Mesmo os mais especiais e consistentes intérpretes podem ter
espaços ondes eles arrebatam uma espécie de inspirado suporte e segurança para
o próximo nível. Para um atleta como Michael Jordan, este espaço foi o Madison Square Garden. Para um
igualmente dinâmico artista de jazz como Miles Davis, nós estamos falando do Newport Jazz Festival.
As métricas desta caixa são bastantes para levar seu
andamento à excitação: quatro discos abarcando 20 anos, quatro cidades e dois
continentes e apresentando aproximadamente quatro horas de música oficialmente
não lançada. Newport, nos últimos anos, veio a ser algo com um festival que
acontece em diversos locais, aqui um eletrificado evento em Novembro de 1973 em
Berlim, com o instrumento de Davis regozijando detonações pós blues e uma
aparição na Suíça em Outubro de 1971 com Keith Jarrett agindo quase como um
colíder. A aparição ao vivo de Davis antes do hiato que vai até o final dos
anos 1970, também está aqui, em “Mtume”, gravada no Lincoln Center. Porém, nós
todos sabemos que o real estardalhaço é sobre: a jam de 1955 em “’Round Midnight” com o solo que salvou a carreira
de Davis, o trabalho do sexteto de Kind
of Blue, em 1958; os trabalhos de 1966 e 67 do segundo grande quinteto, e
uma aparição de Davis, em 1969, na qual ele e seu grupo essencialmente faz um workshop para Bitches Brew.
Tanto quanto o solo de Davis da sua primeira aparição no Newport inscreveu-se em sua lenda, e
levou-o a ser contratado pela Columbia, quando ninguém o queria, é fascinante
notar como imponente ele é, magnífico mesmo. Não é duro imaginar o solo de Davis
sendo transposto para um concerto de trompete clássico, bem como ele tenha
levado 10 anos para compô-lo.
A formação de “The Kind of Blue” deve ter sido a banda
perfeita de Newport: não tão frenética, mas com impecável estilo e
procedimentos bem ajustados. Jimmy Cobb tem uma ótima e completa presença, como
é evidente em sua atuação em “Ah-Leu-Cha”, enquanto John Coltrane, que realmente não pareceu como
uma espécie de sujeito de Newport, está em genial modo de disputa com
Cannonball Adderley ao longo do trabalho, um homem tocando com impressionante
profundidade , que poderia estar na direção certa.
O segundo grande quinteto soa como se estivesse tocando mais
para a posteridade do que para o momento, primeiro em um absoluto fogo de um
trabalho em 1966 e então, fascinantemente, com uma espécie de suíte baseada no conceito
de álbum ao vivo de um trabalho para o próximo ano. A primeira aparição foi no
4 de Julho, e o Tio Sam teria tido um tempo firme tentando juntar esta música; quando
o baterista Tony Williams deseja ir rápido —como ele faz em “Gingerbread Boy”—
estes rapazes estão indo mudar o curso. Summer
of Love é uma performance contínua, um trabalho ao vivo como um organismo
único, com uma versão de “’Round Midnight” que mostra que nós temos que chegar
muito longe de fato. Benvindo ao novo moderno barroco americano amistosamente promovido
ao ar livre.
O festival de 1969 seguiu a rota do rock em grande estilo, e
mesmo o Zeppelin estava lá, mas ninguém
dever ter conhecido os materiais como “Miles Runs the Voodoo Down” e “It’s
About That Time”. Davis, na amplitude de Newport, estava claramente sentindo-o
e, desta forma, não se exibiu de forma extrema no fluxo da música e será que observava
como a coisa se estabelecia? Com o toque da surdina de Davis e ao lado da
provocação coletiva funk da banda, é como se uma versão jazzística de Charon de um mar adjacente e decidido a
tocar. Aqui estava a música para tudo, mas próxima a navegação em navios em
chamas.
Fonte: Colin Fleming (JazzTimes)
Nenhum comentário:
Postar um comentário