No período dos doze meses anteriores, o compositor, artista
eletrônico e virtuoso cornetista, Rob Mazurek, liderou meia dúzia de diferentes
lançamentos. Para a maior parte deles, apresentou diferentes disposições e
formações, desde trabalhos solo a bandas extensas e cada um ganhou bastante superlativos
para sobrecarregar um dicionário de sinônimos. E mais uma vez, Mazurek tem
elevado a barra com a mais impressiva, de longo alcance e singular repertório
com o estonteante “Galactic Parables: Volume 1”. Acompanhado pela recorrente
banda que é “ Exploding Star Orchestra”, esta suíte encomendada expande o conceito
que Mazurek iniciou modelando com “Matter Anti-Matter: Sixty Three Moons of
Jupiter (Rougeart, 2013)”.
Lançado nos calcanhares de uma excursão envolvida em
adrenalina, em 2015, nos Estados Unidos com seu São Paulo Underground and Black Cube SP, “Galactic Parables: Volume
1” documenta performances ao vivo no Sant'Anna
Arresi Jazz Festival na Sardenha e uma performance posterior no Chicago Cultural Center, ambas em 2013.
Inspirado em parte pela música e temas que cobrem um arco de Sun Ra e unido à
história do AACM na cidade natal de Mazurek,
Chicago, o artista tem pintado há muito em telas mais vastas, geográfica, energética
e espiritualmente. Este disco duplo (e três LPs na versão em vinil) continua a
exploração de Mazurek de dimensões e
conceitos que desafiam fronteiras e definições.
As duas apresentações ao vivo são apenas variações
singulares das mesmas cinco composições, "Helmets in Our Poisonous
Thoughts #16 / Awaken the World #41" interpretada como uma miscelânea do
disco italiano, mas se expandindo na performance de Chicago. Damon Locks
providencia o texto e interpretação de alegorias no espírito, na moral do mundo
e escravidão, suportando as composições de Mazurek e adicionando ocasionais
excertos de expressões próprias verbais de Sun Ra. O primeiro disco inicia com
vinte e dois minutos de "Free Agents of Sound", onde a recitação de Locks
constrói uma intensidade, então fornece o meio para o cornet elegíaco de Mazurek,
abrindo a porta para o grupo. O guitarrista Jeff Parker e a pianista Angelica Sánchez
têm momentos solos excitantes, seguidos por um turbilhão de instrumentos e
algumas performances vigorosas do baterista John Herndon e do saxofonista
Matthew Bauder.
Sem pausa, a narrativa de Locks move-se para "Make Way
to the City / The Arc of Slavery #72 (Part 1)", sua voz eletronicamente
manipulada e finalmente dissipando-se como uma transmissão errante de satélite.
Outro solo muito lírico de Sánchez guia a peça de forma que ela transita para
algo mais parecido com uma abstração de Cecil Taylor. O cornet de Mazurek rosna
sua introdução, mas seu toque em toda a parte é algo como do seu melhor; entonações
puras e lancinantes, com menos organização eletrônica do que em alguns dos seus
recentes trabalhos. "The Arc of Slavery #72 (Part 2)" inicia como uma
valsa transportada pelo ar com uma firmeza que submerge a conflagração
construída. Após uma particularmente inspirada leitura, a banda ampliada
incrementa o clímax emocional em "Helmets in Our Poisonous Thoughts #16 /
Awaken the World #41", seguido pelo calypso exótico e eletrônico de "Collections
of Time", que encerra o primeiro disco com o belo e emocionante cornet .
O segundo disco exclui o tecladista do São Paulo Underground , Guilherme Ganado e seu trio, o companheiro percussionista
Mauricio Takara , bem como baterista/percussionista do Chicago Underground ,Chad Taylor. No trabalho com o Chicago, a flautista e antiga
colaboradora de Mazurek, Nicole Mitchell, adiciona uma distinta variação nestas
versões das composições. Junto ao às vezes resplandecente e debulhadora
guitarra de Parker, as peças tomam uma nova dimensão, embora mantendo a
dificuldade do equilíbrio entre improvisações avant-garde, balanços orientados pelo rock, eletrônica, narração e
lancinantes orquestrações impressionistas.
“Galactic Parables: Volume 1” sobrepuja qualquer coisa que Mazurek
tenha feito até esta data. Trepidando as escovinhas com desalinho, intensidade
e estimulantes improvisações e melodias deslumbrantes, que são combinadas, quebrada
à parte e, ao final, trasladadas para belos movimentos ampliados. Mazurek e
companhia tocam no momento quer em profundas passagens calmas ou em expedições
não estruturadas em território discrepante. Esta é arte
excitante e espontânea, agitada, movimentando-se e recompensando além das
expectativas. Oferece abundantes satisfações para alguém disposto a aceitá-la
em seus próprios termos.
Faixas: Disco 1: Free Agents of Sound; Make Way to the City
/ The Arc of Slavery #72 (Part 1); The Arc of Slavery #72 (Part 2); Helmets in
Our Poisonous Thoughts #16 / Awaken the World #41; Collections of Time. Disco
2: Free Agents of Sound; Collections of Time; Make Way to the City; The Arc of
Slavery #72; Helmets of Our Poisonous Thoughts #16; Awaken the World #41.
Músicos: Rob Mazurek: cornet, eletrônica; Damon Locks:
texto, voz, eletrônica; Angelica Sanchez: piano; Jeff Parker: guitarra; John
Herndon: bateria; Matthew Lux: baixo elétrico; Matthew Bauder: sax tenor,
clarinete; Chad Taylor: bateria (Disco 1); Guilherme Ganado: teclados,
samplers, sintetizador, voz (Disco 1); Mauricio Takara: cavaquinho, eletrônica,
percussão (Disco 1); Nicole Mitchell -flauta, voz (Disco 2).
Fonte: Karl Ackermann (AllAboutJazz)
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