
Embora o bem documentado encontro de Jarrett com a Síndrome
da Fadiga Crônica (CFS em inglês) no meado dos anos 90 tenha dado uma pausa na
lendária habilidade do pianista para apresentar ininterruptas performances em
uma espécie de trabalhos de Hércules com força e duração —performances
documentadas em álbuns como o seu ainda popular Köln Concert de 1975—ele começou, desde o seu retorno à performance
de piano solo, apresentando peças curtas em vez das mais longas, contínuo
esboço de forma vinda do éter. Ainda, a despeito de alguns fãs prenderem-se a
dias de lançamentos como a sólida caixa “Sun Bear Concerts (1978) , que
documentou cinco performances no Japão de 1976, algumas das suas gravações pós CFS,
há boas estabelecidas ao longo do seu trabalho dos anos 70, sendo um exemplo
“Testament -Paris / London” de 2009.
E assim, com Jarrett chegando aos 70 anos, ele está lançando
dois álbuns: um, uma nova série clássica com gravações de concertos de piano de
Béla Bartók e Samuel Barber (ao lado de um curto número bisado de um solo show,
não datado, em Tokyo); o outro, uma gravação de piano solo, porém, em décadas
desde que o pianista parou as gravações de solo e em grupo em estúdio, uma
gravação ao vivo como nenhuma outra em sua discografia. A adequadamente
intitulada “Creation” é composta de nove peças improvisadas separadas de seis
diferentes performances em quatro cidades e cinco salas para concerto, e o que
é mais marcante nestas gravações é uma espécie de sentimento performance solo
pré CFS; não é absolutamente ininterrupto e há ocasionais breves momentos de
silêncio entre as peças , simplesmente intituladas "Part I" até
"Part IX" (embora cada peça indique também onde e quando cada uma foi
gravada), mas o que Jarrett fez foi encontrar improvisações que o faça sentir
como se elas tivessem vindo de um similar trabalho mental—um pensamento similar
musical — e as sequências são tais que dão a impressão de uma simples e
contígua performance em 73 minutos.
É Jarrett o responsável. Diferente da maioria das gravações
da ECM, que são conduzidas pelo líder e principal produtor do selo, Manfred
Eicher, “Creation” foi conduzida pelo pianista, que assume o título de produtor
desta vez com Eicher listado como produtor executivo. Este conceito de extração
de múltiplas performances para criar um todo novo é uma aventura revigorada
para Jarrett, e algo que levantou algumas questões—dúvidas mesmo. Porém,
aguardar com interesse a gravação deste álbum, não será provavelmente
desapontador. O que dizer para aqueles que têm, curiosamente, escrito de forma
despreocupada sem ouví-lo antes? Eles deveriam ficar mais que prazerosamente
surpresos.
Em anos recentes, as performances solo de Jarrett, a
despeito de sempre iniciar como se fosse uma lousa vazia, vem a ser um pouco
previsível: há sempre um punhado de improvisações entalhadas mais parecidas com
música clássica contemporânea que qualquer coisa semelhante à tradição do jazz;
uma amostragem de algo que sugere mais fortemente o amor de Jarrett pelo gospel
e música tradicional norte-americana e invariavelmente peças que, vindo do blues,
sente como manifestamente jazz. E confundindo com estas várias improvisações de
esparsos toques que fazem do silêncio um parceiro musical muito importante ao
lado de divertidas eclosões de virtuosismo, qualidades (e sabendo precisamente
quando usá-las) responsáveis por fazer Jarrett um dos mais importantes
pianistas da metade do século passado e as primeiras décadas deste.
Com “Creation”, entretanto, Jarrett evita todos o
previsíveis constructos com um programa que é largamente melancólico e
meditativo, pesadamente baseado em construções de acordes e melodias dispersas,
e a absoluta antítese do manifesto virtuosismo......ainda que só um pianista
com excepcional maestria em seu instrumento como Jarrett poderia criar uma
suíte tal como esta —uma suíte impecavelmente dominada, onde as dinâmicas vão
do mais doce pianíssimo ao mais
dramático fortíssimo. Há breves momentos onde Jarrett deixa seu virtuosismo
brilhar, tal como no início da "Part V", mas é só por um breve
momento visto que o pianista assenta o álbum em pungência e passagens líricas.
É em momentos como estes—momentos de imperturbável beleza, onde
Jarrett prova ser capaz de delinear a forma da canção em lugar nenhum, que
obriga a fazer ao mais saturado fã de Jarrett realizar aquilo que, com “Creation”,
mostra que seus melhores anos estão longe de ficar para trás, gravadas como
estas cinco performances foram dentro dos passados 12 meses. Ele deve, não
demora muito, ser capaz de criar uma espécie de forma de performances “Creation”,
talvez haja valor no estratagema do estúdio, onde um artista pode examinar hora
sobre hora de performance ao vivo e escolher peças que irão juntas e ajustadas
criar seus próprias bravias, meditativas, belas e absolutamente harmoniosa
totalidade.
Faixas: Part I (Toronto, Roy Thomson Hall, June 25, 2014);
Part II (Tokyo, Kioi Hall, May 9, 2014); Part III (Paris, Salle Pleyei, July 4,
2014); Part IV (Rome, Auditorium Parco della Musica, July 11, 2014); Part V
(Tokyo, Kioi Hall, May 9, 2014); Part VI (Tokyo, Orchard Hall, May 6, 2014);
Part VII (Rome, Auditorium Parco della Musica, July 11, 2014); Part VIII (Rome,
Auditorium Parco della Musica, July 11, 2014); Part IX (Tokyo, Orchard Hall, April
30, 2014).
Fonte: John Kelman (AllAboutJazz)
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