
A tarefa não invejável de esculpir vastamente o catálogo de Frisell
dentro de algo manejável no palco para este concerto em Hamburgo em 2013— e
algo representativo para tirar proveito—desemboca em Gibbs. Expele aquilo que
seria a parte fácil, entretanto. O maior desafio situa-se em delinear arranjos
que consistentemente sublinham os talentos de Frisell, como instrumentista, compositor
e intérprete, enquanto ao mesmo tempo exibe os formidáveis solistas da
orquestra e as amplas dinâmicas. Felizmente, o trabalho anterior de Gibbs com a
orquestra, em similar ambiente “convidado especial”, lhe serve bem. Tocando uma
guitarra estilo “locutor de TV” e estimulado pelo baterista convidado Jeff
Ballard, Frisell é claramente inspirado pelo trabalho manual de Gibbs e o mesmo
é verdadeiro para a orquestra, conforme ela se move através de uma série de
performances apaixonadas, coloridas e exuberantes.
Várias músicas são retiradas de recentes (ou semirrecentes) lançamentos
de Frisell. Entre elas a encantadora da era do suingue “Benny’s Bugle”, que
encontra Frisell, Ballard e o trompetista Ingolf Burkhardt saudando Charlie
Christian e companhia com passo leve e firme despreocupação. Em contraste,
“Throughout”, uma composição seminal de Frisell, alavanca uma explosiva abertura,
poderosamente impulsionada pelo saxofonista tenor Christof Lauer. “Freddy’s
Step”, de Frisell, jubilosamente desfila no encerramento do álbum, é outro
destaque, gerando ondas de funk ritmicamente distorcido. A mais atrativa, plenamente
realizada performance da orquestra, entretanto, é o insinuante tratamento de Gibbs
para o retrato descrito por Evans em “Las Vegas Tang”. Ela passa do murmúrio
para o grito alto do bop , enfraquece
e segue. Em completo contraste às cores orquestrais e golpes, a furtiva atuação
de Frisell e Ballard em “Misterioso” pontua o
concerto com uma maravilhosa evocação, uma espécie de interlúdio Monk-encontra-Raymond
Chandler.
“Misterioso” também aparece no lançamento de Gibbs/Bigband,
”In My View”. Ademais, como a maioria da música arranjada e conduzida por Gibbs
para a sessão em estúdio, o tratamento é coloridamente expansivo, desenhado
para acomodar a impressionante lista dos solistas. Neste caso, o baterista Adam
Nussbaum e os trombonistas Dan Gottshall, Sebastian Hoffmann e Stefan
Lottermann ajudam a infudir a canção de Monk com um crescente solavanco da gabolice
da Crescent City. Em similar moda
dinâmica, a orquestra traz um oscilante movimento hard-bop para “Ramblin’” de Ornette Coleman com o saxofonista alto Peter
Bolte liderando o caminho. Carla Bley está, também, afetuosamente representada via
sua vinheta sombria “Ida Lupino”, e preenchendo a sessão estão quatro
composições diversas de Gibbs que irradiam uma marca misturada de lirismo e
vivacidade.
Fonte: Mike Joyce (JazzTimes)
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