marcos Paiva (da ode ao samba-jazz Meu samba no Prato – Tributo A Edison
Machado) dilatam ainda mais as fronteiras musicais desbravadas pelo
fabuloso maestro, orquestrador, compositor flautista e saxofonista. ”Nunca tive
oportunidade de me debruçar sobre a obra do mestre e ver toda a riqueza”,
exaltou Vânia, no texto de apresentação, em uníssono com Marcos. “A energia
dele tocando se compara à de grandes instrumentistas que transformaram o mundo,
como Miles Davis e John Coltrane”, comparou ele.
O roteiro intercala números instrumentais, onde os
improvisos do Marcos Paiva Quarteto (mais César Roversi, sopros, Jônatas
Sansão, bateria, e Nelton Essi, vibrafone) redimensionam temas menos conhecidos
do homenageado. Como o saltitante São
Lourenço no Vinho, crivado de síncopas, o coloquial Cochichando calcado no diálogo entre o baixo e vibrafone, e Recordações, flambado pelo lamento do
saxofone. Vânia pontifica altissonante, do protesto de Mundo melhor e o lirismo de Lamentos,
ambas letras de Vinícius de Moraes, aos requebros do partido –alto Samba de Fato (com Cícero de Almeida).
Ancorada no pontilhismo ressoante do vibrafone, ela decreta, pelos versos de Hermínio
Bello de Carvalho : Isso é que é viver /
contando com a poesia ao seu lado.
Fonte : Tárik de Souza (CartaCapital)
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