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domingo, 18 de setembro de 2016

KEITH JARRETT – CREATION


Passaram-se quatro anos desde que o pianista Keith Jarrett—um artista ECM desde o início dos anos 70— lançou um disco solo, “Rio (2011) ”. Embora mais consistentemente animado, de natureza otimista refletida por mudanças similares na vida de Jarrett, não foi uma gravação que, por exemplo, foi  classificada tão qualificadamente quanto “Concerts: Bregenz / Munich”, lançado em 2013, em sua inteiramente primeira vez em CD desde seu original lançamento em vinil em 1982.

Embora o bem documentado encontro de Jarrett com a Síndrome da Fadiga Crônica (CFS em inglês) no meado dos anos 90 tenha dado uma pausa na lendária habilidade do pianista para apresentar ininterruptas performances em uma espécie de trabalhos de Hércules com força e duração —performances documentadas em álbuns como o seu ainda popular Köln Concert de 1975—ele começou, desde o seu retorno à performance de piano solo, apresentando peças curtas em vez das mais longas, contínuo esboço de forma vinda do éter. Ainda, a despeito de alguns fãs prenderem-se a dias de lançamentos como a sólida caixa “Sun Bear Concerts (1978) , que documentou cinco performances no Japão de 1976, algumas das suas gravações pós CFS, há boas estabelecidas ao longo do seu trabalho dos anos 70, sendo um exemplo “Testament -Paris / London” de 2009.

E assim, com Jarrett chegando aos 70 anos, ele está lançando dois álbuns: um, uma nova série clássica com gravações de concertos de piano de Béla Bartók e Samuel Barber (ao lado de um curto número bisado de um solo show, não datado, em Tokyo); o outro, uma gravação de piano solo, porém, em décadas desde que o pianista parou as gravações de solo e em grupo em estúdio, uma gravação ao vivo como nenhuma outra em sua discografia. A adequadamente intitulada “Creation” é composta de nove peças improvisadas separadas de seis diferentes performances em quatro cidades e cinco salas para concerto, e o que é mais marcante nestas gravações é uma espécie de sentimento performance solo pré CFS; não é absolutamente ininterrupto e há ocasionais breves momentos de silêncio entre as peças , simplesmente intituladas "Part I" até "Part IX" (embora cada peça indique também onde e quando cada uma foi gravada), mas o que Jarrett fez foi encontrar improvisações que o faça sentir como se elas tivessem vindo de um similar trabalho mental—um pensamento similar musical — e as sequências são tais que dão a impressão de uma simples e contígua performance em 73 minutos.

É Jarrett o responsável. Diferente da maioria das gravações da ECM, que são conduzidas pelo líder e principal produtor do selo, Manfred Eicher, “Creation” foi conduzida pelo pianista, que assume o título de produtor desta vez com Eicher listado como produtor executivo. Este conceito de extração de múltiplas performances para criar um todo novo é uma aventura revigorada para Jarrett, e algo que levantou algumas questões—dúvidas mesmo. Porém, aguardar com interesse a gravação deste álbum, não será provavelmente desapontador. O que dizer para aqueles que têm, curiosamente, escrito de forma despreocupada sem ouví-lo antes? Eles deveriam ficar mais que prazerosamente surpresos.

Em anos recentes, as performances solo de Jarrett, a despeito de sempre iniciar como se fosse uma lousa vazia, vem a ser um pouco previsível: há sempre um punhado de improvisações entalhadas mais parecidas com música clássica contemporânea que qualquer coisa semelhante à tradição do jazz; uma amostragem de algo que sugere mais fortemente o amor de Jarrett pelo gospel e música tradicional norte-americana e invariavelmente peças que, vindo do blues, sente como manifestamente jazz. E confundindo com estas várias improvisações de esparsos toques que fazem do silêncio um parceiro musical muito importante ao lado de divertidas eclosões de virtuosismo, qualidades (e sabendo precisamente quando usá-las) responsáveis por fazer Jarrett um dos mais importantes pianistas da metade do século passado e as primeiras décadas deste.

Com “Creation”, entretanto, Jarrett evita todos o previsíveis constructos com um programa que é largamente melancólico e meditativo, pesadamente baseado em construções de acordes e melodias dispersas, e a absoluta antítese do manifesto virtuosismo......ainda que só um pianista com excepcional maestria em seu instrumento como Jarrett poderia criar uma suíte tal como esta —uma suíte impecavelmente dominada, onde as dinâmicas vão do mais doce  pianíssimo ao mais dramático fortíssimo. Há breves momentos onde Jarrett deixa seu virtuosismo brilhar, tal como no início da "Part V", mas é só por um breve momento visto que o pianista assenta o álbum em pungência e passagens líricas.

É em momentos como estes—momentos de imperturbável beleza, onde Jarrett prova ser capaz de delinear a forma da canção em lugar nenhum, que obriga a fazer ao mais saturado fã de Jarrett realizar aquilo que, com “Creation”, mostra que seus melhores anos estão longe de ficar para trás, gravadas como estas cinco performances foram dentro dos passados 12 meses. Ele deve, não demora muito, ser capaz de criar uma espécie de forma de performances “Creation”, talvez haja valor no estratagema do estúdio, onde um artista pode examinar hora sobre hora de performance ao vivo e escolher peças que irão juntas e ajustadas criar seus próprias bravias, meditativas, belas e absolutamente harmoniosa totalidade.

Faixas: Part I (Toronto, Roy Thomson Hall, June 25, 2014); Part II (Tokyo, Kioi Hall, May 9, 2014); Part III (Paris, Salle Pleyei, July 4, 2014); Part IV (Rome, Auditorium Parco della Musica, July 11, 2014); Part V (Tokyo, Kioi Hall, May 9, 2014); Part VI (Tokyo, Orchard Hall, May 6, 2014); Part VII (Rome, Auditorium Parco della Musica, July 11, 2014); Part VIII (Rome, Auditorium Parco della Musica, July 11, 2014); Part IX (Tokyo, Orchard Hall, April 30, 2014).

Fonte: John Kelman (AllAboutJazz)

 

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